Arsenal: o goleiro chegou, falta o centroavante

O ano de 2006 marcou o último grande time do Arsenal. Vice-campeões da UEFA Champions League, os Gunners tinham, nas duas pontas de sua escalação, grandes referências, que com o tempo se perderam. Na meta estava Jens Lehmann e no ataque Thierry Henry. Após anos de insucessos e luta para repor seus ídolos, o Arsenal fechou com Petr Cech e terá um goleiro a altura de sua pretensão. Agora falta o centroavante. Mas vamos por partes.



Cech põe fim à espera por um grande goleiro

O torcedor dos Gunners, que se acostumara com a segurança de David Seaman e, posteriormente, com a de Lehmann, passou anos convivendo com os sobressaltos e as falhas de uma incrível sucessão de nomes medianos em sua meta. Manuel Almunia, Lukasz Fabianski, Wojciech Szczesny, Vito Mannone e Damián Martínez não corresponderam a altura da história do clube londrino em momento algum. Isso chegou a levar Lehmann a retornar ao clube após ter se despedido dos gramados, na temporada 2010-2011.

Dos nomes citados, o que desempenhou o papel mais digno foi, sem dúvidas, Szczesny, o que, não obstante, não impediu que a direção do clube continuasse sua busca por um titular confiável para sua meta. Para a temporada 2014-2015, a contratação de David Ospina (foto), que havia feito excelente Copa do Mundo com a Seleção Colombiana, parecia ser uma tentativa definitiva para o clube, uma vez que o goleiro vinha em bom momento e já possuía uma boa experiência.

Apesar disso, o sul-americano demorou meia temporada para assumir a meta dos Gunners (em função de lesão, sobretudo) e embora tenha vivido grandes momentos, não se confirmou um arqueiro à altura de lendas como Seaman e Lehmann. Isso fez o clube buscar em um de seus grandes rivais a solução: Petr Cech. Destruidor de recordes e ídolo dos Blues, equipe que defendeu durante onze anos, o tcheco chega para ser a referência tão aguardada para a meta e para ajudar o clube a dar o salto de qualidade, voltando a lutar pelo título inglês e não apenas por uma vaga na UEFA Champions League.
“Estou realmente entusiasmado por me juntar ao Arsenal Football Club e mal posso esperar para começar a pré-temporada. Eu tenho o mesmo comprometimento com o futebol, a mesma motivação e a mesma fome que tinha no início de minha carreira e eu amo os desafios trazidos pelos melhores jogadores que você enfrenta na Premier League. Quando o Arsène Wenger me falou sobre suas ambições para o clube e como ele me viu como parte de seu time, minha decisão foi clara”, disse Cech em sua primeira entrevista ao site oficial do Arsenal como jogador do time.
Para os supersticiosos fica um dado curioso: Cech chega ao Arsenal com praticamente a mesma idade que Lehmann tinha quando de sua contratação. Hoje, o tcheco tem 33 anos. Em 2003, o alemão chegou aos 32, mas, em novembro daquele ano, completou 33.

Ainda falta um goleador

Na outra ponta da escalação, ainda falta um jogador que decida partidas sozinho e seja o ponto de desafogo da equipe, uma grande referência. Os últimos três anos do Arsenal contaram com a referência de Olivier Giroud, centroavante francês canhoto que havia se destacado no Montpellier. Embora o jogador não seja um atleta de baixa qualidade, como muitos insistem em dizer, não é figura para ser titular em um clube com as pretensões dos Gunners. Basta comparar seu desempenho com o de figuras recentes como Robin van Persie e Thierry Henry (foto).

Na última temporada, a chegada de Alexis Sánchez deu alento ao torcedor, que voltou a ver um atleta altamente decisivo vestindo a camisa de seu clube. No entanto, embora marque muitos gols, o chileno não é o matador que o time precisa e que o torcedor se acostumou a ter.

Giroud é um bom jogador, mas é claramente inferior aos centroavantes dos clubes que concorrem com o Arsenal pelas primeiras posições do Campeonato Inglês. O Chelsea tem Diego Costa; o Manchester United tem Robin van Persie e Wayne Rooney; e o Manchester City tem Sergio Agüero.

