O grande momento galês

Lá se vão quase 60 anos desde que a Seleção do País de Gales disputou uma grande competição. Na ocasião em que o Brasil começa a trilhar sua vitoriosa história em Copas do Mundo, no Mundial de 1958, os galeses pisavam pela primeira e única vez – até os dias atuais – nos campos mais importantes do futebol. Sem ter voltado a disputar uma Copa e nem, tampouco, um Campeonato Europeu, liderada por Gareth Bale, a equipe está próxima da disputa da Euro 2016.


Uma geração para honrar grandes jogadores


Pensando rápido, é possível lembrar alguns grandes nomes da história recente do País de Gales, figuras da estirpe de Ryan Giggs, Ian Rush, Mark Hughes e Neville Southall e outras de menor qualidade mas igualmente importantes, como Craig Bellamy. O que todos estes nomes têm em comum? A ausência de glórias e resultados expressivos pelos Dragons. Neste sentido, a geração atual está próxima de honrar os tempos difíceis destes craques, que sofreram com a falta de companheiros de maior qualidade.

Hoje, a Seleção Galesa tem jogadores de qualidade em todos os setores do campo. Possivelmente o menos influente deles, o gol conta com Wayne Hennessey, atualmente no Crystal Palace, onde é reserva. A despeito disso, o jogador marcou sua carreira vestindo a camisa do Wolverhampton, equipe em que foi criado.


Na defesa, que normalmente atua com três jogadores, o vigoroso capitão Ashley Williams, que exerce o mesmo papel no Swansea City, é uma grande liderança e um ótimo jogador. Apesar de não ser muito alto (1,83m), o beque dos Swans, vai bem tanto no solo quanto no jogo aéreo, é rápido e um xerife. Além dele, o jovem lateral-esquerdo Ben Davies (que tem atuado regularmente na zaga galesa) é um jogador de potencial enorme e tem começado a se firmar no Tottenham.

Há ainda outras figuras que não tem tanta qualidade mas que são jogadores que compõem o setor com alguma categoria, como o experiente James Collins, defensor do West Ham – muito lembrado por sua lustrosa careca –, o zagueiro James Chester, criado no Manchester United e atualmente jogador do West Bromwich Albion, o lateral-direito Chris Günter, atleta do Reading, e o ala-esquerda Neil Taylor, do Swansea.

No entanto, ciente de que a defesa não é seu melhor setor, o jovem treinador Chris Coleman, de 45 anos e ex-jogador da própria seleção, tem preferido usar uma formação com três defensores e armar um meio-campo mais sólido, que, ao mesmo tempo, dá mais segurança à retaguarda e permite que Bale desfrute de grande liberdade na cancha.

Assim, figuras como a do multifuncional Aaron Ramsey, de Joe Allen e Joe Ledley, além de outras menos influentes como as de Andy King, meio-campo titular do Leicester City, onde fez toda a sua carreira, e do experiente David Vaughan, por anos figura importante no meio do Sunderland, têm papel crucial na equipe. Criadores de jogo quando a equipe tem o domínio das ações, os jogadores têm uma função vital de recomposição rápida quando a bola volta à posse do adversário, montando rapidamente uma linha de cinco homens e fechando os espaços.


Embora não tenha se firmado no Liverpool, Allen é um dos jogadores mais importantes na Seleção Galesa, uma vez que consegue ajudar muito na transição defesa-ataque, com bom passe. Não obstante, a engrenagem mais importante no setor é Ramsey, um faz-tudo que destrói, constrói e aparece para finalizar.

Assim, no ataque, Gareth Bale, que em grande parte das vezes é acompanhado por Robson-Kanu – eventualmente substituído pelo forte centroavante Sam Vokes, do Burnley –, tem liberdade para se movimentar e ser decisivo.

Dessa forma, o País de Gales tem se mantido no topo do Grupo B das Eliminatórias da Euro 2016, à frente de equipes como Bélgica, Bósnia-Herzegovina e Israel.

Na seleção Bale não é só mais um



É habitual a alegação de que Gareth Bale nunca foi no Real Madrid o mesmo jogador que encantou nos tempos de Tottenham e que decide grande parte das partidas para a Seleção Galesa. O que muitas vezes não é levado em consideração é o papel de coadjuvante que o galês exerce em seu clube, o qual muito se diferencia daquele possibilitado ao jogador nos tempos de Spurs e nos Dragons.

Quando veste a camisa 11 de sua nação, Bale é o craque da equipe, o jogador que todos procuram e de quem se espera um alto nível sempre. Isso tem se verificado na invicta campanha de seu país até o momento. Dos oito jogos disputados por Gales, Bale participou de gols em cinco e, curiosamente, nas três ocasiões em que não o fez o time empatou por 0a 0.

Assim, já são seis gols e duas assistências nas eliminatórias, o que inclui um tento na marginal e grandiosa vitória do país contra a Seleção Belga, por 1x0. Apenas Robert Lewandowski, Artem Dzyuba, Thomas Müller, Wayne Rooney, Zlatan Ibrahimovic, Edin Dzeko e Kyle Lafferty, jogadores que atuam mais próximos do gol, foram às redes mais vezes que o galês.

Em uma equipe que prima pelo jogo coletivo, Bale é a peça que destoa, tanto da filosofia de jogo quanto da parte técnica. O craque do Real Madrid é o diferencial do time.

A proximidade de um feito inédito


Como dito anteriormente, o País de Gales, que ainda tem confrontos contra Bósnia e Andorra, está próximo de se classificar para sua primeira fase final de Eurocopa, em toda a sua história. Razões que justificam este sucesso não faltam. A consciência tática, a qualidade de alguns jogadores e o “fator-Bale”, são algumas delas. Neste sentido, as estatísticas confirmam o sucesso do esquadrão de Coleman.

Uma das poucas equipes que não perderam um jogo sequer, ao lado da Inglaterra, da Áustria, da Itália, e da Romênia, a Seleção Galesa tem também, ao lado dos romenos, a melhor defesa, com apenas dois gols sofridos.


O fato de a equipe não se lançar ao ataque desenfreadamente é uma qualidade e não um defeito. Exceção feita a Bale, as outras opções de frente não são muito qualificadas e procurar o gol a todo custo seria um erro crasso de estratégia, porque impediria o time de mostrar sua melhor faceta, o deixaria exposto e seria ineficiente.

A Seleção Galesa não é composta por craques e parte do sucesso dela se deve ao conhecimento de suas próprias limitações e da escolha correta de proposta de jogo. Assim, os Dragons construíram sua campanha e chegaram até onde estão, muito próximos de um feito inédito.

“Seremos a geração de ouro quando eu estiver sentado aqui com um sorriso no rosto e estivermos celebrando porque fizemos pontos suficientes, o que significa que não poderemos ser alcançados e estaremos em nosso caminho para a França (país-sede da Euro) (...) Eles (os jogadores) merecem isso. Eu disse isso para os jogadores privativamente, no primeiro jogo, em Andorra, eu penso que esse grupo de jogadores são algo especial”, disse Coleman no início de setembro.

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