Perfil tático: Aleksandr Golovin no Monaco

Desde que passou a ser comandado por Leonardo Jardim, o Monaco se especializou em comprar jogadores jovens, dar-lhes espaço, desenvolvê-los e depois os vender por cifras astronômicas. Mais uma vez, isso tem se verificado na atual janela de transferências — sobretudo com as saídas de Thomas Lemar e Fabinho. Na contramão, os monegascos trouxeram mais um garoto de talento: o russo Aleksandr Golovin, destaque de seu país na Copa do Mundo de 2018.


Aleksandr Golovin Monaco
Foto: AS Monaco

Como tem jogado o Monaco de Jardim?


Durante boa parte da gestão de Leonardo Jardim, o Monaco atuou em um esquema 4-4-2, bem tradicional. Na vitoriosa temporada 2016/17, em que conquistou o título do campeonato francês, a escalação tradicional fugiu pouco da seguinte: Danijel Subasic; Djibril Sidibé, Kamil Glik, Jemerson, Benjamin Mendy; Bernardo Silva, Tiemoué Bakayoko, Fabinho, Thomas Lemar; Kylian Mbappé (Valerie Germain) e Falcao García.

Ao contrário do que muitas vezes acontece quando se opta por tal esquema, os monegascos eram extremamente agressivos. Pelos lados, os laterais Sidibé e Mendy avançavam a todo tempo. Isso levava muitas vezes à interiorização de Lemar e Bernardo, povoando a intermediária rival. 

Nesse sentido, era fundamental a presença de Fabinho. Cabia a ele auxiliar a zaga na saída de bola. Também era sua a responsabilidade de cobrir os avanços do lateral direito e, por vezes, ocupar a posição de Glik, na zaga, quando este cobria o lado.

Contando com jogadores atleticamente privilegiados, esse time conseguia exercer uma pressão alta. Dificultava muito a saída de bola dos adversários e era talhada para contragolpes mortais — por meio da grande velocidade e técnica dos jogadores de frente, combinada aos avanços dos laterais, que, apesar de atuarem em uma teórica linha de quatro, eram verdadeiros alas.

Leonardo Jardim Monaco
Foto: Guillaume Horcajuelo/EPA
Com Lemar, Bernardo e Mbappé trazendo muita imprevisibilidade ao ataque, movimentando-se por dentro e por fora do campo, e Falcao em forma, anotando vários gols, esse time do Monaco brilhou.

Na temporada 2017/18, entretanto, muita coisa mudou. Sem Bernardo, Mbappé, Bakayoko e Mendy, negociados, o clube acabou passando por uma reestruturação importante. 

Jorge assumiu a lateral esquerda, sem a mesma potência de seu antecessor, Youri Tielemans (em tese o substituto de Bakayoko) viveu temporada de adaptação, João Moutinho acabou retomando espaço no time titular e Rony Lopes (que fez ótima temporada) herdou a vaga de Bernardo. Assim, o 4-4-2 foi transfigurado em 4-2-3-1.

A equipe mudou um pouco a forma de jogar, mas a essência permaneceu. 

Agora, todavia, uma transferência em especial pode mudar muito a situação da equipe. Sem Fabinho, o time precisará se rearrumar. O brasileiro era fundamental para o funcionamento do coletivo. Além disso, Moutinho também saiu. Assim, Tielemans deve garantir seu lugar no onze inicial, em posicionamento mais recuado. Os contratados Pelé e Jean-Eudes Aholou (titular na estreia na Ligue 1 2018/19) disputam a vaga deixada por Fabinho e um lugar tende a ficar vago. É aí que pode entrar Aleksandr Golovin.

O que Golovin oferece ao clube?


O jovem russo, de 22 anos, era tratado com a maior joia do CSKA, de Moscou. Embora boa parte do mundo não o conhecesse até a Copa do Mundo, já fazia tempo que o atleta atuava profissionalmente. Ele estreou em 2014, ganhou minutos de jogo na temporada 2015/16, mas se firmou de fato no ano seguinte. 

Nesse período, ainda que tenha demonstrado não estar pronto, sendo um pouco inconsistente em alguns momentos, Golovin mostrou credenciais para ser considerado um talento.

O jogador é, fundamentalmente, um meio-campista. Durante sua trajetória, já atuou pelo centro, em posicionamento mais avançado e pela esquerda. No Mundial, exerceu todos esses papeis em diferentes momentos dos quatro jogos em que defendeu a Rússia.

Aleksandr Golovin Russia
Foto: Getty Images
Por outro lado, na última temporada pelo CSKA, atuou quase sempre pela faixa central. Ora como meia ofensivo, ora como meia central. Chamou atenção, entretanto, o quão completo consegue ser seu jogo. Defensivamente, ofereceu boa contribuição. Nas partidas do campeonato russo, fez em média 1,4 desarmes e uma interceptação por jogo — além de 1,7 faltas.

Ofensivamente, chutou ao gol em média 2,1 vezes, e criou 1,5 chances. Em 27 jogos, acabou marcando cinco gols e criando três assistências.

É curioso notar que, em 2016/17, suas estatísticas defensivas eram melhores e as ofensivas piores (2,9 desarmes, 1,4 interceptações, 2,3 faltas cometidas; 1,7 finalizações e 1,3 chances de gol criadas — três gols e três assistências em 30 jogos). Isso tem tudo a ver com o posicionamento em que atuou nos diferentes anos.

Os passes e a habilidade para controlar a bola em pequenos espaços também são trunfos do jovem. Isso sem falar na aptidão para finalizar de média distância.

Golovin vem de duas temporadas muito sólidas. Parece pronto para dar sequência a seu desenolvimento; para dar o salto de qualidade, deixando o futebol russo. Apesar disso, escolheu a França como primeiro destino fora do leste europeu. Isso poderia parecer um movimento pouco ambicioso, caso o clube escolhido não fosse o Monaco.

Equilibrado em quesitos defensivos e ofensivos, Aleksandr deve assumir a posição deixada por João Moutinho. Isso significa atuar ao lado de Tielemans e mais um volante. Sabendo-se que a veia ofensiva do russo é maior que a do belga, o mais provável é que ele adote um posicionamento mais ofensivo, pelo centro e ligeiramente mais à esquerda. Isso porque para a ponta o time tem outras alternativas, acima de todos Rony Lopes, jogador de características mais próximas daquelas do vendido Lemar do que das de Golovin.

O russo mostrou na Copa do Mundo ter nível para atuar fora do contexto do futebol de seu país. Pelas credenciais que apresenta, parece uma contratação certeira do Monaco. Se o jogador conseguir se adaptar rapidamente, dando sequência a sua evolução técnica, os €30 milhões investidos em sua negociação deverão se pagar no médio prazo.

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