Guilherme, um bom goleiro esquecido pelo Brasil

Quem pôde acompanhar a partida da última terça-feira (16) entre Fenerbahçe e Lokomotiv Moscou, válida pela Europa League, soube do destaque grandioso do volante Souza, ex-São Paulo, e da supremacia que o clube turco impôs, vencendo por 2x0. Além disso, pode ter ficado curioso ao ver o nome de outra importante figura do confronto: Guilherme, goleiro do clube russo e um daqueles muitos exemplos de jogadores brasileiros que se mudam para o Velho Continente e, ao invés de ficarem ainda mais em evidência, são esquecidos pelo público nacional.



Ele já tem 30 anos e há quase nove vive na capital russa. Seus primeiros passos no futebol profissional, no entanto, aconteceram no Atlético Paranaense, clube que desfrutou pouco tempo da qualidade de suas defesas e de seu talento. Criado no PSTC e jogador do elenco rubro-negro desde 2003, só atuou no Furacão no primeiro semestre de 2007, disputando 26 partidas e chamando a atenção do Lokomotiv. Hoje, não resta dúvida de que sua história, apesar de se manter marginalizada para a maioria do público brasileiro, é um sucesso.

Apesar disso, sua vida no futebol europeu não foi um sucesso de imediato e teve revezes durante um período. Quando desembarcou em Moscou, o time contava com o italiano Ivan Pelizzolli na meta, um jogador que chegara da Reggina, com uma curta passagem pela Seleção Italiana no currículo.  Além disso, o brasileiro sofreu com duas lesões graves e consecutivas em seu início, que dificultaram sua adaptação e afirmação no clube.

Na sequência, o experiente Marek Cech assumiu, mas, como Pelizzolli, não convenceu e o garoto que chegou e passou duas temporadas se preparando para assumir a titularidade cresceu, passando a ser a primeira opção na metade da temporada 2008-2009.

Desde então, virou referência. Não obstante, novos-velhos problemas apareceram em seu caminho: as lesões. Em boa parte das temporadas 2012-2013 e 2013-2014 o jogador foi baixa, tendo sofrido, sobretudo, com uma lesão nos ligamentos do joelho. Nada que tenha impedido o goleiro, e muitas vezes capitão da equipe, de se recuperar e voltar a jogar em alto nível, como tem demonstrado recentemente, recuperando a posição de Ilya Abaev, que vivia bom momento.

Assim, apesar de não ter grande reconhecimento no Brasil, o jogador tornou-se referência na Rússia e recentemente completou o processo iniciado a alguns anos, tornando-se cidadão do país que o acolheu há quase nove e passando a ser opção para o selecionado do treinador Leonid Slutsky.

“Ao longo dos anos, eu me acomodei na Rússia. Eu moro aqui com minha família por um longo tempo e me sinto em casa. Assim, tomei a decisão de me tornar um cidadão da Rússia - uma escolha consciente que fiz. Estou feliz por fazer parte de um grande país”, disse à época ao site oficial do Lokomotiv.

Seus grandes reflexos e a rapidez debaixo dos postes o colocam hoje como a grande referência de uma equipe que passou muitos anos longe das glórias e na última temporada voltou ao pódio, com o título da Copa da Rússia. Desde que chegou ao Lokomotiv, Guilherme sofreu com a supremacia de CSKA Moscou, Rubin Kazan e Zenit, clubes que venceram o Campeonato Russo no período.

Atualmente, junto do lateral Renat Yanbaev, o goleiro é o jogador com mais tempo de casa. Ao todo, o brasileiro acumula 168 partidas pelo clube, com relevantes 56 clean sheets.

Um de seus grandes momentos com a camisa do clube aconteceu justamente na campanha que garantiu o título da Copa da Rússia ao Lokomotiv. Nas quartas de finais, em partida contra o Rubin Kazan, o time precisou dos pênaltis para se garantir nas semifinais e Guilherme defendeu duas cobranças. Na sequência, voltou a defender um pênalti na disputa contra Gazovik Orenburg, ajudando o time a chegar à final, que venceria, contra o Kuban Krasnodar.

Atualmente, o time é o terceiro colocado na liga russa, atrás de Rostov e CSKA. Embora não tenha sua trajetória marcada por títulos, individualmente, Guilherme tem uma carreira bem-sucedida. Há oito anos e meio na Rússia e com contrato até 2018, o jogador fez a vida em um país habitualmente lembrado pelas dificuldades na adaptação e hoje é ídolo. Se é pouco lembrado no Brasil, dificilmente algum dia será esquecido pela claque do Lokomotiv.

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