Confiança em preto e Blanco

O ano de 2018 tem sido marcado por dificuldades no Atlético Mineiro. O tempo das contratações caras e midiáticas está suspenso. É público o entendimento de que o momento é de vacas magras, mais referidas por meio da palavra austeridade. Ainda assim, tem havido motivos para o torcedor ficar satisfeito. Em meio a gangorra que marca o futebol brasileiro — sempre imprevisível — o time tem tido boas aparições (nem sempre com vitórias), com algumas individualidades se sobressaindo. A mais evidente é a de Róger Guedes, mas a fundamental responde pelo nome de Gustavo Blanco.


Gustavo Blanco Atlético Mineiro
Foto: atletico.com.br

Má fase de Elias abriu a brecha


O volante formado no Bahia chegou ao radar atleticano ainda no ano passado. Na oportunidade, emprestado ao América-MG, destacou-se na primeira metade de 2017. Chegou ao Galo por empréstimo válido até o final de 2018, em um negócio que prolongou a estadia do zagueiro Tiago, então vinculado ao alvinegro, no clube baiano.

Logo, Blanco mostrou qualidades com a camisa atleticana, ainda que tenha tido sua adaptação atrapalhada por lesões. O jogo só foi virar em seu segundo ano e sobretudo depois da polêmica saída do treinador Oswaldo de Oliveira, com seu auxiliar técnico, Thiago Larghi, assumindo a missão, como interino, de conduzir o ano alvinegro.

No início do trabalho, a preferência pela experiência de Elias manteve o tempo de jogo de Blanco ainda um tanto restrito e o jogador chegou a ser utilizado até em posicionamento mais defensivo do que o seu habitual.

Em tese, os companheiros guardam muita semelhança de estilo de jogo e, ao menos na ideia de Larghi, com a utilização de Adilson como volante de contenção, só caberia um.

Thiago Larghi Atlético Mineiro
Foto: atletico.com.br
Mas, apesar de ter sido escolha inicial do interino, Elias não vinha correspondendo. O elemento surpresa que o Brasil conheceu, principalmente com a camisa do Corinthians, pouco produzia. As infiltrações eram poucas, o contributo defensivo também. A dinâmica de jogo dele esperada vinha ficando restrita ao mundo ideal, ao mesmo tempo em que Adilson passava a ficar cada vez mais sobrecarregado com as tarefas defensivas. 

Em determinado momento, a escalação de Blanco deixou de ser uma opção, passando a ser um imperativo.

Melhora coletiva


Desde que o jovem volante, hoje com 23 anos, assumiu a condição de titular, o time teve algumas formações distintas, ora contando com o auxílio de Luan mais centralizado e, em outras ocasiões, com o jogador mais aberto. Certa mesmo se tornou a parceria com Adilson, cujo desempenho também cresceu nos últimos jogos.

Desde que assumiu a titularidade, Blanco se afirmou uma certa “cola” entre os setores defensivo e ofensivo. Ele tem feito justamente o que se esperava de Elias. Incansável, percorre distâncias imensas, assiste laterais, trama jogadas pelo centro, aparece no ataque para finalizar e cria jogadas. 

Se mostrou um jogador completo, ainda que a técnica não seja a mais refinada. Sua evolução acompanhou a do time, principalmente a partir da melhora na recuperação da bola, na pressão aos adversários, atacando a bola, e nas movimentações, dando alternativas para seus companheiros.

Gustavo Blanco Atlético Mineiro
Foto: atletico.com.br
O único jogo em que não esteve em campo no Campeonato Brasileiro foi o clássico contra o Cruzeiro, ocasião em que se encontrava suspenso. Aliás, todo a sua voluntariedade tem provocado uma consequência recorrente: o cansaço excessivo. O volante tem sido constantemente sacado na parte final das maior parte das partidas, esgotado.

Quem mais desarma é quem mais assiste


As estatísticas só corroboram o grande momento vivido por Blanco. No Campeonato Brasileiro, ninguém roubou mais bolas aos adversários do que ele. Até o momento, segundo o portal Whoscored, são 44 recuperações, média de 4,4 por partida. E, ao contrário do que acontece em muitos casos de ladrões eficazes, a destinação da bola dada pelo camisa 30 tem sido eficaz. Em média, 87,7% de seus passes atingem o destino correto.

Aliás, alguns desses passes têm sido decisivos para o time. No Atlético, Gustavo é o líder de assistências para gols, com quatro — ao lado de Hyoran, do Palmeiras, é também o recordista do campeonato até o momento.

Até 2022


Com isso, mesmo em tempos de gastos moderados, a diretoria do clube efetuou a compra de seus direitos junto ao Bahia. Havia previsão contratual de valor para a aquisição. Assim, o Galo acordou o pagamento de R$ 1,2 milhões de reais ao Bahia e firmou contrato com o jogador até 2022.

A negociação faz sentido para agora e para o futuro. Considerando a utilidade imediata do meio-campista e sua pouca idade, o valor pactuado não foi muito alto, sendo certo que o jogador terá mercado caso, em algum momento, seja necessário negociá-lo. A evolução de Blanco tem sido impressionante, algo que o próprio tem afirmado, mormente nos critérios táticos.

Ainda que o time viva dias de instabilidade — aliás como a maioria das equipes brasileiras — em uma leitura global, o trabalho de Thiago Larghi é bem avaliado. Seu time carece de maiores alternativas, mas o interino foi capaz de resgatar e afirmar uma que já se encontrava no elenco. Se há um motivo para o torcedor atleticano se alegrar nesse ano, e confiar que dias melhores virão, esse é Gustavo Blanco.

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