Times de que Gostamos: Tottenham 1980-1984

Na volta da série “Times de que Gostamos”, que, em sua última publicação, falou sobre o ótimo Colo-Colo do início dos anos 90, campeão da Copa Libertadores da América, trato do time do Tottenham que conseguiu algumas glórias nos anos 80.


Em pé: Mazzon, Jones, Miller, Galvin, Falco, Aleksic, Hoddle, Lacy, Villa, Roberts;
Agachados: Ardiles, Hughton, Brooke, Perryman, Crooks, Archibald.


Time: Tottenham

Período: 1980-1984

Time base: Clemence; Perryman, Miller, Price (Roberts), Hughton; Hazard, Ardiles (Villa), Hoddle, Galvin; Crooks (Falco), Archibald. Téc.: Keith Burkinshaw

Conquistas: Duas FA Cup (1980-1981 e 1981-1982) e uma UEFA Cup (1983-1984)

Os anos 80 foram importantes para o futebol inglês, ainda que não tragam tantas recordações boas em função da tragédia de Heysel, cuja consequência foi o afastamento dos clubes ingleses das competições continentais da Europa, por cinco anos. Antes disso, no entanto, o Tottenham brilhou tanto em solo doméstico quanto continental. Em 1984, o saldo dos Spurs na década contabilizou dois títulos da FA Cup, um da UEFA Cup e um vice-campeonato da League Cup, um dos melhores períodos de toda a história do clube londrino.

Contando com jogadores que marcaram seu nome na história do futebol, casos, por exemplo, do goleiro Ray Clemence, multicampeão com o Liverpool, do atacante escocês Steve Archibald, que empilhou gols na época e chegou ao Barcelona na sequência, e do argentino Osvaldo Ardiles, campeão mundial em 1978, os Spurs fizeram frente às grandes equipes do futebol inglês da época e viveram dias de glória. Vale a lembrança de que falamos de um tempo em que Liverpool, Aston Villa e Nottingham Forest venceram a Copa dos Campeões da Europa e o Ipswich Town a UEFA Cup.

No começo dos anos 80, a meta dos Spurs era disputada por Barry Daines e Milija Aleksic, sem que nenhum dos dois tenha conseguido se firmar. Ambos foram opções após a saída do ídolo Pat Jennings para o rival Arsenal, em 1977. Lesões e atuações irregulares de ambos levaram o clube a buscar um reforço de peso. Assim, o excepcional Ray Clemence (foto) desembarcou em White Hart Lane, em 1981. Com o peso de alguém que conquistou praticamente tudo com o Liverpool, o arqueiro deu segurança e proveu importante influência à equipe. Sua concentração imperturbável e reflexos apurados o colocaram no rol dos melhores da história do Tottenham, clube pelo qual disputou mais de 300 jogos, encerrados em função de uma lesão grave no tendão de Aquiles.

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Na zaga, na maior parte do tempo, a dupla foi formada pelo inglês Paul Miller e pelo galês Paul Price. Cria da casa, Miller foi jogador do Tottenham por 10 anos. Por sua vez, Price chegou ao clube em 1981 credenciado por uma boa passagem pelo Luton Town, onde atuou por quase 10 anos. Nenhum dos dois tinha grandes credenciais, mas em geral não comprometiam, sendo lembrados pela forte marcação e pelo apreço pelos grandes jogos. Nos referidos anos, outras peças atuaram pelo setor também. Jovem à época, Gary Marbutt estava ganhando espaço no clube, pelo qual disputaria quase 600 jogos. Além dele, Graham Roberts, jogador duro que muitas vezes atuava no meio-campo, era opção.

Atleta cuja história se confunde com a do Tottenham, Steve Perryman (foto) era o lateral direito e capitão da equipe. Com 854 disputados com a camisa dos Spurs, o jogador se afirmou como o que mais vezes representou-os. Versátil, forte marcador e dono de boa leitura de jogo, podia atuar em outras posições da defesa e no meio-campo, posição em que começou a carreira. No entanto, seu melhor futebol se refletia pelo lado direito da defesa. Pelo flanco canhoto da retaguarda, jogou outro jogador historicamente importante para o time: o irlandês Chris Hughton, que fez 398 jogos pelo clube e também podia atuar em outros postos defensivos. Hoje, é treinador.

Pelo centro do meio-campo, o Tottenham teve alguns jogadores de qualidade. Dentre eles, destacou-se uma dupla argentina: Osvaldo Ardiles (foto, à direita) e Ricardo Villa (foto, à esquerda). Membros da Seleção Argentina campeã mundial em 1978, tiveram trajetórias distintas em White Hart Lane, mas ambas importantes. Enquanto o primeiro, a despeito de muitas lesões, será eternamente lembrado como um dos meio-campistas mais talentosos da história do clube, pela visão de jogo e habilidade, o segundo, que foi reserva durante a maior parte do tempo, nunca será esquecido por ter marcado duas vezes na final da FA Cup de 1981. Ardiles também é recordado por ter sido hostilizado pelas torcidas rivais durante a Guerra das Malvinas.

Outra peça vital na configuração da meia-cancha era o talentoso Glen Hoddle, jogador extremamente habilidoso e de bom passe. Com 490 jogos pelos Spurs, 110 gols marcados, e mais de 50 partidas pela Seleção Inglesa, foi um dos melhores meias de seu tempo, uma grande referência do Tottenham.

Fechando os lados do meio-campo, habitualmente o Tottenham alinhava o inglês Micky Hazard pelo lado direito e o irlandês Tony Galvin pela faixa canhota. Ambos eram bons jogadores e cumpriam muito bem seus papeis, tanto auxiliando o ataque quanto recompondo o meio na fase defensiva. No entanto, seus feitos e presença são constantemente esquecidos diante do brilhantismo de outras figuras, como as dos citados Ardiles e Hoddle.

