A diversidade inglesa

Usualmente, pensar na Seleção Inglesa é lembrar um futebol de esquema 4-4-2 e lançamentos longos para atacantes de categoria duvidosa e faro de gol, uma realidade com muito mais Heskey's do que Charlton’s. Nos últimos tempos, com peças como David Beckham, Steven Gerrard, Michael Owen e Frank Lampard, esperava-se bons resultados, que não vieram. Uma equipe composta por jogadores de semelhantes características não deu liga. Hoje, no entanto, o English Team vem jogando bom futebol e uma das possíveis explicações para tal fenômeno é, justamente, a diversidade de estilos que se encontra nas possibilidades de que dispõe Roy Hodgson.



Se a zaga segue sendo um ponto de importante discussão, em que não se encontra ponto pacífico e tampouco confiança nas figuras de Gary Cahill, Chris Smalling, Phil Jagielka ou Phil Jones, a figura de John Stones surge para apagar um incêndio na retaguarda inglesa. Tranquilo e técnico, o jogador é quem mais promete no setor. Pelas laterais também não há nenhum grande jogador, mas peças regulares, como Nathaniel Clyne, Kyle Walker, Jon Flanagan, Danny Rose, Kieran Gibbs, Ryan Bertrand, Leighton Baines ou Luke Shaw. Jogadores sem nenhum grande diferencial, que cumprem bem o seu papel.

Você deve estar se perguntando onde está a tal diversidade que dá título a este texto. Pois bem, segue a resposta: do meio-campo para frente.

Por mais competentes que Beckham, Gerrard, Lampard, Owen Heargreaves, Paul Scholes ou Michael Carrick fossem – é indiscutível a qualidade que todos estes demonstraram no passado – suas características eram semelhantes. Nenhum deles primava pela intensa movimentação, tendo no passe, tanto curto quanto longo, na finalização e no bom posicionamento seus grandes talentos. Isso levou muitas vezes o English Team a ser criticado por um suposto “engessamento”, o que de fato se justificava. Hoje, todavia, peças semelhantes às de outrora ainda existem, mas há várias outras com estilos distintos.

Se Jordan Henderson, Ryan Mason, Danny Drinkwater ou Jack Wilshere têm os predicados dos atletas supracitados, hoje, caso necessite de um volante de pegada, a Inglaterra o encontra em Eric Dier (foto), por exemplo. No mesmo sentido, na necessidade de meio-campistas que construam o jogo, os ingleses têm Ross Barkley, Dele Alli e Adam Lallana, por exemplo, jogadores com mobilidade e criatividade. E o mais interessante: cada uma dessas peças tem características muito particulares, oferecendo diversas possibilidades dentro de uma semelhante posição.

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Pelos flancos, caso a ideia seja dar mais velocidade ao time, Theo Walcott, Marc Albrighton (ainda não convocado), Raheem Sterling, Alex Oxlade-Chamberlain e Andros Townsend são possibilidades – também distintas. Tem-se o recurso do drible em Sterling, a velocidade e o jogo à linha de fundo em Walcott, Chamberlain e Albrighton e o chute de longa distância em Townsend. Além disso, há jogadores como James Milner e Fabian Delph que podem fazer de tudo um pouco no meio. O time ainda pode preservar o estilo “engessado” de outrora, mas só se quiser.

De mais a mais, em tempos em que diferentes centroavantes mostram talentos diversificados, Wayne Rooney é outra peça que deve ser frequentemente vista pelo meio-campo, ajudando na ligação entre meias e atacantes e diminuindo o uso do passe longo, que hoje é muito mais usado com um acessório do que uma ideia de jogo.

Falando em atacantes, como peças mais velozes e imprevisíveis, Roy Hodgson tem o curioso Danny Welbeck – capaz de gols de placa e desperdícios de chances clamorosas – e o insinuante e habilidoso Daniel Sturridge. Além deles, Walcott já atuou como peça mais aguda de ataque e é possibilidade. No entanto, a ascensão de Harry Kane e Jamie Vardy (foto) deixa essa opção cada vez mais em segundo plano. Enquanto o primeiro tem mais técnica e trabalha melhor a bola, o segundo mostra velocidade impressionante, presença de área e absurdo faro de gol - essas são peças diferentes para jogos, momentos e ideias diferentes. Caso queira o centroavante clássico, o técnico inglês ainda pode apostar suas fichas em Charlie Austin.

Hoje, há um número grande de peças capazes de dar fluidez ao jogo inglês. Existem alternativas para diferentes ideias e confrontos. É possível montar estratégias específicas para enfrentar adversários de estilos diversos. A grande referência do time é Rooney, um jogador essencialmente versátil e que dá a tônica das possibilidades do English Team.

Hodgson não se fechou às diferentes opções e não tem tido problema em dar oportunidade aos jogadores que se destacam e pedem passagem. Assim, desde o fracasso da Copa do Mundo de 2014, vem com retrospecto de 15 vitórias, quatro empates e apenas uma derrota, justificando a confiança da FA em sua pessoa e renovando as esperanças de uma equipe que vive à margem da disputa por títulos.

Não, a geração não é brilhante, longe disso. Não obstante, há o que e como trabalhar. Em um passado recente era fácil escalar a Inglaterra, difícil era mostrar um futebol que correspondesse às altas expectativas. Hoje, com grande variedade de alternativas, já não é tão fácil definir o melhor onze inglês, mas os resultados atestam a evolução da equipe. 

Comentários

  1. Talvez, sem a badalação de outrora o time obtenha um bom resultado e desempenhe um bom papel. Tem jogadores de qualidade pra isso. Temos de aguardar a Euro para saber.

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