Clássico de Manchester: a vitória do equilíbrio

Papão de títulos ingleses na década de 90 e nos anos 2000, o Manchester United viu, no último domingo, seu rival local, o Manchester City, somar a quarta vitória seguida no clássico. Em período de reconstrução desde a saída do mítico treinador escocês Sir. Alex Ferguson, os Red Devils travaram uma batalha com os rivais que deixou bem clara a diferença das duas equipes. De um lado, o talento individual, apenas, do outro, a coletividade aliada à individualidade; o desequilíbrio frente ao equilíbrio.




Depois de uma temporada pavorosa – considerando os resultados recentes – sob o comando de David Moyes, o Manchester United foi às compras e reafirmou sua grandeza com contratações de indiscutível peso. Estrelas de primeiro nível, como Ángel Di María e Falcao García, chegaram, bem como jogadores que demonstraram bom desempenho na Copa do Mundo, casos de Daley Blind e Marcos Rojo, e, além disso, jogadores muito promissores: o talentoso meia espanhol Ander Herrera e o lateral esquerdo Luke Shaw.

Todavia, algumas peculiaridade podem ser observadas nessas contratações. Os jogadores de topo que chegaram só reforçaram o setor ofensivo do time, o que não deveria ser a prioridade tendo em vista que, de plano, o treinador Louis van Gaal já contaria com o talento de jogadores como Juan Mata, Wayne Rooney e Robin van Persie. Por outro lado, a defesa, que outrora tinha como dupla de zaga os vitoriosos Nemanja Vidic e Rio Ferdinand, recebeu apenas o esforçado Rojo, que, sabidamente, encontra seu melhor desempenho pela lateral esquerda do que pela defesa central.

No meio-campo, Blind e Herrera são jogadores de ótima qualidade, mas não agregam a “pegada” necessária para o setor. A contenção do United tem sido um problema, pois além de causar dificuldades na meia cancha tem deixado os defensores, que já não estão no mesmo nível do restante do time, muito expostos. Provas desse problema são a décima colocação, os 14 gols sofridos em 10 partidas e a nova aposta em Marouane Fellaini.

O clássico de Manchester deixou muito evidente o desequilíbrio do elenco de van Gaal. Como um time que gasta 170 milhões de libras se vê obrigado a escalar, em um jogo de tamanha importância, um lateral direito improvisado (Antonio Valencia, no caso)? Por que o time teve que terminar a partida com um volante improvisado na zaga e com um garoto de 19 anos, sem qualquer experiência, no setor?

Em uma época que tem privilegiado cada vez mais o jogo coletivo, o United preferiu a individualidade e está pagando um alto preço. Sem zagueiros de qualidade e sem jogadores capazes de fazer uma maior proteção do meio, o time tem se mostrado extremamente desequilibrado. Alguns resultados só não têm sido piores em decorrência da grande forma vivida pelo goleiro David de Gea.

Por outro lado, o Manchester City deu um show de equilíbrio em seu rival. Com um setor defensivo muito coeso, com zagueiros firmes, laterais que se alternam nos ataques e com um volante de enorme capacidade de cobertura, o clube mostrou sua superioridade. O curioso é que os Citizens não têm um craque que desequilibre o jogo sozinho. Yaya Touré, o monstro de seu meio-campo e melhor jogador da equipe, é talentoso mas não é um driblador, por exemplo. Seu jogo baseia-se, em grande medida, na produção coletiva da equipe.

O centroavante argentino Kun Agüero, um dos melhores do mundo, também não é essa figura capaz de levar o time nas costas. Se não fosse assistido com a qualidade com a qual seus companheiros o fazem, dificilmente o camisa 16 teria um desempenho tão admirável.

Para mais, outra diferença sensível são as possibilidades que os dois técnicos têm em seus bancos de reservas. Se por um lado Manuel Pellegrini pode alegrar-se ao olhar para trás e ver nomes do aporte técnico de Aleksandr Kolarov, Bacary Sagna, Eliaquim Mangala, Fernandinho, Samir Nasri, Edin Dzeko, dentre outros, van Gaal só vê um amontoado de garotos promissores mas inexperientes e alguns jogadores, ou que não corresponderam às expectativas (casos de Ashley Young e Anderson, por exemplo), ou que já passaram de seu pico de forma e encontram-se, hoje, em uma descendente – como Michael Carrick e Darren Fletcher.

Resta clara a necessidade de o Manchester United observar seu elenco na metade da temporada e avaliar a permanência de algumas peças, bem como a contratação de algumas novas. Seu império nas últimas duas décadas está sofrendo muitos e graves baques e um clube com a sua grandeza, e com o seu poderio econômico (sobretudo com seu novo patrocinador), não pode se dar ao luxo de se ver diminuir dessa maneira.

Do lado azul da cidade, há motivos para festa, pois, além de ser o atual campeão inglês, o time vem se superiorizando ao rival repetidas vezes e tem um time incrivelmente equilibrado e que, no momento, só é inferior ao do Chelsea, líder da competição.

Dinheiro os dois rivais têm, bons treinadores também, no entanto, hoje eles refletem um antagonismo: de um lado o desequilíbrio do United, do outro o equilíbrio do City e, como não é difícil adivinhar, em Manchester o momento é, após incontáveis e imemoriáveis anos, do atual campeão nacional.

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