Ingleses lutam intensamente pela Europa

Não é de hoje que é facilmente perceptível o alto nível da Premier League. Extremamente acirrada, a competição tem mostrado, ano após ano, sua força e competitividade e, nesta temporada, não tem sido diferente. Se a luta pelo título já se bipolarizou, restringindo-se à disputa particular entre Chelsea e Manchester City, a batalha pela classificação para as Copas Europeias está interessantíssima, trazendo consigo cinco fortes candidatos à três vagas, uma na fase de grupos da UEFA Champions League (reservada ao 3º colocado), outra na fase de mata-mata preliminar da mesma competição (4º) e uma na fase de grupos da Europa League (5º).



A evolução coletiva dos Gunners

As oito vitórias do Arsenal nos últimos 10 jogos retratam o bom momento que o clube vive na temporada. Apesar das derrotas para o Southampton no início do ano e para o rival Tottenham, há quase três semanas, o time do treinador Arsène Wenger revelou nesse período uma nova faceta. Antes muito dependente do brilho individual de Alexis Sánchez, os Gunners surpreenderam com um jogo coletivo, agradável de se ver e muito eficiente.

Com esse panorama desenhado, é necessário destacar a forma individual do espanhol Santi Cazorla (foto), que tem jogado grande futebol, sendo vital com muitos gols e assistências, além de ter se firmado como o grande organizador da equipe, ditando seu ritmo e ajudando no ganho de estabilidade. Com a grande forma de Cazorla, Mesut Özil ganhou um papel mais encostado à faixa canhota e voltou de lesão tinindo (marcou três gols e concedeu três assistências em seus últimos seis jogos). Outro que voltou de lesão em boa forma foi o veloz Theo Walcott.

O clube, que terá pela frente o Monaco na UEFA Champions League, terá de lidar com a ausência do participativo Aaron Ramsey, lesionado. Mas, com o aprimoramento do jogo de grupo do Arsenal, sua ausência não deverá acarretar tantos problemas. Nesse período vitorioso dos Gunners, o torcedor teve, ainda, a oportunidade de se familiarizar e apoiar dois jovens que vêm vivendo ótimo momento: o lateral direito Héctor Bellerín, de 19 anos, e o volante Francis Coquelin, de 23.

Em ótimo momento técnico e tático, a individualidade dos atletas do Arsenal também tem brilhado. Com o time coeso, neste momento, o Arsenal apresenta-se como o favorito à vaga direta na UEFA Champions League.

Desequilíbrio e instabilidade nos Red Devils

A grandeza do Manchester United é indiscutível. Grandes jogadores já passaram pelos Red Devils e, sobretudo nos últimos 20 anos, a equipe conquistou grandes glórias. Todavia, desde a saída de Sir. Alex Ferguson, o torcedor tem sofrido – e nessa temporada não tem sido diferente. Apesar dos assustadores gastos com reforços (dos quais o argentino Ángel Di María, comprado por cerca de £ 66MI, foi o mais caro), o clube se reforçou mal.

Com muitas opções ofensivas e enorme escassez de talento defensivo, o United oscila muito na temporada e raras vezes desempenha um futebol cuja qualidade chame a atenção. 

Mesmo contando com jogadores muito instáveis – e nada confiáveis – na defesa,  o treinador Louis van Gaal preferiu dispender a maior parte de seu orçamento nos homens de frente e, até o momento, os contratados Falcao García e Di María têm estado longe de sua melhor forma. Marcos Rojo, o principal homem contratado para a defesa, não apresenta nem sombra da segurança desejável no setor e, no meio, Daley Blind vive sobrecarregado na marcação.

Apesar disso, é impossível descartar o potencial bélico que a presença de jogadores do calibre de Robin van Persie, Wayne Rooney, Di María, Falcao e Juan Mata agregam ao time. E assim, mesmo sem encantar, os Red Devils vão seguindo em frente, fortes candidatos à uma vaga na melhor competição de clubes do mundo.

Em tempo, nem tudo tem estado abaixo das expectativas. O goleiro David de Gea parece, enfim, ter alcançado o potencial dele esperado quando de sua contratação. Com defesas fantásticas e cruciais para os planos da equipe, o espanhol tem sido o grande destaque do instável time de Manchester, capaz de acabar com o rival Liverpool e de empatar com o modesto Cambridge United.

A intromissão dos sólidos Saints

Surpreendentemente, após o desmanche ocorrido na última janela de verão europeia, com a saída de peças estruturais da equipe que tanto se destacou em 2013-2014 (Dejan Lovren, Luke Shaw, Adam Lallana, Ricky Lambert e Calum Chambers) e, sobretudo de seu treinador, Mauricio Pochettino, o Southampton conseguiu se reinventar nas mãos de seu novo comandante, Ronald Koeman.

Apesar de não marcar tantos gols (são 38 tentos em 26 jogos), os Saints apresentam um futebol ofensivo e, ao mesmo tempo, seguro defensivamente (se consolidando como a melhor defesa do Campeonato Inglês, tendo sofrido 19 gols). Do goleiro Fraser Forster ao centroavante  e artilheiro da equipe – Graziano Pellè (foto) – todos os jogadores têm muita consciência do papel que exercem no campo e, assim, alguns deles evoluíram enormemente.

