O Brasil é Palestra

Uma semana que consagrou o óbvio. Cruzeiro campeão da série A e Palmeiras campeão da Série B. Trajetórias com inícios, meios e fins semelhantes. Muitos acertos e poucos erros (que existiram), boa administração das crises, e frieza na hora das decisões. O Cruzeiro foi aos poucos calando um a um, os analistas que não o apontaram como candidato ao título. Já o Palmeiras, apesar do constante ambiente de cobrança, cumpriu com honradez seu papel e retornou à elite. De origens semelhantes, Cruzeiro e Palmeiras, merecem, ao fim desse ano, as devidas reverências. Conto um pouco da rota percorrida pelos clubes de procedência ítalo-brasileira.


* Colaborou o nobre amigo Gabriel Freitas, estudante de jornalismo da UniBH.



Um trabalho de reestruturação

O fim de 2012, não foi dos mais empolgantes para torcedores de Cruzeiro e Palmeiras (evidentemente que foi pior para os alviverdes). Times desestruturados, futebol feio, e um amontoado de maus jogadores desanimavam quem ousasse assistir os jogos dos clubes. Nesse sentido era necessária uma limpa bem extensa nos elencos. Do Palmeiras saíram jogadores como Obina, Daniel Carvalho, Roman, Thiago Heleno, Corrêa, Tinga, todos com salários altos e vivendo mau momento. Já o Cruzeiro se livrou de nomes como Diego Arias, Mateus, Souza, Amaral, Diego Renan, Sandro Silva e Alex Silva, que se encontravam em situação semelhante à dos alviverdes.

Com o grande volume de dispensas e vendas, surgiu a necessidade de contratar muitos jogadores, e foi o que as equipes fizeram. O primeiro semestre foi uma espécie de “laboratório”. Quem foi bem ficou e quem foi mal saiu. Nisso temos grandes exemplos de sucesso e fracasso. O sucesso do Cruzeiro responde, principalmente, pelos nomes de Everton Ribeiro e Nílton, já o insucesso tem como nome principal o meia Diego Souza (foto à esquerda). Do lado palmeirense o melhor representante dos acertos é o goleiro Fernando Prass, já o erro principal foi a contratação do atacante Kléber (foto à direita) do Porto-POR.

Outra situação complexa e comum às duas equipes foi a perda de seu principal Craque. O Cruzeiro negociou Montillo com o Santos, por uma bela quantia e a volta do volante Henrique e o Palmeiras vendeu Barcos para o Grêmio, ganhando um valor, abatendo uma dívida com a LDU e recebendo por empréstimo, Léo Gago, Leandro, Vilson e Rondinelly. No fim das contas os negócios acabaram fortalecendo os clubes, que se aproveitaram dos jogadores que vieram como contrapeso e ainda tiveram dinheiro em caixa.



Por fim, outra circunstância que foi comum aos “Palestras”, foi o aproveitamento de boas oportunidades no mercado de transferências, assim, o Palmeiras contratou sem custos o uruguaio Eguren e conseguiu os empréstimos de Alan Kardec e Felipe Menezes (foto à esquerda). Já o Cruzeiro conseguiu trazer sem custos o experiente Júlio Baptista e conseguiu com a venda do meia Diego Souza, um bom dinheiro o empréstimo do excelente atacante William (foto à direita).


O sucesso dos Rivais

Outro fator que coincidiu para o alcance deste grande momento dos vitoriosos, foram os grandes resultados obtidos pelos seus rivais. O Corinthians terminou 2012 campeão da Libertadores e do Mundo, já o Atlético venceu o mineiro e a Libertadores de 2013. Isso tudo mexeu com a emoção dos jogadores, o trabalho das diretorias e o brio dos jogadores.

Contornando crises


Outro ponto em que os clubes mostraram que mereciam vencer foi na boa gestão das suas crises. O Palmeiras de Kleina soube muito bem gerir os problemas em campo (e extracampo) do craque Valdivia (foto), levando-o a render muito bem quando presente. Já nas derrotas o clube também se mostrou bem administrado, pois tinha um objetivo único – retornar à elite –. As eliminações no Paulista, Copa do Brasil e Libertadores, foram tratadas com tristeza, mas, reconhecendo que estas competições não eram o foco do ano alviverde, o clube seguiu sua trajetória.


Já o Cruzeiro, vivendo um ano à sombra da conquista da Libertadores do Atlético, viveu alguns poucos maus momentos durante o ano. A derrota no Campeonato Mineiro (foto), após conseguir a melhor campanha da primeira fase e a eliminação da Copa do Brasil, contra um então desestruturado Flamengo, doeram, mas a procura por dar uma resposta ao rival, combinada com o grande trabalho de Marcelo Oliveira, Alexandre Mattos (Diretor de Futebol) e Gilvan Tavares (Presidente), blindaram o elenco que só caiu de rendimento no fim da competição, com o título praticamente assegurado.

