Os melhores técnicos da Europa em 13/14

Ao final de cada temporada, muitas são as votações para melhor jogador e seleção ideal do período. O que pouco se vê é o fornecimento dos devidos créditos aos comandantes das equipes, os treinadores. Muitas vezes donos de trabalhos fantásticos, ficam à margem do sucesso individual de seus atletas. Com a intenção de não deixar que alguns grandes profissionais passem despercebidos, selecionei aqueles que, para mim, foram os melhores da temporada europeia, cujo fim está próximo.


Brendan Rodgers – Liverpool

Dono de uma filosofia muito própria e com uma pitada de algumas escolas diferentes, o irlandês do norte levou o Liverpool ao impensado. Com um elenco muito menos rico que o de seus concorrentes na esfera nacional, Rodgers construiu uma equipe que joga futebol bonito e envolvente.

Alternando entre os esquemas 4-1-4-1 e 4-3-3, o treinador tornou seu capitão Steven Gerrard um primeiro volante (por vezes até mesmo líbero) com excepcional saída de bola, conseguiu domar Luis Suárez, que continuou sendo um grande artilheiro, mas também se confirmou importante garçom e conseguiu amadurecer tática e tecnicamente Daniel Sturridge, Philippe Coutinho, Raheem Sterling e Jordan Henderson.  Com muita posse de bola (algo que já prezava quando treinou o Swansea City), inversões de jogo constantes e letalidade à frente da baliza, os Reds renasceram e Rodgers é, indubitavelmente, o principal responsável.

O problema central da equipe é a quantidade de gols que sofre. Na Premier League, a equipe concedeu 46 gols, contra 26 do Chelsea e 35 do Manchester City. Apesar disso, o setor também possui destaques. O goleiro belga Simon Mignolet, sucessor de Pepe Reina, firmou-se como um dos melhores goleiros da temporada e o lateral direito improvisado na esquerda Jon Flanagan evoluiu assustadoramente, tornando-se um dos xodós da torcida que o tem chamado de “Red Cafu”.

Carlo Ancelotti – Real Madrid

Dominar um time repleto de grandes egos não é tarefa fácil para ninguém. Que o diga José Mourinho, antecessor de Ancelotti no comando Merengue. Aparentemente, o italiano, que conquistou duas UEFA Champions League pelo Milan, conseguiu tal feito.

Com a lesão grave de Sami Khedira, transformou Luka Modric em volante e titular, o que melhorou sensivelmente a saída de bola da equipe e, ainda, eliminou um foco de insatisfação no elenco, uma vez que o croata não estava satisfeito com a reserva. Além disso, modificou o argentino Angel Di María de posição, firmando mais pelo centro do campo e pela esquerda (sua posição original era a ponta direita), e transformou um jogador extremamente talentoso – mas muito individualista – num atleta exemplarmente dedicado e útil. Ademais, conseguiu acalmar os ânimos dos “nervosos” Pepe e Sérgio Ramos, diminuiu as insatisfações do goleiro Iker Casillas, que agora alterna-se com Diego López na titularidade e, ainda, conseguiu encaixar Gareth Bale no time titular, mantendo todas suas estrelas na titularidade e satisfeitos.

A enormidade de seus feitos psicológicos e táticos confirma-se com a chegada do Real Madrid à final da UEFA Champions League, algo que não ocorria desde a temporada 2001/2002.

Diego Simeone – Atlético de Madrid

Ídolo do Atleti desde os tempos de jogador, Cholo Simeone conseguiu feitos incomensuráveis no comando de seu time. Quando assumiu a equipe na temporada 2011/2012, na 18ª rodada do campeonato a equipe vivia momento conturbado. O detalhe mais interessante? Dos 11 titulares daquele time, sete ainda estão no elenco, e outros cinco que estavam no banco também.

Simeone, com um trabalho extremamente dedicado, manteve a base de seu time e conseguiu extrair de seus comandados o que de melhor podem apresentar. O “time de Libertadores” como asseverou com imensa felicidade o narrador Paulo Andrade, da ESPN, firmou-se como uma equipe talentosa, mas, sobretudo, dona de incrível espírito de equipe e de luta. Não à toa o time chega a esta altura da temporada na liderança do Campeonato Espanhol e à final da UEFA Champions League, com a melhor defesa em ambos os torneios e tendo como principal destaque o atacante hispano-brasileiro Diego Costa.

O mais impressionante trabalho de Simeone foi a recuperação e a reciclagem de atletas como o volante Tiago, o lateral Juanfran (que ele criou, afinal, Juanfran era meia direita), do meio-campo Raúl García e do zagueiro Miranda, que viveu maus momentos em sua chegada  à Madrid.

Jorge Jesus – Benfica

No comando Encarnado desde 2009, quando chegou credenciado por seu bom trabalho no Braga, Jorge Jesus já viveu de tudo no clube. Grandes glórias e grandes fracassos fazem parte de sua trajetória, mas nesta temporada seu lugar está entre as láureas.

Com uma base de jogadores remanescentes da temporada passada, o treinador pôde fazer contratações pontuais acertando em sua maioria. Se anteriormente seu foco foram jogadores sul-americanos, nesta temporada sua aposta foi em jogadores do leste europeu, casos dos sérvios Ljubomir Fejsa (que substituiu com propriedade o excelente Nemanja Matic, outro sérvio), Lazar Markovic, Filip Djuricic e Miralem Sulejmani. Ademais, alguns jogadores ganharam espaço na equipe como o jovem André Gomes e o argentino Enzo Pérez, que teve problemas de adaptação à equipe.

