A luta ferrenha pela Ligue 1

Quem se dispusesse a comparar a diferença dos orçamentos dos clubes franceses no início da presente temporada, jamais poderia imaginar o quão acirrada estaria a batalha pelo título da Ligue 1. O endinheirado PSG, clube que mais gastou na presente temporada, seria o imaginado campeão e o Monaco, o segundo que mais dispendeu, o vice. Correto? Não.




Embora lidere a competição neste momento, o PSG está longe do protagonismo imaginado no início da temporada. Atual bicampeão francês, rico e com um time – ao menos em teoria – melhor do que o da temporada passada, o time não conseguiu a esperada afirmação. Problemas com lesões, má fase de alguns jogadores e desacerto tático têm impedido o treinador Laurent Blanc de fazer do PSG o time que se espera.

Por outro lado, duas são as notícias positivas no território francês.

Lá se vão quase oito temporadas desde que o Lyon conquistou seu último título francês, à época ainda comandado pelo talento de Juninho Pernambucano. Na presente temporada, impulsionados pela impressionante forma de Alexandre Lacazette e Nabil Fekir, Les Gones voltaram a brigar nas cabeças.

Além do Lyon, outro time tradicional que vive seca considerável e briga pelo título em 2014-2015 é o Olympique de Marselha. Comandado pelo estrategista Marcelo Bielsa, o time inventou uma nova forma de jogar sem seu maior craque – Mathieu Valbuena, que foi vendido ao Dynamo Moscow – e vem dando trabalho.

Em comum, além da luta pelo título da Ligue 1, PSG, Lyon e OM tem o jogo muitas vezes desenvolvido em função de seu principal atacante. Lacazette, Zlatan Ibrahimovic e André-Pierre Gignac tem conseguido números expressivos na temporada.

Os problemas de Blanc

É fácil falar da superioridade do elenco do PSG em relação ao dos demais rivais nacionais. Entretanto, o treinador Laurent Blanc teve de lidar, simultaneamente, com a péssima fase de jogadores do porte de Edinson Cavani, Ezequiel Lavezzi e Javier Pastore (este, nos últimos jogos, voltou a jogar bem) e com um número expressivo de lesões.

Para se ter uma ideia, lá se vão nove rodadas sem que Cavani marque um gol sequer. É fato que o uruguaio não tem atuado como centroavante, sua posição mais confortável, todavia isso não justifica um desempenho tão fraco. Já Lavezzi tem inexpressivos quatro gols em 23 partidas da Ligue 1 e, por pouco, não foi negociado na janela de transferências do inverno europeu.

Além disso, a lista de jogadores que, em algum momento, tiveram (ou estão tendo) problemas de ordem médica é extensa. Thiago Motta, Yohan Cabaye, Lavezzi, Lucas, Ibrahimovic, Thiago Silva, Marquinhos e Serge Aurier sofreram lesões significantes. Considerando que, embora bom, o elenco do PSG é exíguo (23 jogadores, sendo quatro goleiros), é facilmente compreensível o porquê de o clube parisiense não ter conseguido se distanciar no topo da tabela, tendo assumido a ponta recentemente.

“Só tenho 13 jogadores disponíveis para amanhã,” disse Blanc antes da partida contra o Toulouse, em meados de fevereiro.

Somando toda a adversidade pela qual o PSG passou – e passa – colocar os deméritos do não cumprimento das expectativas do início da temporada na figura do treinador Laurent Blanc parece, no mínimo, equivocado.

O impacto de Bielsa

É impossível não lembrar do excelente time do Athletic Bilbao que eliminou o Manchester United da Europa League em pleno Old Trafford, em 2012. Quem era o comandante da equipe basca? Marcelo Bielsa, hoje treinador do Olympique de Marselha.

Sem o dinheiro do rival PSG para gastar no mercado de transferências, Les Olympiens apostaram seu sucesso no treinador argentino e, já no início da competição, perceberam o acerto de sua aposta. Embora os dois jogos iniciais não tenham sido bons (empate com o Bastia e derrota para o Montpellier), a sequência de oito vitórias que se seguiu comprovou o sucesso do time.

Com uma ideia de estrutura física, treinamentos e táticas muito peculiar, Bielsa extinguiu a ideia de um esquema tático fixo – o argentino chegou a armar sua equipe em um “exótico” 3-3-3-1 –e conseguiu retirar o melhor de seus atletas. No caso de Gignac, maior expoente disso e que encontrava-se desmotivado, o treinador foi claro e objetivo: “Te conheço de memória, sei tudo sobre a sua carreira. Perca cinco quilos, e você marcará 25 gols na temporada,” teria o comandante dito ao centroavante, segundo o L’Equipe. Até agora, já foram 16 gols marcados.

Outro jogador que melhorou absurdamente a qualidade de seu futebol foi o francês Dimitri Payet, que, atuando mais pelo centro do campo do que pelas pontas, seu habitat natural, se transformou em um fantástico assistente. Em 29 jogos, proveu 14 assistências. Como comparação, na temporada passada, haviam sido seis em 36 partidas.     

Aplicando um estilo de jogo de alta pressão, o Olympique traçou como objetivo o sufoco aos seus adversários, o que, inevitavelmente, provoca um esgotamento físico de seus atletas e pode ser visto como um dos fatores para a queda de rendimento da equipe nas últimas rodadas. Além disso, com os maus resultados contra os rivais (mormente PSG e Lyon) vieram as críticas e a instabilidade cresceu no Vélodrome.

Não obstante, com uma vitória por 4x0 contra o Lens na última rodada, o OM provou o quão vivo está na disputa pelo título da Ligue 1.

A eficiência da dupla Lacazette e Fekir

O Lyon, por sua vez, foi a boa surpresa da metade da temporada. Após um início ruim, com três derrotas consecutivas entre as rodadas 2 e 4, o clube viveu um período excelente e, entre as rodadas 9 e 22 acumulou 12 vitórias, perdendo e empatando em apenas uma ocasião cada. Ao contrário do que se poderia imaginar no início da temporada, com poucas expectativas, os talentosos Clément Grenier e Yoann Gourcuff não tem sido os responsáveis pelo brilho leonino. No Stade de Gerland os holofotes têm passado ligeiramente pelos meio-campistas, buscando a dupla de atacantes: Lacazette e Fekir.

Entrosados e vivendo grande fase, os dois atacantes marcaram juntos 34 gols até o momento na Ligue 1. Além disso, a dupla contabiliza 17 assistências. Esse desempenho não passou despercebido. Não por acaso, Lacazette e Fekir integram no momento a Seleção Francesa. Velozes e habilidosos, são os dois maiores destaques individuais da presente edição do Campeonato Francês e respondem por quase 60% dos gols da equipe.

Embora os atacantes sejam, evidentemente, os grandes destaques, há outros jogadores cuja ótima e surpreendente forma tem ajudado imensamente no sucesso do time. O jovem meio-campista Corentin Tolisso e o goleiro Anthony Lopes, ambos revelados no próprio clube, são bons exemplos. O primeiro, com um acerto de 85% dos passes tem sido vital para a fluidez do jogo do OL, enquanto o segundo, com defesas espetaculares, tem representado grande segurança na retaguarda.

Para quem persiste com a ideia fixa de que a Ligue 1 é um campeonato monótono, a temporada 2014-2015 tem provado rodada após rodada o equívoco deste pensamento. Com estilos, qualidades e defeitos diferentes, PSG, OL e OM, prometem uma luta ferrenha e acirradíssima pelo título de campeão francês.

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