Treinadores pouco badalados


Logo quando foi anunciado como técnico do Cruzeiro no início do ano, Marcelo Oliveira (foto) foi bastante questionado por alguns torcedores. A razão? Um passado histórico no rival Atlético. Apesar disso, rapidamente percebeu-se uma evolução grandiosa do futebol da equipe, principalmente se compararmos o desempenho alcançado, com o da última, e fraca, temporada. Mostrando um esquema de jogo consistente e exaustivamente treinado, o Cruzeiro foi construindo, passo a passo, sua estrada para a glória. O espírito de grupo, incutido por Marcelo, trouxe de volta a motivação da torcida, os resultados foram aparecendo e a empolgação aumentou, assim, o antes contestado treinador, passou a fazer parte da história Celeste.


Do lado palmeirense, Gilson Kleina (foto), chegou para apagar um incêndio. Seu objetivo era evitar o inevitável, impedir a queda do outrora “Imponente” alviverde. Embora não tenha conquistado essa meta, acertadamente o treinador foi mantido. Querido pelo elenco, aos poucos ganhou a confiança do torcedor. Sempre com os pés no chão, Gilson tratou a Série B como uma obrigação, assim venceu-a com sobras. A manutenção de uma base e o acerto em algumas contratações livrou o Palmeiras do pesadelo da série B, e muito disso deveu-se ao responsável e sério trabalho de Gilson Kleina. Apesar da incerteza sobre seu futuro no clube, nada seria mais justo, do que a manutenção do comandante da “cruzada segundina” que retomou a Imponência da grande história do Palmeiras.


Os caras das conquistas:


No campo, os destaques principais das equipes foram Everton Ribeiro e Nilton (foto), pelo Palestra Mineiro e Alan Kardec, Leandro e Henrique pelo Palestra Paulista. Everton Ribeiro foi o protagonista do Cruzeiro. O gênio dos belos gols. Seus passes, dribles e, principalmente, seus gols, perdurarão indeléveis na memória dos Cruzeirenses. Se Everton foi o representante do belo futebol do Cruzeiro, Nilton representou a força. Firme na defesa, técnico, bom finalizador e dotado de ótima presença na área adversária, Nilton afirmou-se como um dos ídolos da torcida Celeste.

No Palmeiras, Leandro, representou o talento e a juventude, brilhando durante a maior parte do ano alviverde, Alan Kardec (foto), que chegou durante a competição, foi referência de garra, oportunismo e até mesmo de técnica, marcando muitos gols e auxiliando seus companheiros. Já Henrique foi o líder do time. Seu excelente desempenho levou-o mais uma vez a ganhar chances na Seleção Brasileira.



As revelações:

Durante a campanha do Cruzeiro, a presença de atletas formados na base do clube foi corriqueira. A velocidade de Mayke, a forte marcação de Lucas Silva (foto) e o faro de gol de Vinicius Araújo mostraram a grande qualidade da base do clube Celeste. Unida à coragem e a experiência de Marcelo Oliveira para lançar garotos da base no time principal, estas três joias do Cruzeiro impressionaram pela maturidade e grande futebol. Destaque maior para Lucas Silva, que agarrou com firmeza a oportunidade concedida e cavou seu lugar entre os titulares. Suas principais características: o excelente passe e boa finalização.

Já no Verdão, a Série B oportunizou, principalmente para três jogadores, o amadurecimento. Todos eles já eram profissionais, mas faltava-lhes o empurrão para a afirmação. O lateral direito Luiz Felipe, pretendido pelo Benfica, e os atacantes Vinícius e Leandro (foto), encararam com naturalidade a tarefa de levar o Palmeiras de volta à série A. Suportados pela experiência de Fernando Prass, Henrique, Valdívia e Wesley, e recebendo moral de Gilson Kleina, os três jogaram muito bem, tendo sido importantíssimos na campanha do clube. O principal destaque dos três foi o veloz atacante Leandro, que ganhou, inclusive, chance na Seleção Brasileira, ocasião em que deixou sua marca no placar.


Os esquadrões:

Em pé: Rafael, Júlio Baptista, Henrique, Lucas Silva, Souza, Fábio, Dedé, Léo e Leandro Guerreiro.

Agachados: Mayke, Lucca, Élber, Everton, Tinga, Luan, Vinícius Araújo, Alisson, Borges, Egídio, Ricardo Goulart, William e Dagoberto.

Lembrados acima Everton Ribeiro e Nilton
Em pé: Eguren, Fernando Prass, M. Oliveira, Felipe Menezes, André Luiz, Alan Kardec, Tiago Alves, Renatinho e Bruno.
Agachados: Ronny, Leandro, Juninho, Márcio Araújo, Ananias, Serginho, Wendel, Charles, Bruno Oliveira e Rondinelly.



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