Do topo ao fundo: início da Premier League tem surpresas

A supremacia do Manchester City pode não revelar o quão surpreendente é o início da presente edição da Premier League. Após gastarem uma fortuna, os Citizens fazem exatamente o que deles se esperava, lutam com grande força pelo título. Não obstante, há por todas as partes da tabela de classificação equipes mostrando desempenho inesperado, até mesmo para o início da temporada, como demonstram, por exemplo, a segunda colocação do Leicester e a antepenúltima do Newcastle, que muito se reforçou.*


* Texto escrito antes do resultado da partida entre West Ham e Newcastle.

O bom e inesperado desempenho de clubes de menor expressão

Possivelmente a grande notícia deste início de temporada na Terra da Rainha, a vice-liderança do Leicester City, após uma temporada sofrida em 2014-2015, surpreende até o mais otimista dos torcedores dos Foxes. Os salvadores quatro pontos de vantagem em relação ao Hull City, primeiro rebaixado à Championship não indicavam que o Leicester seria capaz de brilhar no ano seguinte, até mesmo porque, com o fim do campeonato, o grande destaque da equipe, o experiente Esteban Cambiasso, partiu.

No entanto, para a vaga do argentino chegou Gokhan Inler, ex-Napoli, e no ataque uma dupla tem feito barulho. Pelo flanco direito Riyad Mahrez (foto, ao centro) tem tido desempenho soberbo, demonstrando grande habilidade e contribuindo, até o momento, com quatro gols e duas assistências. Além dele, o selecionável inglês Jamie Vardy tem mostrado ao treinador Roy Hodgson que vale a pena apostar em seu futebol, com desempenho semelhante ao de seu companheiro: três tentos e duas assistências. Tudo bem que o clube ainda não enfrentou adversários tão fortes, mas para uma equipe cuja pretensão inicial era a manutenção na Premier League, 11 pontos em cinco jogos é uma bela marca.

Além dos Foxes, outras equipes como Crystal Palace, Swansea City, Norwich (de que trataremos adiante) e até mesmo o West Ham têm sido boas surpresas. Os Eagles bateram o Chelsea fora de seus domínios e embora tenham saído derrotados contra Arsenal e Manchester City no Selhurst Park, venderam os insucessos por preço caro, pela diferença mínima de um tento. No Palace os grandes destaques até o momento são o ponta Bakary Sako, grande destaque da vitória contra o Chelsea, e o já destacável Yala Bolasie, que fez grande temporada em 2014-2015.

Um pouco mais pela beleza de seu jogo do que propriamente pelos resultados (embora seja impossível desconsiderar o triunfo do time contra o Manchester United), o Swansea City do recém-contratado e eleito melhor jogador do mês de agosto, André Ayew (foto), é outra equipe que chama a atenção. Com bom toque de bola, comandado pela qualidade de passes de Jonjo Shelvey, a velocidade de Ayew e os gols de Bafetimbi Gomis, os Swans também surpreendem.

Com um estilo diferente do habitual, contando com a habilidade de alguns recém-contratados, como Dimitri Payet e Manuel Lanzini, o West Ham, que bateu o Arsenal na abertura da temporada, é outra equipe que tem superado as expectativas, principalmente considerando o “rústico” estilo de jogo adotado nos tempos de Sam Allardyce, treinador que foi substituído pelo croata Slaven Bilic, ex-jogador do próprio clube. Segundo melhor ataque da competição, o time é outra equipe que vale a pena acompanhar, uma vez que vem jogando bom futebol, mesmo sem poder contar com Alex Song, Victor Moses e Enner Valencia, lesionados neste início de temporada.

O calvário do campeão

Não obstante as boas novidades que vem de clubes de quem não se espera tanto, a notícia que mais tem permeado os noticiários britânicos é a péssima fase do atual campeão, o Chelsea. Com cinco jogos disputados, os Blues venceram apenas o West Bromwich Albion, tendo empatado com o Swansea e perdido para Manchester City, Crystal Palace e Everton.

José Mourinho tem sido criticado por manter titulares que não vivem boa forma – cujo caso mais importante tem sido o do sérvio Branislav Ivanovic –, pela forma como conduziu uma polêmica com a médica Eva Carneiro, que ingressou no campo na estreia da equipe para tratar Eden Hazard (foto) sem a autorização do português, e já há quem fale em desconforto interno no elenco.

O fato é que os rivais do time se reforçaram e o clube londrino estagnou. De novo, há apenas as presenças de Pedro e do garoto brasileiro Kenedy, uma vez que Falcao García apenas substituiu Didier Drogba; Asmir Begovic ocupa a vaga de Petr Cech; e Baba Rahman a de Filipe Luís. O negócio do zagueiro desconhecido Papy Djilobodji, ex-Nantes, parece não ter sido selado com o aval de Mourinho e dificilmente terá real impacto. É pouco para uma equipe que quer se manter no topo.