Nas laterais, Nathaniel Clyne e Ryan Bertrand se afirmaram como grandes válvulas de escape e estão em grande forma física e técnica. O zagueiro e capitão José Fonte vive o melhor momento de sua carreira e o volante Victor Wanyama tem demonstrado grande segurança no meio-campo. Apesar disso, o clube vive seu pior momento na temporada, demonstrando grande instabilidade e vendo seus grandes destaques na temporada oscilarem (sobretudo Pellè –que vive jejum de nove rodadas sem gols na Premier League – e o meia Dusan Tadic). Três derrotas, cinco vitórias e dois empates são os números do Southampton nos últimos dez jogos. Não está muito ruim, mas já esteve melhor e, para chegar à Champions, o time terá de retomar seu rumo.

Em relação à temporada passada, preocupa muito a queda de rendimento do ótimo volante Morgan Schneiderlin, um dos pilares da equipe. Além disso, o clube tem vivido dificuldades com a já ressaltada instabilidade de suas peças de ataque, que se estende, ainda, a Eljero Elia, Filip Djuricic e Sadio Mané. Outro problema é a não recuperação do excelente atacante Jay Rodriguez, lesionado desde a temporada passada. O alerta está ligado: para conseguir os êxitos desejados, o Southampton terá de retomar a excelente forma da primeira metade da temporada.

A recuperação e mudança tática dos Reds

Após um início de temporada extremamente instável com a saída de Luis Suárez, a lesão de Daniel Sturridge, a eliminação da UEFA Champions League na fase de grupos e a dificuldade em encaixar os novos (e muitos) reforços, o treinador Brendan Rodgers optou por uma mudança estrutural na equipe. Com um 3-6-1 variando para um 3-4-3, bastante incomum, o irlandês do norte transformou os rumos da temporada dos Reds.

Volante de origem, o alemão Emre Can recuou para a zaga. Pelos flancos, os laterais de origem perderam espaço. Glen Johnson, Javier Manquillo, José Enrique e Alberto Moreno (o mais utilizado deles) viram a ascensão do garoto Jordan Ibe e do sérvio Lazar Markovic, que têm ocupado com frequência o setor. Com uma peça a mais no miolo de zaga, o setor ganhou mais segurança e, com os “ponteiros”, mais velocidade.

Além disso, com mais peças circulando entre as faixas de meio-campo defensivo e ofensivo, o Liverpool ganhou compactação, permitindo, inclusive a enorme evolução de Phillipe Coutinho (foto), grande destaque da equipe no momento. As seis vitórias, três empates, e apenas uma derrota nos últimos dez jogos mostram que o time vive excelente momento – o melhor da temporada – e corre atrás de um grande prejuízo acumulado no primeiro turno.

Mais encorpado e seguro, com o melhor entrosamento de algumas peças e o retorno de Daniel Sturridge, o Liverpool chegou ao bloco de frente e é um candidato que não se pode descartar, na luta pelas vagas nas competições europeias.

A boa fase de Kane nos Spurs

Outro time muito irregular, o Tottenham encontrou no jovem prata da casa Harry Kane (foto) seu ponto de estabilidade. Na temporada, contando com a confiança do treinador Mauricio Pochettino (ex-Southampton) e com a má fase de seus concorrentes, Emmanuel Adebayor e Roberto Soldado, Kane firmou sólido pacto com as redes adversárias e tem aterrorizado os goleiros rivais. Nos últimos quatro jogos válidos pela Premier League, o garoto, de 21 anos, anotou seis gols e conferiu uma assistência.

No entanto, nos últimos jogos o jovem inglês tem levado o time nas costas, uma vez que o dinamarquês Christian Eriksen, outro jogador de grande destaque do time, tem feito atuações muito apagadas nas partidas recebtes. Falta aos Spurs uma referência no meio-campo. 

Recheado de jogadores de talento, mas muito irregulares, o clube londrino tem alternado muito. Entretanto, sua forma recente é boa: em 10 jogos, o Tottenham conquistou cinco vitórias, empatou três jogos e perdeu dois, chegando também à final da Capital One Cup.

Sem dúvidas, com o treinador argentino – responsável pela descoberta do ótimo volante Ryan Mason –, o Tottenham tem sido muito superior ao time da temporada passada, mas segue vendo sua forma oscilar. Não obstante, se Kane continuar on fire, é impossível duvidar do potencial da equipe, candidata real à chegada à alguma das competições continentais.

Em resumo, Arsenal e Liverpool vivem momento de ascensão; o Manchester United e o Tottenham vivem em uma gangorra constante, oscilando demais; e o Southampton teve início fantástico de temporada, sofreu queda de rendimento nas últimas partidas, mas tem potencial para se reerguer. Com o panorama demonstrado, resta-nos acompanhar as 12 rodadas finais da Premier League, que prometem um embate intenso pelas vagas na UEFA Champions League e na Europa League. 

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