West Ham: um estranho no ninho

Pense rapidamente: quais os times favoritos às primeiras posições do Campeonato Inglês? Chelsea, Manchester City e United, Arsenal e Liverpool. Quando muito, valeriam as apostas em Everton, Tottenham e no ascendente (e extremamente interessante) Southampton. O que definitivamente não se poderia prever era o excelente desempenho do West Ham, atual quarto colocado, disputadas nove rodadas. Entretanto, alguns fatores justificam o bom momento dos Hammers.




Uma dupla de ataque entrosada e sedenta por gols

Com uma baixa média de gols na temporada 2013-2014 (1,05 por partida), a direção do clube londrino buscou novas opções no mercado.  Assim, chegaram Enner Valencia, ex-jogador do Pachuca-MEX e autor de três gols na Copa do Mundo, Diafra Sakho (foto), ex-Metz e vice-artilheiro da Ligue 2, e Mauro Zárate, talentoso argentino que veio do Vélez Sarsfield e passou por Lazio e Inter de Milão. Estes três se juntaram a Carlton Cole e Andy Carroll.

Quando muito se poderia esperar do argentino, o que tem se visto é o sucesso da dupla Valencia-Sakho. Entrosados e donos de características semelhantes, ambos tem qualidade técnica para jogar enfiados na área adversária e também para circular pelos flancos do ataque. Juntos, já marcaram oito gols na Premier League e têm sido determinantes para a melhora da média de gols da equipe, no momento, de 1,89 por partida.

A lesão de Andy Carroll

Considerando o valor que foi dispendido pelos Hammers quando da contratação do centroavante inglês, sua lesão poderia representar desespero para o torcedor. Contudo, sua média de gols e custo benefício têm mostrado que não vale a pena contar com o jogador. Os £ 15 milhões gastos em sua negociação mostram que cada um de seus nove gols marcados pelo clube (em 40 jogos) custaram quase £ 1,7 milhão.

Além de seu fraco desempenho individual, sua ausência permite que a equipe mostre um leque maior de jogadas, não se limitando a alçar bolas na área adversária. Sem uma grande referência, o West Ham tem se mostrado muito mais forte.

A força defensiva e imposição de Alex Song

Volante de enorme força e razoável qualidade técnica, Alex Song (foto) foi, durante algum período, peça muito importante no Arsenal, onde atuou por quase sete anos. Contudo, no Barcelona não conseguiu ter um bom desempenho, muito em função do estilo de jogo altamente técnico da equipe catalã.

De volta à Premier League, o camaronês tornou a mostrar ótimo desempenho. Em uma liga mais intensa, que muitas vezes privilegia a capacidade física dos jogadores, Song cresceu e tem sido um leão. Excelente na recuperação de bolas e na proteção do setor defensivo, tem dado enorme estabilidade à equipe, que ganhou em dinâmica e diminuiu os problemas de sua lenta defesa, que, melhor protegida, limita-se a rebater bolas e raramente fica frente-a-frente com um adversário.

Outro ponto a se ressaltar com a entrada de Song no time é que, com ele, o time fica mais organizado e os outros meio-campistas ganham mais liberdade e senso para se movimentarem, o que produz muitas ocasiões de gol para os Hammers. Não restam dúvidas de que o camaronês foi uma tacada precisa e preciosa da direção do clube.

Algumas jogadas muito treinadas

Muitos contestam o treinador Sam Allardyce por privilegiar um estilo de jogo “rústico”. A verdade é que o comandante trabalha com o que tem. Se, na temporada passada, contava basicamente com atletas cujas melhores qualidades são os lançamentos longos e a jogada aérea, montava sua equipe para atuar dessa forma. O que irritou muitos, inclusive o pragmático José Mourinho, que certa vez declarou:“isso não é futebol para a Premier League, a melhor liga do mundo, esse futebol é do século XIX.”

Todavia, agora, dispondo de mais opções de mobilidade e maior qualidade técnica, Allardyce tem podido explorar um jogo baseado em outras características, tais como a velocidade e o contra-ataque. Nessa esteira, é necessário ressaltar duas jogadas que tem tido muita eficiência neste primeiro quarto de campeonato: os chutes de fora da área e os levantamentos na área.

Dos 15 gols marcados pela equipe, 28% (ou quatro gols) saíram de chutes de longa distância. Certamente, há orientação no sentido de arriscar finalizações de fora da área, algo que só é explorado em função dessa qualidade de seus jogadores. O clube é quem mais marcou dessa forma.

Outra jogada muito explorada pelo time são as bolas alçadas na área, mas de forma diferente da usual. Hoje, o West Ham não lança a bola a esmo – torcendo para que a bola chegue ao centroavante – como fazia em tempos pretéritos. Melhor trabalhadas, as bolas tem chegado mais redondas aos atacantes, que também dão contribuição essencial para o sucesso dessa jogada, uma vez que, sendo móveis, são difíceis de serem marcados pelos defensores adversários, o que facilita o sucesso dessa alternativa. O time também é o maior marcador de gols de cabeça, com seis tentos, ao lado do Hull City.

Outro dado curioso e que corrobora o exposto são os seis gols marcados de cabeça na última temporada inteira (mesmo número da atual temporada), quando a tônica da equipe era exatamente o jogo pelo ar. 

Diferentemente do que nos acostumamos a ouvir quando se fala em West Ham, no momento, o clube tem mostrado um estilo de jogo bem mais agradável, apesar de suas limitações. Com jogadores de variadas características, que têm permitido o teste de novas possibilidades ao treinador, o West Ham já se apresenta como surpresa, um estranho no ninho.

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