Aliado a isso, Hazard, Cesc Fàbregas e Diego Costa, grandes destaques da temporada anterior não vêm jogando nem sombra do futebol da última temporada, o que tem complicado em muito o trabalho do clube. A 16ª colocação reflete com exatidão o que o clube vem mostrando – embora Mourinho venha reiterando o contrário em suas coletivas.

As novidades têm dado trabalho

Recém-promovidos da Championship, Norwich City, Watford e Bournemouth têm dado mais trabalho do que o esperado a seus rivais.

Tendo como principal estrela o garoto Nathan Redmond (foto), ponta direita de 21 anos com vasta passagem pelas equipes de base da Seleção Inglesa, o Norwich já tem duas vitórias no campeonato, o que lhe vale até o momento um honroso lugar entre os 10 primeiros. Outro grande destaque é o experiente irlandês Wesley Hoolahan, que já deu quatro assistências para seus companheiros.

Por outro lado, o Watford, do técnico espanhol Quique Flores, reforçou-se muito, inclusive com nomes de relevo internacional, dentre os quais destacam-se o colombiano Victor Ibarbo, o italiano Alessandro Diamanti, o espanhol José Manuel Jurado, o suíço Valon Behrami, o francês Ettiene Capoué e o grego José Holebas. Não obstante ainda não tenha conseguido o entrosamento esperado, o time do goleiro brasileiro Gomes tem sido um adversário duro, tendo empatado três partidas, perdido (justamente para o Manchester City) e vencido uma.

Por fim, o Bournemouth, calouro na primeira divisão, é o time que tem tido mais dificuldades no início (com apenas uma vitória e um empate em cinco jogos), mas mesmo assim não deixa de surpreender e um dos motivos é a impressionante e única vitória do time: 4x3 contra o West Ham. Time com o menor valor de mercado da liga, os Cherries apostaram suas maiores fichas no marfinense Max Gradel que, na última temporada, fez excelente papel no Saint-Étienne, balançando as redes 17 vezes em 31 jogos na Ligue 1. Não obstante, até o momento, o grande destaque do time é Callum Wilson, um dos artilheiros da competição até o momento, com quatro tentos.

Times reforçados não dão liga

Por fim resta falar de três equipes que geraram expectativas na janela de transferências e até o momento não tem conseguido sucesso: Newcastle United, Stoke City e Southampton.

O primeiro mexeu com o mercado com muitas e caras contratações. Destaque no Anderlecht, da Bélgica, Aleksandar Mitrovic (foto) chegou prometendo um caminhão de gols e até o momento desaponta, sem um tento marcado e uma expulsão estúpida na partida contra o Arsenal. O jogador tem confundido luta com violência e não tem vivido o início esperado. Outro que veio dos Mauves et Blancs, embora não viva bom momento, o zagueiro Chancel Mbemba ainda merece mais tempo, uma vez que atuou improvisado na lateral-direita duas vezes e, de fato, o time sofre poucos gols - até o momento cinco.

O problema maior é no ataque, o pior da competição com apenas dois tentos marcados. Florian Thauvin e Georginio Wijnaldum, outros contratados, também lutam para reencontrar o bom futebol em St. James Park.

Por sua vez, o Stoke City, vem sofrendo um processo de remodelação do estilo de jogo, deixando o futebol “rústico” de Tony Pulis para trás, mas ainda não encaixou. Embora em alguns momentos de suas partidas os Potters mostrem qualidade e um bonito estilo do jogo, as muitas contratações, das quais destaca-se a do craque suíço Xherdan Shaqiri, ainda não mostram o desempenho esperado e o resultado está na tabela, com a penúltima posição.

Por fim, o Southampton de Ronald Koeman, uma das boas surpresas da temporada passada, quando o time conseguiu se remodelar após um desmanche, ainda não conseguiu mostrar o futebol da temporada passada, mesmo com o retorno do há tempos lesionado Jay Rodríguez (foto). A situação, em relação às de Stoke e Newcastle é bem melhor, mas espera-se mais do time que pouco se modificou, tendo sofrido duas baixas relevantes, com as saídas do lateral Nathaniel Clyne e do volante Morgan Schneiderlin, um dos maiores destaques do clube.

Outros clubes como Tottenham, Aston Villa ou West Bromwich tem tido desempenho de certa forma esperado, com uma forma bastante irregular. Além deles, os gigantes Arsenal e Manchester United, clubes de que se espera nada menos do que a disputa pelo título, estão se encontrando em campo e figuram nas primeiras posições, cumprindo seu papel. Todavia, com cinco rodadas disputadas, é impossível negar que grande parte dos times faz papel bem diferente do esperado antes do início da temporada.

Comentários