Comendo quieto se vai longe

Atlético e Cruzeiro estão em evidência. A final da Copa do Brasil coroa dois trabalhos baseados em muita coesão e em uma força de atração forte como a de um ímã. Se em 2012 a Raposa viveu um ano fraco, o Galo, por seu turno, brigou a ferro e fogo com o Fluminense pelo título do Campeonato Brasileiro. Já em 2013, o clube celeste preparou-se melhor e, ao final do ano, levantou o caneco nacional mais importante. Enquanto isso, o alvinegro logrou êxito em sua brilhante e emocionante trajetória na Copa Libertadores da América. Hoje, a final da Copa do Brasil entre estes dois grandes rivais reflete uma realidade: o Brasil fala uai.



Era 2012, e após um final de ano traumático – com uma massacrante derrota para o rival –, o torcedor olhava desconfiado para o time do Atlético. Nem o título estadual contra o América aliviava a pressão sofrida pelo técnico Cuca. Foi então que, rapidamente, desembarcaram em Belo Horizonte três figuras-chave: Victor, Ronaldinho Gaúcho e Jô. A partir de então, o Estádio do Independência, o famigerado Horto, virou caldeirão e uma base formada por jogadores como Réver, Leonardo Silva, Marcos Rocha e Bernard evoluiu, levando o Galo de volta à Copa Libertadores da América.

Sem tempo para quedas e com a necessidade de se manter em progressão, o Atlético, após longa e cansativa negociação, convenceu os árabes do Al-Gharafa e repatriou seu último grande ídolo, Diego Tardelli, que ocuparia uma lacuna, cujo preenchimento havia sido tentado com Danilinho, Damián Escudero e Guilherme, todos sem muito sucesso.

Do outro lado da Lagoa (da Pampulha), na Toca da Raposa, o Cruzeiro, para se reerguer e não permanecer mais um minuto sequer à sombra do rival, começava a montar a base do atual e vitorioso time. Chegavam apostas do perfil e do quilate de Everton Ribeiro e Ricardo Goulart, jogadores experientes, casos de Diego Souza e Dagoberto e o mais importante: Marcelo Oliveira.

Como um fator externo, mas preponderante para o crescimento cruzeirense, o início de 2013 trouxe de volta um velho conhecido dos mineiros: o Gigante da Pampulha, o Mineirão. Tal como o Galo no Independência, a Raposa fez o seu abatedouro.

Durante as campanhas, os times também sofreram alterações, mas sempre visando uma evolução. Diego Souza não deu certo no Cruzeiro e rapidamente a diretoria celeste movimentou-se, envolvendo-o em uma negociação para o futebol ucraniano. A cartada de mestre? Envolveu o atacante Willian, figura importantíssima no título nacional, na negociação. Os problemas da defesa? Minorou seus efeitos com a chegada de Dedé. Além disso, jovens como Mayke, Lucas Silva e Alisson ganharam espaço no time.

No Galo, após a Libertadores, ocorreu uma mudança para pior, mas inevitável. Valorizado e selecionável, Bernard foi vendido para o Shakhtar Donetsk. Para seu lugar, chegou Fernandinho, que até faria boas exibições, mas claramente não se encaixou na equipe como seu antecessor. Entretanto, o time também buscou encorpar o elenco e assim chegaram o zagueiro Emerson e o argentino Jesús Dátolo. Todavia, o acerto de Cuca com o futebol chinês, dentre outros fatores, levou o time a um fracasso, que só encontra equivalência na derrota do Internacional para o Mazembe, em 2010.

Veio 2014. Com o Cruzeiro por cima, com ainda mais opções táticas e técnicas e em forma avassaladora, o título estadual chegou às mãos da Raposa com naturalidade, e o Atlético, que viveu maus bocados sob o comando de Paulo Autuori, teve de se reinventar. Com o mau momento e a derrota para o Atlético Nacional-COL, na Copa Libertadores da América, o presidente Alexandre Kalil percebeu a necessidade de trazer o time de volta às suas raízes. Assim, o treinador Levir Culpi chegou para sua quarta passagem pelo lado alvinegro das Minas Gerais.

A competição continental não trouxe boas recordações para Minas Gerais e, tanto Atlético quanto Cruzeiro caíram. Nesse período, houve a Copa do Mundo e os treinadores tiveram oportunidade de buscar ainda mais melhoras. O Galo na China e a Raposa nos EUA. Passado o Mundial, o torcedor alvinegro comemorou um título: a Recopa Sul-Americana, em cima do Lanús.

Em toada semelhante à do ano passado, o Cruzeiro entrou de cabeça no Campeonato Brasileiro, no qual faz campanha impiedosa e lidera. Novidades deste ano em relação ao ano anterior e que merecem destaque por sua atual forma, o volante Henrique – que pouco atuou em 2013 –, o meia Marquinhos e o atacante Marcelo Moreno, contratados neste ano (recontratado, no caso do camisa 18) têm sido vitais.

Passando por readaptação tática e evolução técnica, o Atlético este semestre está voando atrás de seu rival, com a melhor campanha do segundo turno do brasileirão. As grandes novidades positivas foram a contratação de Douglas Santos, que solucionou o problema da lateral esquerda alvinegra, e as promoções dos jovens Jemerson e Carlos ao time titular. Mesmo com muitos desfalques durante os últimos meses (quase 10 por rodada em média), o time se reinventou e descobriu uma novidade tática: o uso de um volante apenas, mas com enorme solidariedade dos demais jogadores.

O resultado de tanta evolução e briga de parte a parte para estar no mesmo patamar do rival é a grande final da Copa do Brasil, à qual, com emoção (sobretudo do lado alvinegro), Atlético e Cruzeiro chegaram. Com Centros de Treinamento referenciais na esfera continental, treinadores de grande conhecimento dos clubes e da função e, acima de tudo, com resultados, os clubes de Minas estão no topo do país.

Quanto à finalíssima da Copa do Brasil, não importa o vencedor, pois a vitória maior é de Minas Gerais. Poucas vezes se viu o estado tão sorridente quanto na última quinta-feira, quando, após a classificação das equipes para a final da referida copa, suas ruas adquiriram um contraste de rara beleza, o choque do azul e branco com o preto e branco.

Comentários