Celtic x Rangers: A Velha Firma

Sigo escrevendo sobre os Clássicos do Mundo. O tema desta semana é um dos maiores clássicos do mundo, para muitos “O” maior, Celtic x Rangers, The Old Firm (a Velha Firma).



Glasgow, maior cidade da Escócia, é hoje uma cidade cosmopolita. Mas nem sempre foi assim. No século XIX, o território que hoje é conhecido como República da Irlanda e que na época integrava o Reino Unido da Grã Bretanha e Irlanda, passou por uma grave crise alimentícia. Conhecida como a Grande Fome. Ela se deu principalmente em decorrência da propagação de uma praga das batatas. E não só pela função alimentar da batata. Grande parte da população perdeu a sua produção. Com isso quebrou e então veio a fome, que eliminou algo entre 20 e 30% da população local.

Monumento em homenagem as vítimas da Grande Fome em Dublim-IRL

Neste período que durou aproximadamente sete anos (1845-1852), ocorreu uma maciça emigração dessa região, e aqueles cujas posses não lhes possibilitaram melhor destino, desembarcaram na Escócia. E isso gerou questões problemáticas em diversas áreas, dentre as quais a política, a economia e a religião. E é nesse contexto que em 1872 foi fundado o Rangers e em 1887 o Celtic. Clubes rivais, cuja rivalidade é explicada em boa parte pelos mesmos problemas do país.

Os fundadores
O Rangers, clube nascido em 1872, foi criado pelos irmãos Moses e Peter McNeil, Peter Campbell e William McBeath. Todos escoceses. Sendo assim, se desenvolveu como uma equipe que defendia o protestantismo anglicano, a Rainha e a unidade do Reino Unido. Outro personagem histórico cultuado pelos torcedores é Guilherme de Orange responsável pela deposição da monarquia católica em 1688. Além disso, alguns torcedores do clube chegaram a integrar movimentos unionistas armados como a Força dos Voluntários do Ulster, grupo paramilitar que anunciou o fim da luta armada em 2007 e concluiu o seu desarmamento em 2010.


Por outro lado, o Celtic, foi criado em 1887 por um Monge Marista Irlandês na Igreja de St. Mary com a finalidade de reduzir a pobreza no leste de Glasgow. Em contraposição ao Rangers, o Celtic se propagou como uma equipe católica e separatista. Para seus adeptos a Irlanda não poderia pertencer ao Reino Unido. De forma semelhante ao seu rival, alguma parte da torcida do Celtic participou de grupos paramilitares, sobretudo ao IRA (Irish Republican Army), com o objetivo de separar a Irlanda do Norte do Reino Unido. Em 2005 o IRA encerrou suas atividades.


Nesse panorama, é raro ver uma bandeira escocesa no clássico. Do lado azul, dos Rangers é comum ver bandeiras do Reino Unido, do lado verde do Celtic são as bandeiras da Irlanda que prevalecem. Apesar disso, hoje há uma forte diluição nas torcidas. Desde 1989 a equipe do Rangers permite jogadores católicos. Já o Celtic sempre permitiu a presença de jogadores protestantes.

Torcedores do Rangers com bandeiras britânicas e torcedores do Celtic com bandeiras irlandesas

No relvado a primeira vez em que Celtic e Rangers se encontraram foi em 1888, e os Celts foram vencedores, placar de 5x2. Os rivais totalizam um impressionante número de 610 partidas. Com 257 vitórias o Rangers leva vantagem. O Celtic venceu ainda 210 jogos, tendo ocorrido 143 empates.

O formato do Campeonato Escocês é um dos fatores que contribuem para o alto número de jogos entre os rivais. São disputados três turnos de pontos corridos e posteriormente a tabela é dividida  pela metade e cada time joga novamente contra as equipes que estiverem na sua metade. Com a histórica superioridade dos rivais da Velha Firma, eles sempre se enfrentam o número máximo de vezes possíveis.