É claro que a contratação de um camisa nove de grande categoria não será uma tarefa fácil e nem, tampouco, barata, mas de vital importância para a desejada evolução do clube, que não conquista a Premier League desde a temporada 2003-2004. Assim, é possível pensar em nomes como Edinson Cavani e Robert Lewandowski, que estiveram abaixo das expectativas em seus clubes – chegando a ter atritos com seus treinadores – e já mostraram diferenciais que deixam claro que sua contratação terá poucas chances de se tornar um erro.
Giroud não é ruim, mas não é o suficiente

Outro nome que poderia ser uma boa opção para Arsène Wenger é o do francês Karim Benzema. O que pode parecer um delírio, diante da excelente forma do atacante nas últimas temporadas, não pode ser visto como algo impossível, uma vez que, segundo noticiou o periódico espanhol Mundo Deportivo, Rafa Benítez, novo treinador do Real Madrid, estaria considerando a possibilidade de transformar Cristiano Ronaldo em seu centroavante, deixando Benzema como segunda opção. Sendo um dos melhores jogadores de sua posição no mundo, certamente o banco de reservas não é algo que agradaria ao francês.

Para mudar de patamar de uma vez por todas, o Arsenal não pode deixar de contratar um centroavante da melhor qualidade, ainda que isso signifique o gasto da maior parte de seu orçamento.

O restante do elenco não é perfeito, mas não apresenta necessidades urgentes

É evidente que a contratação de um goleiro e a eventual busca de um centroavante de alta qualidade não tornam o Arsenal o clube perfeito, mas isso não evitaria que o clube mudasse para um patamar há muito esperado por seu torcedor.

Na retaguarda, os dois zagueiros titulares, Laurent Koscielny e Per Metersacker não são primorosos, mas não são ruins, e ainda há Gabriel Paulista, jogador que tem sido elogiado por Wenger. As laterais possuem jogadores com diferentes qualidades, e que estão, na pior das hipóteses, na média do campeonato. Héctor Bellerín, Mathieu Debuchy, Calum Chambers, Kieran Gibbs e Nacho Monreal são todos úteis.

O meio-campo tem opções para todos os gostos. Há volantes de muita força, como Francis Coquelin e Mathieu Flamini, e há jogadores de ótimo trato da bola, casos de Mikel Arteta, Jack Wilshere e Aaron Ramsey. À frente, Santi Cazorla mostrou impressionante versatilidade na última temporada e se tornou opção para praticamente todas as posições da meia-cancha.

Mesut Özil é genial, mas precisa deixar de ser irregular. Possivelmente, com uma assessoria melhor no ataque e com uma temporada sem lesões, o alemão pode brilhar. Especula-se ainda, que o chileno Arturo Vidal poderia ser contratado, agregando ainda mais qualidade ao meio-campo

Pelas pontas, Alexis Sánchez (foto) mostrou exatamente o que se esperava dele: velocidade, habilidade e capacidade de decisão. Junte-se ainda jogadores que, se não são craques – longe disso –, possuem qualidades, como Tomás Rosicky, Alex Oxlade-Chamberlain, Theo Walcott e Olivier Giroud, e tem-se um elenco com um interessante leque de opções.

Embora não se descarte a necessidade de algumas contratações, como por exemplo a de um zagueiro e de um lateral-esquerdo, estas estão longe de ser uma necessidade vital.

Além da contratação de um centroavante de ponta, o torcedor do Arsenal só precisa torcer por mais uma coisa: o fim de uma sina de lesões que assola o clube há tempos. Com todas as suas peças disponíveis, Wenger tem um ótimo elenco nas mãos.

Com Cech, o Arsenal dá mais um grande passo rumo à retomada de seu status histórico, o de favorito às conquistas na Inglaterra. Ainda falta um pouco para o clube atingir esse nível, mas a conclusão do pagamento do Estádio Emirates, e as recentes contratações de Özil, Sánchez e Cech mostram que o clube tem mudado sua política de contratações e feito investimentos de peso. O caminho para a retomada de um passado de glórias está traçado, o clube só precisa segui-lo e torcer para que as contingências da temporada não o coloquem em uma encruzilhada.

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