Mudando de direção para evitar o pior

Nos últimos anos, o Monaco ganhou uma boa reputação no que concerne à capacidade de descobrir e maturar talentos. Obteve resultados financeiros e esportivos apostando numa fórmula: comprar barato, desenvolver e vender caro. Via de regra, é assim que vem trabalhando. Porém, a temporada 2018/19 transformou em realidade o que era visto como um risco calculado: o time se desfez de bons valores e não acertou na reposição. Agora, para se recuperar e evitar o pior — um rebaixamento —, procura outro caminho.

Monaco Naldo Fàbregas
Arte: O Futebólogo

Jardim não suportou a crise: a missão ficou para Henry


O ano do Monaco começou como os últimos: com vendas importantes e a efetivação de apostas. Na janela de transferências do último verão europeu, os alvirrubros negociaram duas peças-chave. O volante Fabinho rumou para o Liverpool e o meia Thomas Lemar seguiu para o Atlético de Madrid. Tais transferências representaram uma entrada de mais de 100 milhões de libras nos cofres da equipe. E sequer falamos da fortuna que chegou com a efetivação da venda de Kylian Mbappé ao PSG.

Além disso, apesar de não representar um negócio com cifras tão vultuosas, a venda do experiente João Moutinho ao Wolverhampton teve suas implicações. Ele nem sempre era titular, mas era um dos atletas mais estáveis do time, correspondia quando chamado e era uma das peças que ajudavam as promessas do clube a ter tranquilidade para evoluir. Houve, ainda, outras saídas de menor impacto mas que, somadas, têm também seu peso. Foram os casos, por exemplo, de Terence Kongolo, Rachid Ghezzal e Keita Baldé.

Em contrapartida, contrariando a cartilha do bom negócio, o time apostou fichas na contratação de um jogador que havia obtido destaque na Copa do Mundo de 2018. Ainda garoto, mas já tendo disputado algumas temporadas como profissional, o valorizado meio-campista Aleksandr Golovin, 22, foi uma escolha importante e cara do clube. Sua adaptação tem sido difícil e ele não foi uma reposição a Fabinho. A esperança para essa função era a afirmação do belga Youri Tielemans, contratado no ano anterior.
Monaco Thierry Henry
Foto: Cordon Press

Além de Golovin, o Principado acompanhou a chegada de uma garotada. Promissora. Mas verde, crua. Do Lyon, veio o meia Willem Geubbels, então com 16 anos e, do Leverkusen, Benjamin Henrichs, de 21.

A experiência coube à Nacer Chadli, que aos 29 anos trouxe a vivência de anos de Premier League, em que vestiu as camisas de Tottenham e West Bromwich. Houve outros negócios, mas de menor impacto.

E deu tudo errado. O time não se encaixou. Jogadores outrora confiáveis como o zagueiro Jemerson caíram em desgraça. Outros, cruciais, machucaram-se: o goleiro Danijel Subasic, o lateral campeão do mundo Djibril Sidibé, o talentosíssimo meia Rony Lopes foram algumas das baixas sofridas; quase não atuaram na temporada.

Os resultados tem sido horrorosos. Na Ligue 1, são 11 derrotas, quatro empates e três vitórias em 18 jogos; na Liga dos Campeões, o time foi eliminado com a lanterna de seu grupo. Treinador do clube há tempos, Leonardo Jardim caiu em meio ao processo. Thierry Henry foi contratado para tentar o resgate.

Para acalmar os ânimos, Naldo e Fàbregas (?)


Contra a sua própria tradição recente, o Monaco foi ao mercado de transferências do inverno europeu em busca de certezas, de experiência. Encontrou uma potencial solução na Alemanha.

Aos 36 anos, Naldo chega ao Principado com 358 jogos de Bundesliga disputados. Embora viesse frequentando o banco de reservas em parte da temporada corrente, foi brilhante em 2017/18 com a camisa do Schalke 04. O zagueiro brasileiro disputou absolutamente todos os minutos da dita campanha, que deu aos Azuis Reais o vice-campeonato alemão. Ao final, foi eleito, pelos jogadores profissionais do país, o melhor atleta da temporada do futebol germânico. É pouco?

Segurança, tranquilidade e sobriedade são qualidades em falta no time de Henry e isso é justamente o que Naldo leva ao clube. Ele chega para ser a referência que o time tem precisado na retaguarda — a quarta pior da Ligue 1. E há um plus: os monegascos também têm o quarto pior recorde de gols marcados em bolas paradas. Contra isso, contam agora com um defensor que anotou sete tentos no último ano (tanto de falta quanto de cabeça). O contrato é até 2020, quando o jogador estará beirando os 38 anos, mas parece valer. Pelo futebol que o zagueiro ainda tem mostrado e pelo que sua experiência significa.


Além de notar a necessidade de reforçar a zaga, o Monaco parece ter percebido um tanto tardiamente as consequências de ter negociado, ao mesmo tempo, Fabinho e Moutinho.

Assim, foi ao Chelsea buscar um jogador de talento, visão de jogo e capacidade de controle incontestáveis. Cesc Fàbregas (ainda não oficializado) tem sua chegada ao Principado encaminhada e leva a calma que tem faltado ao alvirrubro. É difícil contestar o fato de que o catalão perdeu capacidades físicas e o ritmo necessário à intensidade da Premier League, mas não parece haver dúvidas de que tem o que acrescentar no contexto do futebol francês.

Embora não seja tão veterano quando Naldo, Fàbregas, de 31 anos, carrega também enorme experiência. Já viveu as mais variadas situações com as camisas de Arsenal, Barcelona e Chelsea — são 350 jogos só na Premier League — e, físico de lado, nunca fugiu às responsabilidades. Na Liga Europa 2018/19, competição em que mais representou os Blues nesse ano, teve marcas representativas: mais de 91% de aproveitamento de passes e uma média de oito bolas longas acertadas por jogo. 

Fàbregas

Além das qualidades técnicas de Fàbregas, ele também tende a se tornar uma referência. Será o comandante da meia-cancha. Terá a responsabilidade de organizar e orientar seus companheiros. Controlar o ritmo do jogo. Articular o time na busca por gols e garantir a manutenção da bola em momentos de pressão. Poderá ajudar Tielemans a, finalmente, encontrar seu melhor jogo e Golovin a se adaptar. Outro especulado no clube é William Vainqueur, volante francês de 30 anos, atualmente no Antalyaspor, da Turquia.

Naldo e Fàbregas são movimentos estranhos ao modus operandi monegasco, mas se mostraram necessários. Mais que isso: emergenciais. Chegam para evitar o pior.

Comentários

  1. Wladimir acompanho seu trabalho faz tempo e o admiro bastante. Sempre que posso leio as postagens do seu blog. Agradeço pelo conteúdo e pela paixão que você tem ao esporte que tanto amo. Ótima postagem sobre o Mônaco, é nítido que nenhum clube consegue ter bons resultados com essa gestão de venda de jogadores, é necessário reposição. Chegada do Naldo e Fábregas vai agregar bastante ao time. Espero que o clube não caia e que volte a brigar por melhores posições no campeonato francês. Abraço!

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  2. Muito obrigado pelo comentário! É muito recompensador ler isso. De fato, o trabalho que faço por aqui é muito sobre paixão e saber que tem atingido de forma positiva os leitores é incrível. Como você, acredito que o Monaco conseguirá uma arrancada, se salvará e fará um novo planejamento para a temporada seguinte. Grande abraço!

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