O sonho do Málaga que consagrou Willy Caballero

Em 2010, o Málaga foi comprado pelo xeque Abdullah Al Thani. Ali, começou uma época curta e memorável para o torcedor andaluz. Paulatinamente, chegaram à equipe atletas como Ruud van Nistelrooy, Santi Cazorla, Jérémy Toulalan, Isco e Joaquín. Menos badalado, também desembarcou em La Rosaleda o goleiro argentino Willy Caballero, ex-Elche. Juntos, os jogadores conduziram o Albiceleste ao sonho europeu; fizeram com que o Málaga rompesse as fronteiras da Espanha.


Málaga Caballero Pellegrini
Foto: AP

De Jesualdo Ferreira a Manuel Pellegrini 


Uma das primeiras medidas tomadas pela nova diretoria do Málaga foi a contratação do treinador português Jesualdo Ferreira, ex-Porto. Tratava-se de uma boa aposta, já que o comandante vencera três títulos nacionais com os Dragões. A despeito disso, as coisas não saíram conforme as expectativas — e é bem verdade que os primeiros investimentos foram modestos.

Jesualdo recebeu como reforços o centroavante venezuelano Salomón Rondón, o lateral português Eliseu, o atacante uruguaio Sebastián Fernández, os brasileiros Galatto e Sandro Silva, dentre outros jogadores de menor expressão. Não foi propriamente uma surpresa o time ter conquistado apenas duas vitórias em seus 10 primeiros jogos. Menos inesperada, ainda, foi sua demissão em novembro de 2010.

Depois de uma passagem curta pelo Real Madrid (apesar de ter alcançado 75% de aproveitamento) e ainda lembrado pelos bons trabalhos em Villarreal, River Plate e San Lorenzo, Manuel Pellegrini foi o escolhido para a missão de conduzir o Málaga a outro patamar. Na própria temporada 2010/11 já recebeu novos e importantes reforços: na janela de transferências do inverno europeu chegaram Martín Demichelis, Júlio Baptista e Ignacio Camacho — além de Caballero.

Málaga Demichelis
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A sorte virou para o clube. Logo na estreia do técnico (contra o Hércules, em jogo válido pela Copa del Rey) o time venceu: 3 a 2. Houve alguma instabilidade até o fim de sua primeira temporada, mas o time se salvou do rebaixamento com louvor, terminando La Liga na 11ª colocação.

Idas e vindas, punição e sonho


Pellegrini ficou; os reforços chegaram; e o time cresceu. Finalmente, foram feitos grandes investimentos no clube. Desembarcaram, enfim, Cazorla, Toulalan, Nacho Monreal, Joaquín, van Nistelrooy… Impulsionados pelo capital do Oriente Médio, os andaluzes gastaram quase 60 milhões de euros, naquela que foi a temporada mais gastadora da história albiceleste. Os resultados acabaram sendo consequência lógica.

Os 68 gols sofridos na temporada anterior foram reduzidos para 53. Às treze vitórias de 2010/11 se somaram mais quatro. O time ainda foi instável, sofrendo 14 derrotas, mas evoluiu. Terminou La Liga na quarta colocação e cumpriu o sonho de disputar a Liga dos Campeões pela primeira vez em sua história. Mas, nos bastidores, as coisas não iam tão bem assim. Logo, foi ficando claro que a manutenção daquele padrão de investimentos seria impossível.

No ano de sua maior realização esportiva, o Málaga vendeu Cazorla ao Arsenal. Detalhe: recebeu menos do que havia pago pelos serviços do craque. Também selou a saída de Rondón e, na metade da temporada, veria outro destaque partir para a Inglaterra, Nacho Monreal. Os reforços voltaram a ser de menor impacto, destaque para os já veteranos Javier Saviola e Roque Santa Cruz, além do chileno Manuel Iturra e, mais tarde, de Diego Lugano. O Málaga não gastou um só centavo com transferências, auferindo um lucro de 41 milhões com saídas.

Málaga Isco
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Nada disso impediu o clube de viver, com máxima intensidade, aquela realidade inesperada, que tinha um quê de realismo fantástico: a Liga dos Campeões. Depois de bater os gregos do Panathinaikos na última fase que precede a de grupos do certame continental, o Málaga chegou ao grupo final que contempla as melhores 32 equipes europeias.

