Há algum tempo, o futebol brasileiro vem enfrentando a necessidade de uma mudança que se tornou tendência em todo o globo e, mais especificamente, no futebol europeu: a morte do “volante brucutu”. Função que chegou a ser cultuada durante um bom tempo, sobretudo pelo quesito “raça”, que via-se intrinsecamente atrelado a esse tipo de jogador, o volante limitado à marcação não mais é sustentável em um esporte em que, cada vez mais, registra-se a necessidade de que todos os jogadores de linha ataquem e defendam. Em meio à crise gerada pela necessidade de se reinventar, o futebol brasileiro ganhou um presente em 2014: o chileno Charles Aránguiz.
Não é de hoje que o volante (se é
que pode-se qualificar o refinado jogador dessa forma) vem se destacando e
sendo um dos grandes diferenciais do Internacional de Porto Alegre. Com ele, o
Colorado ganhou uma infinidade de possibilidades. Com o chileno em campo, o
clube tem um jogador de marcação, um exímio passador para qualificar sua saída
de bola e um elemento surpresa que, muitas vezes, faz a diferença no placar. O
camisa 20 do clube gaúcho é, hoje, um dos melhores exemplos do jogador “todo terreno”,
o popular box-to-box.
Um dos grandes responsáveis pelo
bom futebol desempenhado pela Seleção Chilena na Copa do Mundo de 2014, Aránguiz
voltou a brilhar na Copa América recém-finda e logrou êxito ao ser campeão.
Enquanto Arturo Vidal está em evidência nos gramados do Velho Continente, sendo
cortejado pelas maiores potências de lá, aqui, bem ao lado, Aránguiz dá lições
diárias ao futebol brasileiro, que não faz ideia da sorte que representa ter um
jogador deste calibre e com suas características atuando em nossas, muitas
vezes, fracas partidas.
"Sempre disse que sou um volante que gosto de chegar à área, mas sempre disse que se o treinador quiser que eu fique mais atrás, vou ficar. Não tenho problema, mas sou um volante que gosta de chegar ao ataque", revelou Aránguiz em abril deste ano.

Voltando a Aránguiz, em
pouquíssimo tempo o Brasil já se dava conta da qualidade que o jogador agregara
ao Inter e grande parte dos torcedores dos outros clubes do país passaram a
refletir sobre a necessidade de ter alguém como o chileno, uma peça capaz de
destruir o jogo dos adversários e, com extrema perícia, construir o de sua
própria equipe. Se Andrés D’Alessandro segue sendo o craque do Colorado,
Aránguiz é, sem sombra de dúvidas, o cara que diferencia o futebol da equipe.
“(Vejo) Um crescimento enorme (em Charles Aránguiz). É um jogador que ganhou rapidamente a torcida brasileira, que é muito exigente. Ele é muito completo, pode jogar como volante e chegar à área, pode atuar na contenção. É muito funcional. Permite que o técnico use ele em qualquer lugar”, disse Jorge Sampaoli, treinador do Chile ao final de 2014.
A partir da chegada de Aránguiz,
o futebol brasileiro voltou a olhar com atentos olhos para jogadores com suas
características, figuras raras no mercado, mas existentes, como prova, por
exemplo, Rafael Carioca, volante do Atlético Mineiro e atleta que mais passes acertou no Campeonato Brasileiro até o momento com 551.
Aos 26 anos, campeão da Copa
América, semifinalista da Copa Libertadores da América e sondado por clubes como
Arsenal, Chelsea e Manchester City, Aránguiz não deve permanecer no país por muito
tempo, o que deveria ser motivo de tristeza, considerando a boa influência que
seu estilo de jogo trouxe e traz para nosso futebol.

Aránguiz não é alto e não é forte.
No entanto, é um bom e leal marcador e um jogador capaz de fazer qualquer função
do meio-campo. Nesse momento, o futebol brasileiro só tem o que agradecer, pois,
diante de tanta falta de criatividade, e, mais do que isso, a falta de
jogadores com uma real consciência tática, é uma sorte ter Aránguiz em nossos
gramados.
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