Alassane Pléa e o Gladbach que quer a Europa

Os livros da história do futebol guardam um lugar especial para o Borussia Mönchengladbach. Entretanto, o passado de glórias não garantiu semelhante presente aos Potros. Nas últimas cinco temporadas, houve sinais de melhora, mas também de instabilidade. Os times do treinador Dieter Hecking ainda não repetiram os resultados de Lucien Favre e André Schubert. Pode ter chegado a hora de o comandante repetir o sucesso vivido no comando do Wolfsburg. Para isso, conta com os gols e a rápida adaptação do francês Alassane Pléa.


Foto: Bundesliga


Devolva-me o protagonismo!


No contexto do futebol europeu, o sonho de qualquer clube de expressão financeira apenas mediana é chegar à disputa da Liga dos Campeões. Não importa se o pensamento racional indica uma eliminação ainda na fase de grupos ou, na melhor das hipóteses, nas oitavas de final. Estar lá garante prestígio. Enche os cofres. Atrai público e atletas. O sentimento do torcedor do clube deve ter sido de profundo orgulho quando, em 2014/15, o time retornou a esse palco. Há 38 anos estava afastado, o êxito virou até filme.

Foto: Imago/deFodi
Um ano antes, já havia batido na trave, terminando a Bundesliga na quinta colocação. Mas, chegou a hora do retorno. Apesar da pontinha de tristeza por ter sido sorteado para um grupo pesadíssimo — com Manchester City, Juventus e Sevilla —, o clube gozou do prestígio de estar debaixo de tantos holofotes. E repetiu o feito no ano seguinte (dessa fez ficando em terceiro em outro grupo duro, com Barcelona, o City e o Celtic). Mas o time caiu muito. Dois nonos lugares nas últimas edições do Campeonato Alemão o tiraram do radar das competições europeias.

Mas há um trabalho de manutenção importante. Quando Hecking assumiu os Potros, em meados da campanha de 2016/17, eles flertavam perigosamente com o descenso. Superada a crise, fez um trabalho decepcionante em seu primeiro ano completo. Porém, seguiu contando com a confiança da direção, que o manteve.

Agora, ganhou dois reforços importantes: o atacante Alassane Pléa, ex-Nice (onde era fiel escudeiro de Mario Balotelli), e o lateral Michael Lang, contratado junto ao Basel. Por cifras expressivas, €25 milhões, vendeu o irregular Jannik Vestergaard ao Southampton. Também se livrou do inadaptado Vincenzo Grifo, que partiu para o Hoffenheim.

Com muita juventude no elenco (que contrasta com a experiência dos ídolos Raffael e Lars Stindl), o time tem tido um início de temporada excelente e se aproveitou da melhor forma dos deslizes do poderoso Bayern de Munique. Os bávaros têm sofrido para encontrar a melhor forma de jogar sob o comando de Niko Kovac — mas o Gladbach não tem nada com isso.

Os placares afirmam: é preciso observar o Gladbach


Deixando o esquema tático 4-4-2 que marcava, até então, a passagem de Hecking pelo clube, os Potros assumiram uma nova identidade em 4-3-3. O terceiro melhor ataque da competição — com 15 gols em sete jogos — parece adequado ao terceiro lugar no Campeonato Alemão. A defesa, por outro lado, não é exemplo de solidez, mas também não tem sido uma peneira. Apenas cinco times (Borussia Dortmund, Bayern de Munique, Werder Bremen, Mainz e Hertha Berlin) sofreram menos tentos.

O que mais tem chamado a atenção, porém, é a forma como o Gladbach tem sido cirúrgico. Ele precisou de apenas 28% de posse de bola para vazar Manuel Neuer, o brilhante arqueiro do Bayern, três vezes. Foi menos efetivo em quase todas as estatísticas, mas na que realmente importa, superiorizou-se.