A mistura de diferentes escolas futebolísticas deu mais consistência ao Benfica, e as provas disso são o título português e a chegada à final da Europa League. Ano passado Jesus bateu na trave e balançou no comando da equipe, nesta retornou com tudo.

Leonardo Jardim – Sporting CP

O Sporting viveu nos últimos tempos um gradual processo de “apequenamento”. Seu posto de terceira força do futebol português ficou, inclusive, em jogo, com o fortalecimento do SC Braga. No entanto, desde a subida à presidência do jovem Bruno de Carvalho, que apostou suas fichas no treinador Leonardo Jardim, a situação mudou.
Jovem, 39 anos, o treinador é mais um que fez seu nome no Braga, chegando ao clube lisboeta após uma passagem pelo Olympiacos da Grécia. E pareceu ter sido escolhido a dedo, como demonstra o perfeito encaixe de seu modo de trabalho com as necessidades do Sporting.

Sem dinheiro o clube decidiu apostar no que faz de melhor, jogadores da base. Com Jardim, jogadores como Adrien Silva e Cédric Soares ganharam confiança e chances na Seleção Portuguesa. Mas quem mais aproveitou o momento foi o também jovem William Carvalho que, após empréstimos, assumiu o meio-campo dos Leões e tem chances de ir à Copa. Um time aparentemente enfraquecido ganhou coesão e se superiorizou ao Porto, recente papão de títulos em Portugal. 

Mauricio Pochettino – Southampton

Surpresa no Campeonato Inglês durante a maior parte da competição o Southampton, famoso por ter revelado jogadores como Gareth Bale, Theo Walcott e Alex Oxlade-Chamberlain, apostou novamente em sua melhor receita receita e está colhendo frutos.

Sob o comando do argentino Mauricio Pochettino, jovens jogadores como James Ward-Prowse, Calum Chambers, Luke Shaw e Sam Gallagher ganharam muitas oportunidades e as tem aproveitado. O treinador conseguiu ainda conduzir o excelente Adam Lallana, capitão da equipe, à melhor fase de sua carreira e também Jay Rodríguez, jogador de sabido talento, mas que não deslanchava.

A prova cabal do sucesso dos Saints é a possibilidade de levarem três jogadores à Copa do Mundo, o lateral esquerdo Luke Shaw, Lallana e o centroavente Ricky Lambert (e os três poderiam ser quatro, não fosse a grave lesão sofrida por Rodríguez). Pontos para o treinador que pouco contratou na temporada (foram apenas três contratações).

Roberto Martínez – Everton

Famoso por tornar o fraco Wigan “incaível”, Martínez não evitou o descenso de sua anterior equipe na última temporada, mas coroou sua passagem por lá com o título da FA Cup. Desde que chegou à Liverpool, tem tido oportunidades melhores de mostrar suas qualidades, o que tem feito com muito êxito.

A evolução técnica do jovem Ross Barkley e a adaptação excelente do ex-meia Seamus Coleman à lateral direita são alguns dos muitos méritos do treinador. Optando por um esquema que alterna entre o 4-1-4-1 e o 4-2-3-1, o espanhol mesclou experiência e juventude de forma louvável. O goleiro Tim Howard, o zagueiro Sylvain Distin e o volante Gareth Barry tem dado muito suporte para atletas jovens como John Stones, James McCarthy, Gerard Deulofeu e Romelu Lukaku.

Após um bom tempo o Everton voltou a encantar seus torcedores. Com futebol ofensivo e uma defesa quase intransponível (a terceira melhor do campeonato), o clube não se abateu com a saída de sua principal referência, o belga Marouane Fellani, nem tampouco com a saída de David Moyes, seu treinador há mais de 10 anos.

Martínez conseguiu, como poucos, fazer uma bela sucessão no comando dos Toffees.

Rudi García – Roma

Famoso por ter levado o modesto Lille ao título francês, Rudi García ficou marcado por gostar de times que jogassem de forma muito ofensiva, sempre com jogadores abertos pelos flancos e muita movimentação.

Sua equipe na Roma é um reflexo melhorado do Lille que comandou em seu melhor momento.  Confiança num goleiro experiente (antes o francês Landreau, agora o italiano De Sanctis), opção por uma zaga com boa técnica, escolha por um meio-campo com um destruidor e dois controladores de jogo (preteritamente Mavuba, Obraniak e Cabaye, e, agora, De Rossi, Strootman e Pjanic) e atacantes móveis, um deles, inclusive seu ex-comandado, o marfinense Gervinho, fazem parte das ideias básicas do treinador.

Apoiado por seus jogadores, como refletem algumas declarações do craque e bandeira romanista, Francesco Totti, e convicto de suas ideias, Rudi García subiu mais um degrau no hall dos grandes treinadores atuais e é pena que não conquiste o Campeonato Italiano, pois hoje ele tem nas mãos o que muitos consideram o time da Roma que joga o futebol mais bonito de sua história.

Menções honrosas:

Ernesto Valverde  Athletic Bilbao

Frank De Boer – Ajax

Gus Poyet  Sunderland

Manuel Pellegrini  – Manchester City

Murat Yakin – Basel

Pep Guardiola  Bayern de Munique

Unai Emery – Sevilla

Vicenzo Montella – Fiorentina

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