O ambicioso projeto do RB Leipzig

Há alguns anos, a empresa Red Bull decidiu ingressar no mercado do futebol, comprando equipes por todo o mundo. Com esse contexto, após se estabelecer na Áustria, nos Estados Unidos e no Brasil – e ingressar sem sucesso em Gana, com a equipe durando apenas seis anos – foi a vez de a Alemanha ser alvo de interesse. Desde 2009, com a compra da licença do modesto SSV Markranstädt, da quinta divisão e da cidade de igual nome, o RB Leipzig ascendeu em uma trajetória que vem sendo impressionante e gerando variadas reações no país.


O projeto de crescimento

Curiosamente, diante do Estatuto da Associação Alemã de Futebol, a Red Bull não pôde ter sua marca associada ao clube, razão pela qual a equipe não se chama “Red Bull Leipzig”. Engana-se quem pensa que a sigla “RB” faz referência à Red Bull, os dizeres significam “RasenBallsport”, transmitindo uma ideia de “Clube de esportes de grama com bola”. A saída não deixa de ter sido boa para a empresa, uma vez que a sigla indiscutivelmente remete à marca.

Ambiciosa, a empresa garantiu, naquele já longínquo ano de 2009, que em um período máximo de 10 anos seu clube deixaria a quinta divisão e chegaria à badalada Bundesliga. Até o momento, passados seis anos e meio, a equipe já está na 2.Bundesliga – segunda divisão germânica – e por pouco não conseguiu o acesso na última temporada. Esta evolução rápida não tem passado imune aos maus olhares e pensamentos do restante do país e há resistência de grande parte dos torcedores de outras equipes em aceitá-la, sob a alegação de que à Red Bull interessa apenas o dinheiro e o marketing advindos do sucesso, desvalorizando a tão cara tradição do futebol.

“Nosso projeto com o Leipzig deve, eventualmente, alcançar a Bundesliga. Estamos acostumados a cumprir os nossos objetivos e esperamos que este também seja o caso com o RB Leipzig (...) Queremos desenvolver o time etapa por etapa e levá-lo à segunda divisão em quatro ou cinco anos. A partir de então, veremos quanto tempo demora para dar o passo à Bundesliga”, disse Dietrich Mateschitz, um dos fundadores da Red Bull, no início das atividades do RB Leipzig.

Além disso, não obstante o crescente ódio por parte das torcidas de outras equipes alemãs, em pesquisa feita pelo jornal Leipziger Volkszeitung, em 2010, 70% da população de Leipzig mostrou-se favorável à criação de uma nova equipe na cidade, sendo o RB visto com a chance de a urbe voltar ao cenário do futebol germânico. 

Isso também verifica-se nos públicos recentes do time, com o recorde da atual temporada na 2.Bundesliga, 41.795 espectadores para acompanhar RB Leipzig e St. Pauli, e a liderança no ranking das médias de público da competição, com 29.565 torcedores.

Uma ideia de sucesso a longo prazo

Em tempos em que milionários vêm expandindo sua influência no futebol, é cada dia mais difícil impedir essas ocorrências e são inúteis os esforços para tanto, cabendo aos demais aprender a lidar com essa situação, por mais complexa que possa ser. A verdade é que a empresa fez, além de tudo, uma excelente escolha de localidade.

Com o enfraquecimento das equipes de Leipzig, o Zentralstadion, estádio reformado para a Copa do Mundo de 2006 e o maior da Alemanha Oriental, encontrava-se subutilizado. Assim, o RB Leipzig revigorou-o, com a Red Bull conseguindo em 2010 os naming rights do mesmo, por um mínimo de 10 anos. Ou seja, de plano a equipe nasceu com uma casa com capacidade para 44.345 pessoas a sua disposição e associada a sua marca. É possível não gostar da “invasão” da Red Bull no futebol, mas não se pode negar que ela sabe como fazê-la.

Contudo, por questões de regulamento, que tenta resguardar o futebol alemão contra a entrada de ricos “mecenas" e a lavagem de dinheiro, a Red Bull não pode deter o controle acionário do time, razão pela qual controla 49% do RB Leipzig.

Além disso, embora conte com grande aporte financeiro para contratações de impacto, o clube projeta a evolução de suas categorias de base a médio prazo, garantindo assim que seu futuro passe pelos pés de jogadores criados em casa, algo que dá um viés esportivo a ideia da Red Bull, afastando a mera intenção de “fazer dinheiro”.

Para isso, o clube contratou Frieder Schrof, figura conhecida pelo trabalho com garotos, sobretudo no Stuttgart. Por suas mãos passaram jogadores importantes no cenário germânico, como são os casos de Kevin Kuranyi, Mario Gómez e Sami Khedira.

“Queremos conseguir que nossos jogadores consigam a melhor educação. É nossa meta ter o máximo possível de jogadores criados em nossa própria base no time principal (...) Isso nos oferecerá novas oportunidades (…) Nossas categorias de base ainda não estão no mesmo nível das do Stuttgart, mas nós daremos alguns passos à frente quando estivermos prontos”, disse Schrof à época de sua chegada.

Os resultados dentro de campo

Desde 2009, o RB conseguiu três acessos na hierarquia do futebol alemão. Logo em seu primeiro ano de atividades, ascendeu da quinta para a quarta divisão. Lá, no entanto, bateu na trave em dois anos, terminando em 3º e 4º lugares, mas em 2012-2013 conseguiu o acesso a 3.Liga. Na terceira divisão bastou uma temporada para subir ao segundo mais alto posto do futebol alemão, de onde a equipe por pouco não saiu na temporada passada, terminando a 2.Bundesliga em quinto lugar.

Na presente temporada, o clube encontra-se na terceira posição, com campanha praticamente idêntica às de Freiburg e St. Pauli que só superam o Leipzig no saldo de gols, tendo o mesmo número de pontos e vitórias.

Embora a equipe não tenha contratado grandes estrelas, até porque a maior parte delas recusar-se-ia a jogar a segunda divisão, dentro das quatro linhas ficou bem clara a disposição do clube para o crescimento com a contratação de uma das maiores promessas do futebol alemão no momento. Por €8 Milhões, o time contratou o goleador Davie Selke junto ao Werder Bremen e vem colhendo bons frutos com sua escolha.

Foto: Goal.com


Cria dos Werderaner, o garoto de 20 anos tem passagem extensa pelas equipes germânicas de base, o que inclui os escalões sub-16, 17, 18, 19, 20 e 21, obtendo grande destaque na maioria deles. Na temporada atual, nos 13 jogos que disputou pela 2.Bundesliga, marcou seis vezes, número que o coloca em terceiro lugar na artilharia da competição.

Além disso, segundo o site Transfermarkt, o RB Leipzig é o clube com o elenco mais caro da 2.Bundesliga, com valor aproximado de €39,8 milhões.

Se a Red Bull impõe que o consumo de seu produto-chefe, a bebida energética de igual nome, suplanta os limites humanos, dando “asas” aos consumidores, parece que, na Alemanha, a veloz ascensão do clube financiado pela empresa é influenciada pelos mesmos efeitos. Com o projeto e a ambição do RB Leipzig é difícil não enxergá-lo na Bundesliga em breve.

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