Um início inesperado no Espanhol

Muito reforçados, Real Madrid e Barcelona chegaram para a presente temporada mais favoritos do que nunca ao título espanhol. Conquanto o Atlético de Madrid seja o atual detentor do título sua reformulação não nos permitia colocar os Colchoneros no mesmo patamar da dupla Barça-Real. Todavia, o início da temporada não só confirmou um enorme equilíbrio, como também mostrou a força de outras equipes e um titubeio do atual campeão da UEFA Champions League.



Luis Enrique, Neymar e uma nova defesa: a nova cara do Barça

Qual foi o maior problema do Barcelona (talvez até mesmo o único, em certo tempo) de Pep Guardiola? As dificuldades aéreas de sua defesa, que, não raro, via-se em apuros quando atacada pelo ar. Sob a batuta de Luis Enrique (foto), outro antigo ídolo Culé, esses problemas não mais tem sido vistos, ao menos não com tanta frequência. Contestado quando de sua contratação, Jérémy Mathieu tem dado conta do recado na zaga Blaugrana, que até agora detém a incrível marca de zero gol sofrido em seis jogos.

Na outra ponta, o ataque, o clube continua mostrando um impressionante poderio. Já são 17 gols, média de 2,83 tentos por jogo, a segunda melhor do torneio, três gols atrás do Real. Muito desse desempenho deve-se ao fator Neymar, que, muito mais confortável no campo do que jamais estivera sob o comando de Tata Martino, tem dialogado excepcionalmente bem com Lionel Messi e tem mostrado o que dele se espera. Já tem seis gols em cinco jogos no Campeonato.

Outro ponto que merece ser ressaltado é a rápida adaptação de Ivan Rakitic ao esquema catalão. Segundo o site Whoscored, o croata tem apresentado um apuramento de 91% de seus passes, o que, considerando o nível de dificuldade de seus passes, muitas vezes longos, demonstram seu enorme impacto na equipe. Além disso, Rakitic é quem mais passa a bola no campeonato, com média de 87 toques por jogo.

Por fim, vale ressaltar a meteórica ascensão de Munir El Haddadi, outro fruto das Canteras do Barça, e de Sandro Ramírez, novas e úteis opções para Luis Enrique. Resta aguardar pela liberação de Luis Suárez e ver qual impacto o uruguaio trará.

Real sofre com a perda de Ángel Di María

Megalomaníaco, Florentino Pérez não ficou satisfeito com a conquista de La Décima e foi ao mercado de transferências, de forma bombástica, como é habitual no clube Merengue. Contestado, Iker Casillas ganhou nova sombra: Keylor Navas, arqueiro de excelentes reflexos e que vive o melhor momento de sua carreira.

Apesar disso, foi o meio-campo o setor do time do treinador Carlo Ancelotti que se viu mais modificado. Saíram Xabi Alonso e Ángel Di María e entraram Toni Kroos e James Rodríguez (foto). Se o alemão tem sido um perfeito sucesso até o momento, ditando o ritmo da equipe, o colombiano ainda não conseguiu mostrar o desempenho dele esperado e, mais do que isso, não tem conseguido impor a movimentação e intensidade de jogo que o argentino, seu antecessor, alcançava.

Em função dessa necessária adaptação à uma nova formação, o time tem oscilado. Embora tenha conseguido golear com autoridade Deportivo La Coruña e Elche, também perdeu para o rival Atlético (no Santiago Bernabéu) e para a Real Sociedad. Talento não falta a James, mas suas características são diferentes das de Di María e algum esforço está sendo feito para que o craque se encaixe e o Real alcance seu potencial máximo.

Atlético sofre modificações, mas segue muito forte

Do time campeão espanhol na temporada passada, o treinador Diego Simeone não conta mais com a segurança do goleiro Thibaut Courtois, com o poder de fogo de Diego Costa, David Villa e Adrián e com a regularidade de Filipe Luís. Além disso, reservas úteis como Diego, Toby Alderweireld e José Sosa também deixaram a equipe. Essas baixas poderiam demonstrar que a última temporada Colchonera não passara de uma realidade efêmera, de um só ano.

Todavia, o treinador argentino realizou um excepcional trabalho de reconstrução de seu elenco e a equipe segue muito bem. Para o ataque chegaram os velozes e habilidosos Alessio Cerci e Antoine Griezmann (foto), além do poderoso centroavante Mario Mandzukic. A lateral esquerda ganhou duas peças de boa qualidade, Cristian Ansaldi e Guilherme Siqueira e o gol recebeu duas competentes opções, Miguel Ángel Moyá, experiente e ex-Getafe, e Jan Oblak, jovem e ex-Benfica. Além destes nomes, outros como o do atacante Raúl Jiménez chegaram e aumentaram sensivelmente o número de opções de que dispõe Simeone.

Embora Cholo siga jogando a responsabilidade de vencer o campeonato para Barcelona e Real Madrid, as movimentações do time, o bom futebol e seus resultados têm deixado evidente que os Rojiblancos brigarão mais uma vez pelo título nacional.

Valencia, Sevilla e Celta surpreendem

Outrora forças importantes do futebol espanhol, Valencia e Sevilla, há muito não tem mostrado força para brigar pelo título nacional, o que traz tanta surpresa para a qualidade de seu início atual. O clube da Costa do Mediterrâneo foi vendido para Peter Lim, empresário de Singapura, e apostando no treinador português Nuno Espírito Santo, que fez belo trabalho no Rio Ave, na última temporada, tem conquistado resultados importantes e jogado belo futebol.

No momento, destacam-se, individualmente, o atacante Paco Alcácer, artilheiro da equipe, os meias André Gomes e Dani Parejo, que tem se mostrado excelentes criadores de jogo e também bons marcadores e o zagueiro Nicolás Otamendi.
Já o clube andaluz, que perdeu Rakitic para o Barça, fez contratações baratas e conseguiu muitas peças por empréstimo. No ataque, Carlos Bacca segue sendo um artilheiro implacável e novas opções de velocidade, como Gerard Deulofeu, Aleix Vidal e Denís Suarez, têm dado ótima movimentação à equipe, que segue segura atrás, sobretudo, após fechar em definitivo com Stéphane Mbia. Na criação, a principal esperança é o encaixe de Éver Banega, jogador de conhecida qualidade técnica e bom passe. Atual campeão da Europa League, é time para se manter sob observação.

Se Valencia e Sevilla surpreendem, o que dizer do Celta de Vigo, atual sexto colocado com o mesmo número de pontos do Real Madrid? Sem seu maior talento da última temporada, o brasileiro Rafinha, que retornou ao Barcelona, as principais referências de frente do time passaram a ser o habilidoso mais inconsistente Nolito e o argentino Augusto Fernández, que tem acertado uma média de 91,5% de seus passes por jogo.

Outros jogadores em quem o treinador Eduardo Berizzo – ex-jogador do clube – aposta são os chilenos Fabián Orellana e Pablo Hernández, este ex-comandado de Berizzo, no O’Higgins-CHI, atletas de boa movimentação e habilidade. Com opções leves, o clube galego pode causar muitos problemas durante a temporada.

É certo que dificilmente, o campeonato sairá das mãos de Barcelona, Real Madrid e Atlético de Madrid, mas a disputa por competições europeias promete ser ferrenha e estes clubes demonstraram capacidade para trazer problemas aos três favoritos. Além disso, antes do início do campeonato, quem poderia prever um início tão diferente e inusitado?

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