Não é hora de lamentar, Liverpool!

O final da temporada do Liverpool trouxe, para o torcedor, a decepção. Faltando três rodadas para o termo do Campeonato Inglês, o clube tinha o título mais que em suas mãos e a conquista – que não vem desde 1989-1990 – era aguardada com ansiedade. Contudo, uma sequência de 11 vitórias teve fim contra o Chelsea, na derrota por 2x0, válida pela 36ª rodada. O baque foi sentido e o clube apenas empatou contra o modesto Crystal Palace, na rodada sequente. Apesar de o título não ter voltado ao estádio Anfield Road, na terra dos Beatles, há o que comemorar.




O simples fato de o clube ter voltado a brigar pelo título nacional já mostra evolução. Se serve como critério de comparação, na temporada passada o clube foi, apenas, o sétimo colocado. Desde a temporada 2008-2009, o clube não brigava pelo título, tendo sido esta, também, a última vez em que os Reds se classificaram para a UEFA Champions League – competição da qual a equipe já saiu vencedora em cinco ocasiões.

O reerguimento do Liverpool trouxe de volta, não só bons resultados, como também bom futebol. Durante grande parte da competição, o clube encantou. Com o uruguaio Luis Suárez e o inglês Daniel Sturridge no ataque, na Premier League, o clube balançou as redes rivais 101 vezes, média de 2,65 gols marcados por jogo. Em 38 jogos, só passou em branco em três ocasiões, as derrotas ante o Southampton (1x0), Arsenal (2x0) e Chelsea (2x0).

Outra ocorrência que convém ressaltar, é o renascimento do Anfield Road, na condição de estádio a ser temido. Em 19 jogos, os Reds conquistaram 16 vitórias, empatando uma partida e perdendo outras duas. A casa do Liverpool foi, ainda, palco de verdadeiros espetáculos, casos das vitórias do clube sobre o Arsenal (5x1), Tottenham (4x0) e Everton (4x0). Dos clubes que postularam as primeiras posições, o Liverpool só não se superiorizou, em seus domínios, face ao Chelsea, na fatídica derrota na 36ª rodada.

Com o esteio de jogadores experientes (casos de S. Gerrard, G. Johnson e D. Agger), jogadores jovens tiveram a tranquilidade para se firmar e o futebol de muitos jovens evoluiu, absurdamente. 

Os casos mais emblemáticos foram, sem dúvidas, os de Raheem Sterling, de 19 anos, Jordan Henderson (foto, à direita), 23, Philippe Coutinho, 21, e Jon Flanagan (foto, à esquerda), 21. O primeiro, extremamente habilidoso e veloz, foi a principal válvula de escape da equipe, circulando por toda a faixa ofensiva do campo. Henderson e Coutinho amadureceram, passando a apresentar um futebol de constante qualidade, e Flanagan solucionou o problema da lateral esquerda do clube. Ala direita de origem, foi o único jogador que, com a grave lesão de José Enrique – que pouco atuou na temporada –, se firmou no setor (por lá passaram Aly Cissokho, G. Johnson, Mamadou Sakho e Daniel Agger).

Mas nem só os jovens evoluíram. O capitão e ícone do clube, Steven Gerrard (foto), também cresceu na temporada. Fixado à frente dos zagueiros, como primeiro volante, ditou o ritmo da equipe. Fazendo a saída de bola, como autêntico líbero, o inglês foi o grande responsável pelo início da construção ofensiva do clube. Ademais, participou diretamente de 26 gols da equipe, com 13 gols (a maioria de pênalti) e 13 assistências. Seu gradual recuo no campo lembra o de outros grandes jogadores, como o do alemão Lothar Matthäus.

Dois outros pontos não podem deixar de ser citados. O ataque e o goleiro. Na frente, Luis Suárez e Daniel Sturridge foram absolutamente letais. Juntos, anotaram 52 gols e concederam 30 assistências, desempenho absurdamente eficiente dos dois artilheiros máximos do torneio, que, não só foram eficientes nos números, mas também encheram os olhos dos amantes do futebol com lances de rara beleza e muito entrosamento. 

Lá atrás, quando a meta do clube foi ameaçada, o arqueiro belga, Simon Mignolet, sucessor de Pepe Reina, além de ter dado conta do recado, foi um dos grandes destaques do time, dando muita segurança.
Luis Suárez e Daniel Sturridge

Considerando a diferença gritante de orçamento do Liverpool, em relação a seus concorrentes diretos, sobretudo Manchester City e Chelsea, nota-se que o clube foi homérico na competição. Mas, foi notória, em alguns momentos a necessidade de mais peças no elenco do clube. Por tudo isso, a temporada, apesar do desiludido final, deve ser vista com bons olhos. O que Brendan Rodgers fez foi impressionante. O estilo ofensivo, marca do treinador, foi levado ao extremo.

Entretanto, para que o clube se mantenha em ascensão, reforços são necessários para a próxima temporada, além, é claro, da manutenção do elenco atual. O setor defensivo, prioritariamente, deve ser reforçado, já que foi muito vazada (a pior, em comparação com seus concorrentes).

Com média de 98,7% de ocupação do estádio (cerca de 44.668 torcedores por jogo), o clube foi carregado e carregou seu torcedor. Com muita alma, a chama do clube, que parecia ter se apagado nos últimos anos, reacendeu. Se no início da temporada o clube não era considerado favorito ao título, para a próxima não poderá ser descartado, peso com o qual o escrete vermelho terá de lidar. No momento, a direção precisa fazer o balanço da temporada, que foi, indubitavelmente positiva, devolvendo o orgulho ao torcedor, que nunca deixou o clube caminhar sozinho.

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