A nova (velha) Seleção Portuguesa

Fracassada em uma Copa do Mundo que não contou com o melhor Cristiano Ronaldo, limitado fisicamente após desgastante temporada, a Seleção Portuguesa começou, no último final de semana, sua reformulação. Saiu Paulo Bento; chegou Fernando Santos ex-treinador da Seleção Grega e dono de um passado de sucesso no país helênico. Com ele vieram também algumas novidades (algumas delas nada novas, é verdade) iniciando um novo ciclo luso.



O resgate de velhos conhecidos

O trabalho de Fernando Santos começou com uma nota de surpresa. Sempre que se pensa no início de um novo período, buscam-se novas alternativas, inovações de ordem tática, técnica e individual. Nadando contra a corrente e buscando dar estabilidade ao momento conturbado pelo qual a Seleção Portuguesa vive, o novo comandante apostou em velhos conhecidos, figuras de vitoriosas carreiras e capazes de ajudar a trazer de volta a calmaria.

Na defesa central, aos 36 anos e ainda que na reserva, o influente e experiente Ricardo Carvalho está de volta. Seu último jogo pela Seleção havia sido em agosto de 2011, ocasião em que, após desentender-se com o treinador Paulo Bento, abandonou a concentração da equipe. Se não é mais o mesmo zagueiro de Porto, Chelsea e Real Madrid ainda pode ser peça chave para o amadurecimento de outros jogadores e dar estabilidade ao grupo.

No meio-campo, Tiago Mendes (foto, à esq.) é o velho conhecido que retorna. Peça importante no elenco do Atlético de Madrid, na última e vitoriosa campanha do clube, tem em seu passe virtude importante para a remodelação do time e, aos 33 anos, pode servir de referência, tanto para os mais jovens, como também para o talentoso João Moutinho, que não raro decepciona com a camisa portuguesa. Sob o comando de Diego Simeone vive talvez sua melhor fase da carreira. Sua última partida pela Seleção havia sido em 2010 e, em 2011, havia declarado sua aposentadoria da Seleção, mas, a pedido do novo treinador, decidiu voltar.

Já no ataque, Danny (de 31 anos), que, em 2013, havia ficado marcado por ser dispensado da Seleção em função de lesão e logo depois ter atuado por seu clube, também retornou. Ricardo Quaresma, que vive momento extremamente irregular, também aos 31 anos, é outro que foi pouco aproveitado na gestão anterior e, agora, ganhou novas chances.

Apesar de serem velhos conhecidos, estes quatro nomes são novidades e podem ser importantíssimos neste momento, puxando as responsabilidades para si e permitindo o desenvolvimento gradual da nova geração que se apresenta.

Oportunidades a jogadores ascendentes

Se há um reflexo cristalino da excelente temporada que o Sporting CP viveu no último ano é a convocação. Com seis convocados, conseguiu grande superioridade em relação aos rivais Benfica e Porto, que só levaram um atleta ao escrete luso. Se Rui Patrício e Nani são figuras muito conhecidas, Cédric Soares, Adrien Silva e William Carvalho são bem menos e João Mario é praticamente um desconhecido do público mundial. Todos os últimos quatro demonstram grande talento e são esperanças de um futuro vitorioso. Já em sua estreia e antes de sequer tocar na bola, João Mario sofreu pênalti contra a França, no último amistoso da Seleção.

Outra grata novidade é o meio-campo André Gomes (foto), que, ao lado de Dani Parejo, tem sido o esteio de um surpreendentemente bom time do Valencia. Dono de boa dinâmica de jogo e qualidade de passe, já ganhou, inclusive, vaga entre os titulares contra a França.

Além dele, as outras surpresas ficam a cargo de Ivo Pinto, lateral direito do Dinamo Zagreb e que não teve muito destaque em seu país natal e também o já experiente zagueiro José Fonte, de 30 anos,  que vive ótimo momento do Southampton.

Novo conceito tático

Referências, João Pereira, Miguel Veloso e Raul Meireles ficaram fora da primeira convocação de Fernando Santos, seria um sinal de mudança de mentalidade? Talvez sim. Muito burocráticos, os três atletas travavam o jogo muito mais do que realmente ajudavam na criação – exceção feita a Meireles, em alguns momentos.

Sem nenhum volante de forte marcação – com Tiago, André Gomes e João Moutinho preenchendo a meia cancha –, mas com três meio-campistas de boa qualidade de passe, o meio-campo português mostrou-se mais livre e criativo no amistoso contra a França. Se o entrosamento está longe do desejado, o futebol demonstrado pode ter sido o prenúncio de um novo estilo de jogo, com mais toque de bola. Pela direita, Cédric também garantiu mais e melhores avanços em relação a João Pereira.

Já o ataque inicia o novo ciclo da forma como muitos críticos desejavam, sem um “9” típico. Considerando a falta de qualidade de Hugo Almeida, Helder Postiga (estes dois sacados por Santos) e Éder – que claramente destoavam do restante da equipe – a utilização de um ataque sem referência, porém mais móvel, é uma cartada muito promissora, pois dá mais liberdade para seu principal craque – CR7 – e também aumenta a imprevisibilidade do time, com infiltrações e trocas constantes de posições. De início, Danny (foto) foi o escolhido para substituir o atacante de área.

Com tempo e possibilitando o gradual amadurecimento, sobretudo das novas peças do meio-campo, a Seleção Portuguesa pode ganhar uma nova cara, mais atrativa e que potencialize as qualidades do melhor jogador do mundo. Fernando Santos começa bem, pensando os problemas de uma equipe que fracassou e propondo soluções de inegável plausibilidade. Na terça-feira os lusos enfrentam a Dinamarca fora de seus terrenos, boa oportunidade para ver o novo (velho) time português.

Confira os selecionados de Fernando Santos:

Goleiros                                                                            
Anthony Lopes (Lyon), Beto (Sevilha) e Rui Patrício (Sporting)

Defensores
Antunes (Málaga), Bruno Alves (Fenerbahçe), Cédric (Sporting), Eliseu (Benfica), Fábio Coentrão e Pepe (Real Madrid), Ivo Pinto (Dínamo Zagreb), José Fonte (Southampton) e Ricardo Carvalho (Monaco)

Meio-campistas
Adrien Silva, João Mário e William Carvalho (Sporting), André Gomes (Valência), João Moutinho (Monaco) e Tiago (Atlético Madrid)

Atacantes
Cristiano Ronaldo (Real Madrid), Danny (Zenit), Éder (SC Braga), Nani (Sporting), Ricardo Quaresma (FC Porto) e Vieirinha (Wolfsburg)

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