No comando do ataque, uma dupla entrosada fazia barulho. Baixinho, habilidoso e veloz, Garth Crooks (foto, à direita) trouxe ao Tottenham as qualidades necessárias para formar um duo completo com o goleador Steve Archibald (foto, à esquerda), escocês que chegara com marcas expressivas no Aberdeen e era um centroavante típico, rápido, bom no jogo aéreo e que sempre estava bem posicionado para escorar bolas para as metas adversárias. Pelo Tottenham, fez 189 jogos e marcou 77 tentos.

Aos poucos, Crooks perdeu espaço no time e acabou emprestado ao Manchester United. Mark Falco, atacante canhoto cria do clube, e Alan Brazil, que chegou com excelentes marcas pelo Ipswich Town, ganharam minutos no time e foram parceiros de Archibald. No entanto, diferentemente de Crooks, em termos de características, se assemelhavam ao parceiro, sendo bons finalizadores.

No comando técnico da equipe estava o icônico Keith Burkinshaw (foto). Jogador discreto, como treinador se firmou como o segundo mais vitorioso da história do Tottenham, que liderou entre 1976 e 1984, saindo de um rebaixamento em seu primeiro ano para a conquista de títulos nacionais e continentais e modelando uma grande equipe. 

Ainda hoje, é creditada a si a responsabilidade pelo sucesso dos Spurs nos anos 80, muito em função de sua coragem em negociações, como no caso de Ardiles – à época, não era comum jogadores sul-americanos atuarem na Inglaterra – e trazendo Bill Nicholson (este, sim, o maior treinador da história do Tottenham), para ser seu olheiro-chefe.

Ficha técnica de alguns jogos importantes nesse período:

Final da FA Cup de 1981: Tottenham 3x2 Manchester City

Estádio Wembley, Londres

Árbitro: Keith Hackett

Público 92.000

Gols: ‘8 e ’76 Villa, ’70 Crooks (Tottenham); ’11 MacKenzie e ’50 Reeves (Manchester City)

Tottenham: Aleksic, Perryman, Miller, Roberts, Houghton; Ardiles, Villa, Hoddle, Galvin; Crooks, Archibald. Téc.: Keith Burkinshaw

Manchester City: Corrigan; Ranson, Reid, Caton, McDonald (Tueart); Hutchison, Gow, MacKenzie, Power; Bennett, Reeves. Téc.: John Bond

Final da League Cup de 1982: Liverpool 3x1 Tottenham

Estádio Wembley, Londres

Árbitro: Peter Willis

Gols: ’87 e ‘111 Whelan, ‘119 Rush (Liverpool); ’11 Archibald (Tottenham)

Liverpool:  Grobbelaar; Neal, Thompson, Lawrenson, Kennedy; Lee, Dermott (Johnson), Souness, Whelan; Dalgish e Rush. Téc.: Bob Paisley

Tottenham: Clemence; Perryman, Miller, Price, Hughton; Hazard (Villa), Ardiles, Hoddle, Galvin, Crooks, Archibald. Téc.: Keith Burkinshaw

Final da FA Cup de 1982: Tottenham 1x0 Queens Park Rangers

Estádio Wembley, Londres

Árbitro: Clive White

Público 90.000

Gol: ‘6 Hoddle (Tottenham)

Tottenham: Clemence; Perryman, Miller, Price, Hughton; Hazard (Brooke), Roberts, Hoddle, Galvin; Crooks, Archibald. Téc.: Keith Burkinshaw

Queens Park Rangers: Hucker; Neill, Hazell, Fenwick, Gillard; Gregory, Currie, Waddock, Flanagan; Stainrod, Micklewhite (Burke). Téc.: Terry Venables

Final da UEFA Cup de 1984: Tottenham 1(4) x 1(3) Anderlecht

Estádio White Hart Lane, Londres

Árbitro: Volker Roth

Público 46.258

Gols: ’84 Roberts (Tottenham); ’60 Czerniatynski (Anderlecht) – Roberts, Falco, Stevens e Archibald converteram penalidades pelo Tottenham, Thomas perdeu; Grün, Scifo, Vercauteren converteram penalidades pelo Anderlecht, Olsen e Gudjohnsen perderam.

Tottenham: Parks; Thomas, Roberts, Miller (Dick), Hughton; Stevens, Mabbutt (Ardiles), Hazard, Galvin; Falco, Archibald. Téc.: Keith Burkinshaw

Anderlecht: Munaron; Grün, Degreef, Olsen, De Groote; Hofkens, Scifo, Vandereycken, Vercauteren; Arnesen (Gudjohnsen), Czerniatynski (Brylle). Téc.: Paul Van Himst

Comentários

  1. O Tottenham é um dos times que mais se dá mal em pontos corridos, mesmo com boas equipes. Além do esquadrão acima, teve o ótimo time do início dos anos 1990, com Lineker e Gascoigne, que "só" ganhou uma FA Cup. Parabéns pelo texto!

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  2. Wladimir, eu tenho um grupo de quiz de futebol no futebol, onde formamos times e tals, e seria legal ter alguém com seu vasto conhecimento no nosso time, ou se indicasse algum amigo seu. Se estiver interessado ou quiser saber mais, me chame: (91) 8457-0066

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  3. Os spurs nao vao longe nos pontos corridos e o tecnico burkinshaw percebeu isso pois como tinha um elenco enxuto comparado com outros rivais ele misturou trabalho duro com reforcos pontuais apostando tudo nas copas.se deu muito bem e fez historia.

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