Faz sentido ir jogar na China?

Nomeada por muitos como o "Novo Eldorado do Futebol", a China tem atraído o interesse e a curiosidade do público brasileiro em função da sua enorme atividade em terras tupiniquins, neste início de ano. Grandes destaques do futebol nacional, jogadores do quilate de Diego Tardelli, Ricardo Goulart e Dario Conca, foram seduzidos pelas promessas de salários milionários no oriente. Apesar disso, é de conhecimento público que o Campeonato Chinês é fraco e tem um índice baixo de qualidade. A pergunta que fica é: vale a pena jogar na China? A resposta mais sensata: depende.



Hoje, para jogadores com carreira consolidada e já sem grandes aspirações ou projetos talvez faça muito sentido. A trajetória dos jogadores de futebol é curta – o que não é novidade para ninguém – e uma mudança para a terra das muralhas mais famosas do planeta pode representar a independência financeira dos atletas para toda a vida dos mesmos (evidentemente, se bem administrada). Esse é o grande ponto da escolha pelo futebol chino.

Por outro lado, o jogador tem que saber que o ostracismo o aguarda. Por melhor que o atleta possa ser, o campeonato ainda é muito fraco, não dá visibilidade alguma e pode se transformar em uma experiência frustrante. Ademais, as diferenças culturais podem ser fulcrais em uma não adaptação do jogador. Seja pelo lado da alimentação, pelos costumes, pelo idioma ou até mesmo pelo estilo dos treinamentos, a possibilidade de o jogador não se encontrar na China é real e casos recentes como o dos atacantes Nicolas Anelka e Didier Drogba atestam a real possibilidade disso ocorrer.

Outro ponto que pode determinar o fracasso de uma experiência pela China é o não pagamento dos vultuosos salários prometidos, algo que ocorreu tanto com Drogba quanto com Anelka.

“O clube está profundamente chocado (com a negociação). Drogba continua a ser um membro do Shanghai Shenhua e o contrato entre as duas partes é válido. Estamos reunindo provas para entregar a Fifa e assim proteger os nossos interesses,alegou a direção do clube há época em que Drogba assinou contrato com o Galatasaray. Dois anos após a declaração, nada foi provado.

Sem embargo, também pode ser que nada disso aconteça. Conca, que atuou no Guangzhou Evergrande durante três anos, sempre recebeu devidamente seus ordenados e nessa semana até aceitou retornar ao oriente, se transformando no nono jogador mais bem pago do futebol mundial, segundo o jornal espanhol MARCA.

Pensando em outra esfera – a dos jogadores jovens ou em ascensão – a opção pelo futebol chinês pode ser pior. Apesar das cifras recebidas serem milionárias, o risco de estagnação técnica e esquecimento é real. Pensemos o exemplo de Ricardo Goulart. Vencedor da Bola de Ouro do prêmio Bola de Prata da revista Placar, o jogador de 25 anos chegou à Seleção Canarinha em 2014 e foi considerado por muitos o melhor jogador do Brasileirão do referido ano. Vale a pena ir para a China?

A não ser que se destaque muito, de forma assombrosa, as chances de permanência no escrete verde-amarelo são ínfimas. É difícil acompanhar o que se passa no ermo futebol chinês e, mais do que isso, não é possível considerar tudo o que se passa no Campeonato Chinês. Com adversários sabidamente carentes tecnicamente, o sucesso no mundo chino pode não representar absolutamente nada em termos de futebol internacional e Seleção Brasileira. É claro que as cifras são tentadoras, mas, tomando por base um plano de carreira, é uma escolha que pode arruinar muitos planos.

Para mais, uma não adaptação a vida na China pode ser muito pior do que aparenta. Os clubes, duros na queda, dificultam ao máximo uma eventual saída de seus jogadores, antes do término de seus contratos.

Pensando na situação por outro prisma, a China é um país com bilhões de habitantes e um potencial enorme para evolução futebolística, desportivamente falando. De fato há uma intenção para que o futebol no país evolua e ainda que muito lentamente já e perceptível a mudança. Em 2013, o Guangzhou Evergrande conquistou a AFC Champions League (torneio continental da Ásia) e na presente edição da AFC Asia Cup, a Seleção Chinesa liderou o Grupo B – que contou com Uzbequistão, Arábia Saudita e Coreia do Norte –, mas teve o azar de enfrentar a boa e anfitriã Seleção Australiana, na fase seguinte, sendo eliminada com derrota por 2x0.

Além disso, há um projeto no país que pretende adicionar o futebol ao currículo das escolas do país. O projeto – idealizado após uma pesada derrota da Seleção Chinesa contra uma equipe sub-21 da Tailândia, 5x1 – visa a construção de campos de futebol em cerca de 20.000 escolas pelo país, com previsão de conclusão para 2017, segundo a revista The Economist. Aliás, o plano também se estende ao ensino superior, com o esporte, a partir de 2016, se tornando um dos focos de avaliação dos estudantes nos processos de seleção dos mesmos.

Para além das intenções estatais, o país também conta com incentivos da iniciativa privada, que construiu a Evergrande International Football School (foto), o maior centro de treinamento de jovens do mundo. A escola tem aproximadamente 167 ares, ou 16.700 m².

Definitivamente, há uma grande intenção do país em evoluir. O que pode tomar dimensões assustadoras, uma vez que a nação conta com um público potencial enorme e, com o tamanho de sua população, há grande possibilidade de promoção de um trabalho de formação frutífero e contínuo, o que certamente poderia colocar a China no mapa do futebol.

Hoje, de forma geral, a não ser pelo dinheiro, a China pode não ser um grande negócio – desportivamente falando – mas é inegável o desejo de evolução do país e fazer parte desse projeto pode ser interessante. Há enormes dificuldades e barreiras nessa mudança, mas, para já, uma mudança para o futebol chinês apresenta-se, a cada dia, como uma opção de carreira menos assustadora, embora não seja, ainda, uma grande escolha.

Comentários

  1. Olá, Wladimir! Nem pelo o dinheiro é inteligente deixar um país como o Brasil pra ganhar o dobro, o triplo em um lugar como a China. Tentei externar isso em nosso modesto blog, link: http://www.euvistoacamisadogalo.com.br/2015/01/a-minha-sorte-grande.html

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