Pelo fim da selvageria no futebol sul-americano
Confusão no Morumbi |
Na última quarta-feira (12/12) no Estádio do Morumbi presenciamos um acontecimento vergonhoso para a história do futebol sul-americano. Discordo dos que dizem que não mancha a conquista do São Paulo, mancha sim, mas a culpa não é dos protagonistas, atletas do clube, e sim da falta de organização, proteção e segurança vistas. A pergunta é: quem pagará a conta? Aparentemente ninguém. É insuportável a realidade do futebol sul-americano. Não devemos buscar culpados, e sim meios de evitar novos incidentes, de forma que não haja novos culpados.
Todo final de campeonato
nacional, conhecidos os clubes qualificados para a Copa Libertadores da
América, começam as especulações de contratações em torno de nomes consagrados
por um jogo mais aguerrido, “raçudos”. O exemplo mais fiel disso são as
especulações de transferências do zagueiro uruguaio Diego Lugano. Grêmio e São
Paulo já demonstraram intenso interesse na contratação do defensor.
Esse pensamento me diz apenas que
a mente dos profissionais do futebol ficou parada no tempo. Não vivemos mais no
escuro das primeiras décadas da Copa. A violência, os acontecimentos inexplicáveis
não explicados já estão distantes. Tudo que acontece no torneio é televisionado
mundo a fora. Os clubes buscam esse tipo de jogador muito mais como forma de
intimidar o adversário do que pela qualidade de seu futebol. Isso é mais um
componente gerador das violências no futebol sul-americano. Os próprios clubes
alimentam a animosidade das torcidas, uma irresponsabilidade.
Outra ação comum é o uso do
argumento de que os brasileiros são prejudicados pelos árbitros, uma vez que,
somos o único país da América que não tem como língua oficial o castelhano
(espanhol). Essa argumentação é patética. A comunicação entre as duas línguas é
perfeitamente adequável sem a necessidade de um atleta para isso. Se os clubes
brasileiros buscarem atletas sul-americanos que seja pela qualidade, não pela
violência travestida como “raça”.
Já passou da hora de acabar essa
animosidade nos torneios sul-americanos. A Conmebol, entidade máxima do futebol
na América do Sul, tem que tomar as rédeas no seu território, tem que ser rígida,
exigir um mínimo de civilidade em todos os lugares em que ocorrerem partidas,
supervisionar de forma ativa todos os eventos relacionados à partida, prestar assistência
antes, durante e após as partidas, e punir severamente aqueles que não
procederem com o devido ajuste. Ela tem que se sobrepor às federações locais,
ganhar autonomia, e bem usar do seu poder. Chega de conviver com os absurdos do
Estádio “Defensores Del Chaco”, no Paraguai onde, ano após ano, registram-se
selvagerias como arremesso de pedras por parte de torcedores no campo. Basta de
confusões absurdas como destruição de ônibus das equipes visitantes, como
aconteceu no Morumbi, e acontece em tantos outros Estádios.
Sobre esse aspecto, observo que a
Conmebol poderia seguir o exemplo da UEFA. Esta não é imune a erros, mas, como
mostram eventos históricos, dá aulas de como organizar um evento. E quem foge
da linha, sofre, e muito com as conseqüências. Como bem sabem os clubes
ingleses. Em 1985, durante a final da Taça dos Campeões da Europa, na Bélgica,
entre Liverpool e Juventus, ocorreram terríveis ataques hooligans que resultaram com 38 mortes e um número indeterminado
de feridos, nomeando este evento como a Tragédia de Heysel. A UEFA interveio e
eliminou todos os clubes ingleses das competições européias durante cinco anos.
Homenagem exposta no Estádio de Heysel, hoje chamado "Rey Balduíno" |
Um acontecimento recente que teve
intervenção da UEFA foi o embate entre as seleções de sub 21 da
Sérvia e da Inglaterra, interrompido por problemas de brigas geradas por racismo. A sérvia terá que mandar os próximos jogos com portões fechados, pagar uma multa de 80 mil euros e ainda terá a ausência do preparador físico Andreja Milunović suspenso por dois anos, tal como o auxiliar técnico Pedrag Katic.
Eventos como o ocorrido em São Paulo na última
quarta-feira precisam acabar, eles tem que ser apurados e os culpados devem ser
punidos com o devido rigor. Não vejo outra saída para o fim dessas
conturbações. Clubes, torcedores e entidades têm que entender que futebol não é
isso que é mostrado nos campeonatos sul-americanos. Um futebol de raça não é
sinônimo de um futebol violento. As entidades têm que incutir isso na mente dos
envolvidos no espetáculo, por um fim às tragédias no futebol da América do Sul.
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