O reinado de Juninho, o pequeno notável do Middlesbrough

Não são muitos os jogadores brasileiros que passaram pelo Campeonato Inglês. Consequentemente, o número daqueles que conseguiram um lugar na história do futebol mais antigo do mundo é pequeno. Nesse sentido, é curioso perceber que o nome brasileiro mais representativo a passar pela Terra da Rainha tenha defendido as cores de um clube tradicional, porém de modestas pretensões, como é o caso do Middlesbrough. Foi no Boro, time que jamais venceu o nacional, que Juninho Paulista se consagrou como o maior atleta brasileiro da história de um time britânico, até os dias atuais.


Juninho Middlesbrough Little Fella

Um início expresso


Ele foi um dos ícones do time alternativo do São Paulo que ficou conhecido como Expressinho. Ao lado de figuras como as de Rogério Ceni, Caio Ribeiro ou Denílson, Juninho conduziu o Tricolor Paulista à conquista da Copa Conmebol de 1994. Naquele tempo, era difícil conseguir espaço no time principal paulistano. Isso porque a esquadra treinada por Telê Santana, entre os anos de 1992 e 1994, foi finalista de três Copas Libertadores da América e levantou dois títulos. Contava com gente da categoria de Raí, Müller, Zetti, Cafu e Palhinha, dentre outros.

Juninho Seleção Brasileira Brazil
No entanto, Osvaldo Giroldo Júnior, aquele meia loiro e baixinho vindo do Ituano, estava destinado à grandeza. Não era gênio, uma vez que não tinha a visão de jogo dos maiores armadores, ou a habilidade dos melhores dribladores, mas dominava todos os fundamentos. Corria, armava, fazia gols, driblava, cobrava faltas e assistia. Era completo e podia fazer funções diferentes, tudo o que um clube carente de referências precisava.

Juninho foi importantíssimo no São Paulo, tendo participação crucial em algumas conquistas daquele período, preenchendo sua estante com muitas taças e chegando, em 1995, à Seleção Brasileira. Seu momento era tão bom, que o meia foi titular do país na Copa América daquele ano, perdendo a final, nos pênaltis, para o Uruguai. Foi nessa época que chegou a proposta de um clube inglês por seu futebol. Ainda que pouco se soubesse sobre o Middlesbrough, as cifras eram altas; segundo noticiou o Independent, £4,75 milhões.  Isso significava que o brasileiro se tornaria a segunda contratação mais cara da história do Boro.

A chegada à Inglaterra


Houve muita euforia quando Juninho desembarcou no novíssimo Riverside Stadium, que se tornara casa do clube justamente na temporada de chegada do meia. A equipe havia retornado da segunda divisão e havia pretensões grandiosas. Curiosamente, era treinado pelo interminável Bryan Robson, que acumulava as funções de atleta e jogador, após traçar uma brilhante trajetória com a camisa do Manchester United. Como não seria diferente, a direção do time se gabou de sua conquista à época:

“É a medida da ambição do Middlesbrough o fato de termos contratado o jogador mais procurado do mundo. Nós batemos todos os maiores clubes da Premiership [Premier League] e vários gigantes europeus por sua assinatura. As negociações entre os dois clubes foram longas, mas Juninho sempre quis vir ao Middlesbrough. O grande desafio foi persuadir o São Paulo a vendê-lo e estou muito feliz que fomos bem-sucedidos”, disse Keith Lamb, o chefe executivo do Boro de então ao Independent.

As expectativas eram enormes e, consequentemente, o desafio daquele garoto mirrado de 22 anos também. Entretanto, eles foram cumpridas com êxito. Logo em sua temporada de estreia, que para ele começou em outubro de 1995, ajudou o clube a terminar o ano de retorno à elite em 12º lugar; foram 21 jogos disputados e dois tentos marcados. Individualmente, sua melhor campanha seria a de 1996/97. Com 13 tentos marcados em 48 jogos, foi instrumental para o clube, seu maior craque.

Middlesbrough JuninhoNesse ano, contou com a companhia do experiente Fabrizio Ravanelli, chegado da Juventus, e conduziu o Boro às finais das duas copas nacionais inglesas.

Na League Cup, o Middlesbrough foi batido pelo Leicester de Emile Heskey, mas apenas na prorrogação do replay. Na FA Cup, a derrota foi imposta pelo Chelsea, de Roberto Di Matteo e Gianfranco Zola. O pior foi que, além de ter ficado sem os títulos das copas, o clube foi rebaixado à segunda divisão. Isso porque requereu o adiamento de uma partida contra o Blackburn diante de uma peste de lesões e doenças que assolou o time e foi punido com a perda de três pontos que foram cruciais para o descenso.

