Depois de
lembrar o timaço do Porto da temporada 2003-2004, recordo o esquadrão do
Deportivo La Coruña, da temporada 1999-2000.
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Em pé: Roy Makaay, Mauro Silva, Romero, Jokanovic, Naybet, Songo'o. Agachados: Manuel Pablo, Victor, Fran, Donato e Djalminha. |
Time: Deportivo La Coruña
Período: 1999-2000
Time base: Jacques Songo’o;
Manuel Pablo, Naybet, Donato, Romero; Mauro Silva, Flávio Conceição; Victor,
Djalminha, Fran; Makaay. Téc. Javier Irureta.
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Foto: Diario AS |
Na transição entre os séculos XX e XXI, um dos dois intrusos no duopólio que Barcelona e Real Madrid exercem na Espanha, junto com o Valencia, foi o Deportivo La Coruña. Desde o princípio dos anos 1990, impulsionado por novos investimentos — muitos deles em jogadores brasileiros —, o Dépor ganhou importância no cenário nacional. Quando se desenhou a campanha de 1999-00, os galegos já haviam sentido o gosto de um primeiro título de grande importância, com a Copa do Rei, de 1994-95. Além disso, tinham ficado com dois vice-campeonatos espanhóis, em 1993-94 (em que dependeu apenas de suas forças para levantar o caneco e falhou na hora H) e 1994-95.
No final dos anos 1990, já calejado, o time treinado por Javier Irureta finalmente encontrou a consagração nacional máxima. Aquele time confirmou a força de uma defesa bem montada e um ataque eficiente. O Deportivo teve a quinta melhor defesa de La Liga, concedendo 44 gols, em 38 rodadas, e ficando atrás apenas de Valencia, do
Zaragoza, do Alavés e do Celta. Entretanto, a equipe não se resumia a defender, apresentando também um futebol ofensivo e, com 66 bolas nas redes rivais, sagrando-se o segundo melhor ataque do certame,
atrás do Barcelona.
É necessário ressaltar, também, que o La Coruña se destacou sobremaneira na temporada por ter ido muito bem nas partidas em seus domínios, em sua fortaleza: o estádio Riazor. Em 19 jogos como mandante, foram 16 vitórias, incluindo jogos contra o Barcelona, Valencia, Real Madrid e Atlético de Madrid, um empate e duas derrotas apenas.
Grande parte de toda a solidez da retaguarda blanquiazul se deveu ao que Mauro Silva, que se tornaria o segundo jogador a mais vezes vestir a capisa do Deportivo, e
Flávio Conceição faziam, constituindo um muro à frente da defesa galega. Os dois
brasileiros, juntos, fechavam os espaços e marcavam implacavelmente seus
adversários, o que facilitava muito o trabalho dos bons zagueiros Noureddine Naybet,
marroquino, e Donato, hispano-brasileiro. Isso sem falar no veteraníssimo goleiro camaronês Jacques Songo'o. Aos 36 anos, o arqueiro, que chegara ao clube em 1996 e logo seria suplantado por José Francisco Molina, finalmente teve a chance de fazer de suas defesas algo maior.
Manuel Pablo, lenda absoluta da lateral direita do Dépor e terceiro homem que mais vezes representou os galegos, era a personificação de um pulmão no pico de suas forças, atacando e defendendo constantemente e com qualidade. Com um pouco menos de destaque individual, pela lateral esquerda, atuava Enrique Romero, jogador que entrou em campo em mais de 200 partidas pela equipe.
Manuel Pablo, lenda absoluta da lateral direita do Dépor e terceiro homem que mais vezes representou os galegos, era a personificação de um pulmão no pico de suas forças, atacando e defendendo constantemente e com qualidade. Com um pouco menos de destaque individual, pela lateral esquerda, atuava Enrique Romero, jogador que entrou em campo em mais de 200 partidas pela equipe.
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Foto: Folha Vitória |
Do meio para
frente, a equipe era só talento. Pela direita, Victor Sanchez, jogador agudo
formado no Real Madrid, era certeza de bons cruzamentos por seu flanco. Sua habilidade e velocidade tornavam-o um jogador muito difícil de ser marcado e
crucial no fomento do atacante de área. Do outro lado, a estrela era Fran, jogador que
escreveu um capítulo particular na história do Dépor. O meia-esquerda, que defendeu a equipe da Coruña por 550 ocasiões, sendo quem mais o fez, tinha como trunfos pessoais uma ótima visão de jogo e capacidade de condução de bola. Podia decidir um jogo tanto com um drible quanto assistindo a um companheiro.
Fazendo a
ligação entre defesa e ataque, no coração criativo do time galego, atuava um dos grandes gênios brasileiros: Djalminha, filho do
ex-jogador Djalma Dias. Um exemplar bem acabado de camisa 10, meio-campista de rara habilidade, dribles
desconcertantes e com uma fortíssima bola parada, o canhotinho foi a cabeça
pensante do time na trajetória para o título. Apesar disso, em função de seu temperamento difícil, foi descartado por Felipão, às vésperas da Copa de
2002, por ter dado uma cabeçada em seu técnico.