O primeiro tento daquele dia foi fruto de jogada individual de Pléa, que se livrou de Niklas Süle com facilidade e, de fora da área, arrematou no canto do goleiro. Depois, em outra jogada rápida, dessa vez foi Stindl que se livrou, tranquilamente, de seu marcador, Mats Hummels, para vencer Neuer, da entrada da área. No apagar das luzes, Patrick Hermann, livre em meio a quatro marcadores dentro da área bávara, finalizou o rival. Em sua casa.

Foi impressionante ver o Gladbach reduzir seu poderoso nêmesis a pó. Mas não surpreendente, porque o time já havia batido Bayer Leverkusen, Schalke 04 e Eintracht Frankfurt, tendo apenas uma derrota, para o Hertha Berlin, em um maluco 4 a 2. 

Pléa chama atenção pela rápida adaptação ao clube. Já tem oito gols em oito jogos pela equipe. Mas tem mais gente jogando um futebol de qualidade acima da média. Thorgan, o irmão de Eden Hazard, craque do Chelsea, que o diga. Vem praticando futebol de primeira qualidade desde a última temporada. Titular da Seleção Alemã nos últimos jogos, Matthias Ginter é outro que vive bom momento na zaga dos Potros. Lesionado no início da temporada, o capitão Stindl estreou no ano contra o Bayern da melhor forma. O time anda encaixado.



Pléa é visto como um diferencial, mas time vai bem coletivamente


A chegada do francês parece fundamental para a reestruturação do Gladbach. “Ele não é apenas um bom artilheiro, ele trabalha muito coletivamente. Sua contribuição defensiva em Munique foi excelente. Sempre que o time perdeu a bola, ele correu atrás para recuperá-la o mais rápido possível”, disse seu companheiro Denis Zakaria ao site oficial da Bundesliga.

O alto ritmo de trabalho coletivo, aliás, é indicado por quase todos os protagonistas como o diferencial dessa temporada. O clube teve uma defesa muito vazada na última temporada e, apesar de se voltar mais ao ataque na atual, tem sofrido menos tentos. O jogo anda mais coordenado, as linhas mais próximas. E não é só isso, em Jonas Hoffmann (outrora um ponta) e Florian Neuhaus, Hecking descobriu uma dupla coesa no meio-campo. E o desempenho dos dois permitiu o crescimento de Christoph Kramer, o primeiro homem à frente da defesa alvinegra.


Não há nenhuma grande estrela no time e mesmo os melhores jogadores são reconhecidos pela versatilidade e trabalho duro. As trocas de posição dos jogadores de frente também têm sido um trunfo do clube, que, por exemplo, surpreendeu o Bayern ao escalar Pléa pela esquerda.

Outro ponto forte tem sido a bola parada, que já rendeu quatro tentos para o clube — apenas Dortmund e Augsburg foram superiores. A despeito disso, o time, com jogadores muito técnicos, prefere o jogo pelo chão, sendo o que menos cruzamentos fez na Bundesliga até agora.

“Temos um bom grupo, com muito potencial. O elenco é forte, tem profundidade e, indiscutivelmente, qualidade para se classificar para a Europa na próxima temporada”, garantiu Pléa, também ao site oficial da Bundesliga. Parece claro, o objetivo são as disputas continentais. Seja com os gols de Pléa, a afirmação de Hazard e Ginter, a liderança de Stindl, ou as defesas do goleiro Yann Sommer, o Gladbach surpreende nesse início de Campeonato Alemão. O difícil é saber se terá fôlego.

Comentários

  1. Seria o Gladbach o Leipzig desta temporada? Eu espero que seja ate mais do que foi o Leipzig!

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  2. Obrigado pelo comentário, Marcus. Acredito que o Leipzig continua sendo uma frente forte. O Gladbach tem potencial para lutar lá em cima, está no bolo. Mas fora o Bayern (que apesar de não viver bom momento, segue com um elenco extremamente superior), não há nenhum time tão melhor do que os demais. Quem for mais regular tende a ficar com as vagas continentais. Para já, o Gladbach tem sido um deles.

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