Ainda muito jovem e em evolução, Juninho - eleito o melhor jogador da temporada 1996/97 na Inglaterra - não disputaria a temporada seguinte pelo clube. Em alta, foi vendido ao Atlético de Madrid, que pagou £13 milhões por seus serviços.

Crime de Michel Salgado, ausência na Copa e empréstimos


Tudo corria maravilhosamente bem para Juninho em sua carreira. Titular dos Colchoneros, que conquistaram vaga na UEFA Cup na temporada 1997/98, o brasileiro vivia ótimo momento e seria presença certa na Copa do Mundo de 1998. Em 31 jogos, marcou nove vezes em sua campanha de estreia na Espanha. Contudo, em fevereiro, Michel Salgado, então lateral do Celta de Vigo, protagonizou uma das entradas mais feias e lembradas da história do futebol. Juninho quebrou a fíbula e ficou fora do Mundial.



No ano seguinte, voltaria a ter bom papel. Recuperado de lesão, fez 44 jogos e balançou as redes 13 vezes. Porém, o Atleti não fez uma boa campanha, terminando apenas em 13º lugar. Assim, começou a saga de empréstimos de Juninho. Primeiro, voltou a ocupar o trono que havia deixado vago; retornou ao Middlesbrough para a temporada 1999/00. Disputou 35 jogos, marcou cinco gols e ajudou o clube a assegurar lugar confortável, na 12ª posição. No entanto, pertencia aos madrilenhos ainda. Estes, por sua vez, haviam sido rebaixados na ausência de Juninho.

Tal situação levou o brasileiro a voltar para seu país. Primeiro vestiu a camisa do Vasco da Gama, depois a do Flamengo. É bom que se diga que, períodos de lesão a parte, o baixinho sempre foi opção regular da Seleção Brasileira. Juninho foi bem em seu retorno: com o cruzmaltino venceu a Copa João Havelange e a Copa Mercosul. Assim, finalmente pôde disputar uma Copa do Mundo, tendo sido um dos 23 escolhidos de Luiz Felipe Scolari em 2002. Com o título mundial na sua carteira de conquistas era a hora de retornar a Europa, onde o Middlesbrough mais uma vez o esperava.

O retorno do Rei, campeão mundial


Eternizado como The Little Fella, voltou à casa onde mais brilhou para finalmente conquistar algo e colocar um troféu na sala do Boro.

A despeito das campanhas apenas medianas na Premier League, em 2002/03 e 2003/04, Juninho seguiu brilhante individualmente, mas dessa vez conseguiu um êxito coletivo. Ladeado por jogadores experientes e de comprovada qualidade (como foram os casos de Gareth Southgate, Gaizka Mendieta, Boudewijn Zenden e de seu compatriota Doriva), sob o comando de Steve McClaren, ajudou o time a bater o Bolton, de Jay-Jay Okocha e Youri Djorkaeff, na final da League Cup de 2003/04.

"Eu ainda penso no Middlesbrough e no tempo que passei lá [...] Foi um dos melhores períodos da minha vida. Vou sempre torcer pelo clube, e ainda acompanho-o. Toda vez que passo por lá as pessoas me recebem bem, então vou sempre considerar o Boro como minha segunda casa", disse ao Sky Sports

A trajetória de Juninho no Middlesbrough teve final definitivo em 2004. Após o título, com o dever cumprido, o brasileiro saiu para o Celtic. Ainda passaria por Palmeiras, Flamengo, Sydney FC e retornaria ao Ituano, antes de encerrar a carreira. Seu caminho na Inglaterra esteve longe de ser linear, teve altos e baixos (coletivamente falando), mas deixou admiração eterna nos corações dos torcedores do clube. Para muitos, ninguém foi tão grande vestindo a camisa do Boro quanto o pequenino Juninho.

Comentários

  1. excelente texto!
    mas fica a pergunta: como é possível afirmar que o Juninho foi o brasileiro de maior destaque na Inglaterra? Possivelmente seja mesmo, mas seria bom que fosse baseado em um critério objetivo.

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  2. Valeu! Critério objetivo em um esporte tão subjetivo como o nosso é difícil. Mas o fato de ser o único brasileiro da história a ter sido eleito o melhor de uma temporada, ajuda a entender a dimensão dos feitos do Juninho!

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