Ao falarmos de títulos, tempos muita paridade. O Rangers venceu 54 vezes o Campeonato Escocês, contra 44 do Celtic, que venceu 36 copas da Escócia contra 33 do Rangers. Além disso, os azuis venceram a Copa da Liga 27 vezes, contra 14 do rival, que por sua vez já venceu uma vez, em 1967 a tão cobiçada UEFA Champions League.

Alguns casos que merecem o devido destaque são a estreia do primeiro atleta católico a jogar pelo Rangers, a falência do mesmo e também as médias de público das equipes.

O primeiro atleta católico a jogar pelo Rangers foi “Mo” Johnston em 1989. Após jogar mais de 100 partidas pelo Celtic, e passar pelo Nantes, o escocês chegou ao Rangers. O caso é curioso, pois incitou o ódio de ambos os lados. A torcida do Celtic passou a tratá-lo como traidor por ele ter decidido ir para o rival por dinheiro e a do Rangers ficou irada com o clube por ter permitido que um católico representasse as cores do clube.

Em 2012, o Rangers sofreu sua falência. Após não conseguir negociar sua dívida de £21MI a equipe foi vendida por £5,5MI, mudou de nome e, como teve de fazer novo registro na federação escocesa, foi rebaixada para a quarta divisão, de onde já ascendeu.


Um fator comum aos rivais são os grandes públicos. Na última temporada, o Celtic levou uma média de 46.917 pessoas ao Celtic Park. Já o Rangers, mesmo na quarta divisão carregou consigo uma multidão de 45.750 pessoas em média no Ibrox Stadium. Mas apesar da beleza das superlotações dos estádios, os clássicos são muito marcados pela violência, antes e depois das partidas. Segue abaixo um rápido trecho escrito pelo jornalista Franklin Foer na obra “Como o Futebol explica o Mundo":

“Nas duas horas e meia que se seguiram a uma partida realizada em maio de 1999, a polícia registrou em seu livro de ocorrências os seguintes crimes cometidos por torcedores do Rangers em seus excessos:
               
                Karl McGraorty, 20 anos, atingido no peito por uma flecha quando saía de um pub do Celtic.
               
                Liam Sweeney, 25 anos, espancado por quatro agressores num restaurante chinês.

Thomas McFadden, 16 anos, apunhalado no peito, estômago e virilha – assassinado depois de       assistir ao jogo num pub irlandês.”


Grandes jogadores já atuaram pelas duas equipes, jogadores como Gascoigne, Ronald de Boer e Brian Laudrup jogaram pelo Rangers e Kenny Dalglish, Jan Vennegoor of Hesselink, Henrik Larsson, Paolo Di Canio e o japonês Nakamura pelo Celtic. Nenhuma das equipes, porém, teve brasileiros como destaques. O melhor brasileiro a atuar no Celtic foi Juninho Paulista. Já no Rangers, este posto é do meio-campo Emerson, totalmente desconhecido no Brasil, mas que atuou em grandes equipes europeias como o Porto, o Atlético de Madrid e o Deportivo La Coruña.

Hoje o único brasileiro nos rivais é Emílson Cribari, zagueiro que fez carreira na Itália e que estava no Cruzeiro antes de defender o Rangers. Resta lembrar dois casos recentes no Celtic. O primeiro é do zagueiro Scheidt, que com desempenho horrível entra em quase todas as listas das piores contratações do clube. O outro é do lateral direito Coelho que foi para o clube fazer testes para ser vendido. Ao final dos testes o clube desistiu da compra.





Atualmente, como dito o Rangers venceu a quarta divisão e disputará a terceira do futebol escocês e o Celtic foi novamente campeão. Além do título o Celtic conseguiu chegar as oitavas de finais da Uefa Champions League nesta temporada. Abaixo as atuais formações das equipes:
























Não deixe de ler mais sobre o título Europeu do Celtic em 1967:


REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA:

FOER, Franklin. Como o Futebol Explica o Mundo. 1ª edição. Rio de Janeiro: Zahar, 2005. p 38.

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