A caminho da insanidade


Difícil? Sim. Impossível, não. Esse foi o prognóstico feito quando do sorteio dos grupos. O Málaga acabou sendo alocado junto do belga Anderlecht, de Lucas Biglia, dos russos do Zenit, de Hulk, e de um já cambaleante, embora sempre imponente, Milan. Invicto, vencendo um jogo contra cada um de seus adversários e empatando o outro, o time albiceleste avançou em primeiro lugar de seu grupo.

O sorteio colocou o Porto no caminho espanhol. Em relação ao time campeão da Liga Europa em 2011/12, os portugueses haviam sofrido as importantes perdas de Hulk e Falcao García. Todavia, contando com James Rodríguez, João Moutinho, Lucho González, Alex Sandro, dentre vários outros jogadores de ótimo nível, passava longe de ser um outsider — para muitos, era ainda favorito.

O Málaga perdeu na cidade do Porto. Moutinho marcou o solitário gol que deu aos Dragões a vantagem. Na volta, Isco e Santa Cruz garantiram o avanço de um cada vez mais respeitado Málaga, 2 a 0.

Então, aconteceu aquela que é uma das melhores eliminatórias da história da Liga dos Campeões. O Dortmund pintou no caminho andaluz.

Quartas de finais inesquecíveis, sobretudo para Willy Caballero


O alemães eram uma potência. Sob o comando de Jürgen Klopp, Mario Götze, Marco Reus, Robert Lewandowski, Ilkay Gündogan e companhia voavam. Mas, logo na primeira partida da eliminatória, os aurinegros perceberam que precisariam ser perfeitos para vencer. Tudo parecia que seria definido nos mínimos detalhes. Detalhes como as seis brilhantes defesas de Willy Caballero, no equilibrado 0 a 0 da partida de ida, em La Rosaleda.

Com os reflexos em dia, parou Reus, cara a cara, no primeiro tempo. Logo depois, superou Götze e novamente evitou um tento de Marco Reus. Roman Weidenfeller, arqueiro do Dortmund, também foi bem quando acionado. No segundo tempo, Götze voltou a testar Caballero que manteve sua meta imaculada. E não é que tal desempenho tenha sido propriamente uma novidade, já que o goleiro chegou a ficar quase 479 minutos sem sofrer gols na temporada 2011/12 de La Liga.


Na partida de volta, a situação pouco se alterou. Tudo bem, os gols apareceram, mas só não se acumularam infinitamente porque os goleiros voltaram a se superar. Em especial Caballero. Na partida, Joaquín colocou os espanhóis em vantagem. Logo depois, o goleiro argentino nada pode fazer para evitar que Lewandowski, que saiu frente a frente consigo, empatasse o jogo.

Pouco depois, Willy salvou os albicelestes, em nova investida de Lewa. Mesmo na pequena área, Reus também parou em um gigantesco Caballero, minutos mais tarde. Depois, foi novamente Götze quem obrigou o goleiro a fazer nova intervenção inacreditável, com os pés. Então, Eliseu recolocou o Málaga em vantagem. O Dortmund foi à luta e após falha de Demichelis, Reus diminuiu, com Caballero vendido em meio a três atletas aurinegros. E o cruel final, no minuto 48 da segunda etapa, consagrou o brasileiro Felipe Santana, autor do 3 a 2. 

Um final nu e cru


Os andaluzes reclamaram muito de um impedimento no gol derradeiro. Tinham razão. A derrota acabou sendo um pesado revés para um time que lutou tanto e, especialmente, para um goleiro que, brilhantemente, tentou levar o Málaga adiante. E foi assim que aconteceu.

Em crise, logo o Málaga deixou de pagar funcionários, clubes, impostos... Foi banido da disputa de competições europeias pela UEFA e já em 2013/14 negociou Isco, Toulalan, Joaquín, Demichelis, Júlio Baptista e Iturra. Valorizado, Pellegrini seguiu para o Manchester City.

Meses mais tarde, o Málaga recebeu a notícia de que seu proprietário não mais investiria no clube, e foi ladeira abaixo, chegando à segunda divisão. Para Caballero, as grandes atuações renderam um futuro próspero. Primeiro com a habitual reserva do City e, posteriormente, do Chelsea. Nada mal, mas um pouco menos do que se esperava de seu futuro após a inesquecível saga europeia contra o Dortmund.

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