Nem o futebol escapou na Faixa de Gaza

Marcada há anos por intensos conflitos armados, entre Israel e o Hamas, a Faixa de Gaza é um dos lugares mais sofridos do mundo. Apesar disso, como em quase todas as partes do globo, os habitantes têm no futebol uma das poucas razões para sorrir e libertar-se, ainda que por apenas 90 minutos, da tensão diária que assola a localidade. Todavia, neste momento, nem o esporte bretão está conseguindo resistir aos problemas.


Ahed Zaqout, ícone do futebol e vítima da guerra




Diversos e díspares são os acontecimentos que têm atingido o futebol na Faixa de Gaza. Dentre eles,  o mais impactante foi, possivelmente, a morte do maior jogador e entusiasta do futebol local. Aos 49 anos, Ahed Zaqout não mais atuava, mas possuía um programa esportivo na televisão local e era treinador. Conquanto nunca tenha rompido as fronteiras de Gaza rumo ao futebol mundial, Zaqout  que chegou a ter destaque em um amistoso contra a França, em 1993, partida que contou com a ilustre presença de Michel Platini  era tratado como um verdadeiro herói no país. Sem qualquer envolvimento político com as causas da interminável contenda, foi mais uma das inocentes vítimas do conflito.

Outro impacto notório é sobre os Campeonatos locais. Divididos em três divisões, 56 clubes estão parados e, enquanto não houver um cessar fogo minimamente definitivo, não voltarão às suas atividades habituais. Vale ressaltar que, segundo o The National, periódico dos Emirados Árabes, os encontros futebolísticos de Gaza  levam em média 25 a 30.000 pessoas, demonstrando um alcance impressionante do esporte. Hoje, a região conta com cinco estádios de futebol, e, até 2012, contava com mais um, o Central Stadium, bombardeado na operação “Coluna de Nuvens”.

Além disso, outro fato lastimoso, que tem se repetido há tempos, aconteceu em maio deste ano, quando o Estado de Israel negou vistos para cinco jogadores que se juntariam à Seleção Palestina, que, pela primeira vez em sua existência, conseguiu a classificação para a disputa da Copa da Ásia, que acontecerá na Austrália, em 2015.

Apesar de todo o impacto que a guerra tem trazido para a sociedade palestina que vive em Gaza, e, especificamente sobre o futebol, a maior tristeza é a violência contra os civis inocentes. Curiosa e tristemente, no último mês, quatro crianças de uma mesma família, que não estavam fazendo nada senão divertirem-se jogando futebol, foram alvos de bombas. E este, é só um dos vários exemplos das consequências selvagens da guerra.

Contudo, apesar de todas as lágrimas e o sangue derramados no conflito, algo segue sendo impressionante. Como em outras partes do mundo, o futebol, e o esporte em geral, segue sendo uma válvula de escape para a população. E não é como um “ópio para o povo”, mas como uma lufada de esperança. Em 2010, por exemplo, com toda a sua fronteira bloqueada, com muitas dificuldades de acompanhar a Copa do Mundo da África do Sul, a Federação Palestina de Futebol promoveu a Copa do Mundo de Gaza, distribuindo atletas locais em 16 equipes que representaram países de todo o mundo.


* Vídeo promocional da Copa do Mundo de Gaza, 2010

Ainda assim, o futebol não é uma opção de vida para os palestinos de Gaza. Sem recursos, a maioria dos jogadores tem outros empregos além-futebol, como definiu o capitão do Gaza Sports Club, Assim Abu Hassi, em entrevista concedida no final de junho:

“Jogar futebol não é uma maneira de fazer uma vida na Palestina, você não pode dar suporte à sua família com ele. Nós jogamos porque queremos mostrar ao mundo que existimos, que a Palestina existe. Os garotos pobres aqui em Gaza buscam o futebol. Essa é a melhor forma de nos mostrarmos para o mundo.”

Além de ser uma forma de conforto, o futebol também dá esperança ao povo. Bashar Abu Qeriya, de 16 anos, é considerado um dos jogadores mais promissores de todos os tempos no país, chamado, inclusive de Messi de Gaza. Seu sonho? “Eu quero jogar pelo Liverpool,” diz.

Seja como desafogo ou como esperança para o povo, o futebol tem um papel vital em Gaza. Entretanto, nem seu mágico poder tem sido suficiente para diminuir os impactos de uma guerra interminável. Pelo povo, o esporte tem que continuar resistindo, para garantir que consiga persistir existindo. 

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