Deve-se destacar que o brilho de Djalma se deu a despeito de suas diferenças com o treinador Javier Irureta, como contou em entrevista ao UOL: "Eu não concordava com as ideias futebolísticas dele. Eu jogava, mas não concordava. Achava que nosso time poderia ser mais ofensivo, tinha jogadores para isso. Para ele, como era um treinador de mentalidade pequena, chegar em quarto, quinto ou terceiro, estava excelente...".
Deve-se destacar que o brilho de Djalma se deu a despeito de suas diferenças com o treinador Javier Irureta, como contou em entrevista ao UOL: "Eu não concordava com as ideias futebolísticas dele. Eu jogava, mas não concordava. Achava que nosso time poderia ser mais ofensivo, tinha jogadores para isso. Para ele, como era um treinador de mentalidade pequena, chegar em quarto, quinto ou terceiro, estava excelente...".
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Foto: AllsportUK/Getty Images |
Seja como for, à frente um
matador implacável ostentava a camisa 7 do clube e garantia que não faltassem motivos para a torcida comemorar. Roy Makaay, centroavante
holandês frio e calculista, dono de um cabeceio de impressionante
aproveitamento e capaz de marcar gols de todas as formas possíveis era a referência na ponta final daquela equipe. Até mesmo o apelido que ganhou no curso de sua carreira remete à impressionante capacidade para fuzilar as metas adversárias: “The Phantom” (O Fantasma). Isso devido à sua capacidade de fazer gols aparecendo nas condições mais improváveis
possíveis.
O holandês tinha uma missão: matador. E a exerceu com maestria. Ele foi o quarto colocado na artilharia de La Liga, com 22 gols, ficando atrás de Salva, Jimmy Floyd Hasselbaink e do hispano-brasileiro Catanha. Na temporada completa, foram 29 gols.
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Foto: Andreas Rentz/Bongarts/Getty Images |
O clube contava, ainda, com bons jogadores entre os reservas. Atletas famosos como o goleador português Pauleta,
os argentinos Lionel Scaloni e Toro Flores, além do sérvio Slavisa Jokanovic, que mais tarde se transferiria para o Chelsea, compunham o elenco do Deportivo. Ou seja, além da ótima equipe titular, o treinador Javier
Irureta tinha opções no banco de reservas.
Ficha técnica dos jogos importantes da campanha do clube no Campeonato Espanhol:
8ª rodada do Campeonato Espanhol: Deportivo 4 x 1 Málaga
Gols: Catanha ’14 (Málaga), Donato ’36, Djalminha 57’ e 73’, Víctor ’66
(Deportivo)
Deportivo: Songo’o; Scaloni (Manuel Pablo), Naybet, Donato, Romero; Flávio
Conceição, Jokanovic, Djalminha (Toro Flores) e Victor; Pauleta (Fernando) e
Makaay. Téc. Irureta.
Málaga: Contreras; Larrainzar, López Bravo, Rojas (Luque), Valcarce;
Fernando Sanz (Movilla), Rufete, G. de Los Santos, Sandro; Catanha e Edgar.
Téc. Peirò.
10ª rodada do Campeonato Espanhol: Deportivo 2 x 1 Barcelona
Gols: Roy Makaay ‘1 e ’15 (Deportivo) e Rivaldo ‘66
Deportivo: Songo’o; Manuel Pablo, Naybet, Donato e Romero; Mauro Silva,
Jokanovic, Victor (Scaloni) e Djalminha; Roy Makaay (Pauleta) e Toro Flores
(Fernando). Téc. Irureta.
Barcelona: Arnau; Reiziger, Dehu (Puyol), Abelardo (Simão), Sergi; Guardiola,
Cocu, Gabri (Ronald de Boer) e Figo; Rivaldo e Dani. Téc. Van Gaal.
23ª rodada do Campeonato Espanhol: Deportivo 5 x 2 Real Madrid
Estádio Riazor, La Coruña

Deportivo: Songo’o; Manuel Pablo,
Donato, Schürrer e Romero; Mauro Silva, Jaime; Victor, Djalminha (Toro Flores),
Fran (Fernando); Roy Makaay (Pauleta). Téc. Irureta
Real
Madrid: Casillas; Michel Salgado, Hierro, Sanchís e
Roberto Carlos; Helguera (Meca), Karanka, Redondo e Guti (McManaman); Raúl e
Morientes (Ognjenovic). Téc. Vicente Del Bosque
28ª rodada do Campeonato Espanhol: Deportivo 2 x 0 Valencia
Estádio Riazor, La Coruña
Deportivo: Songo’o; Manuel Pablo, Donato, Schürrer e Romero; Flávio
Conceição, Jokanovic; Victor, Djalminha (Scaloni) e Fran (Fernando); Roy Makaay
(Pauleta). Téc. Irureta
Valencia: Cañizares; Bjorklund, Dukic, Carboni e Angloma; Gerard, Mendieta,
Farinós, Kily González (Angulo) ; Cláudio López (Óscar) e Adrian Ilie (Juan
Sanchez). Téc. Héctor Cúper.
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