A adaptação e importância de Bernard ao Everton

Um dos clubes que mais provocou reações na última janela de transferências europeia foi o Everton. Havia, ali, apostas interessantes; jogadores de qualidade que despertavam questionamentos: como se adaptarão às exigências da Premier League? Como se amoldarão às ideias do treinador Marco Silva (então outra novidade). No caso do brasileiro Bernard, não raro criticado por seu desempenho na Copa do Mundo de 2014, as perguntas eram ainda maiores, muito em razão de suas condições físicas e de seu passado recente, atuando na Ucrânia. Entretanto, o jogador tem se saído bem.


Bernard Everton
Foto: Catherine Ivill/ Getty Images


Ainda há o que trabalhar, mas a titularidade já é realidade


Um dos principais receios que inevitavelmente decorreram da contratação de Bernard pelos Toffees foi sua condição física. Buscava-se saber se, com 1,64m e perfil franzino, o brasileiro suportaria os combates e a intensidade que caracterizam o Campeonato Inglês. De momento, pode-se dizer que sim. E que não.

Os embates com marcadores não têm sido um grande problema para o jogador. A velocidade no controle da bola e no raciocínio, evitando reter a bola por muito tempo, têm evitado que o jogador sofra com isso. Em média, tem recebido pouco mais de uma falta por partida (1,3).

Bernard Everton
Foto: Stu Forster/Getty Images
A outra questão, ligada à resistência, ainda está sendo trabalhada. Na Premier League, o jogador assumiu a titularidade na oitava rodada, em encontro contra o Leicester City, e não deixou mais seu posto, sempre na ponta esquerda, entregando a seu compatriota, Richarlison, a condição de centroavante do clube de Merseyside. No entanto, Bernard não completou um jogo sequer.

Por duas vezes, ultrapassou os 85 minutos de partida, mas ainda não conseguiu um jogo inteiro. Seu treinador já explicou que as substituições do atleta não têm tido apenas fundo técnico, ou tentativa de proposição de algo novo, mas também a questão física do brasileiro (que chegou ao clube após longa inatividade, tendo atuado por último com a camisa do Shakhtar Donetsk, seu antigo clube, em março).

Se a titularidade já foi alcançada e bem recebida pelo torcedor — que começa a se habituar com o camisa 20 e já o chama, carinhosamente, de Bernie — o primeiro gol ainda não saiu. Nada que anule o bom papel que vem sendo desempenhado, já com uma assistência consumada.

As funções táticas de Bernard


Para entender a importância de Bernard para a execução da ideia de Marco Silva, é preciso analisar sua atuação, ofensiva e defensivamente. Na frente, a análise é mais simples. O brasileiro tem se mostrado um jogador de fácil associação, sobretudo com o lateral esquerdo Lucas Digne, o meia Gylfi Sigurdsson e com Richarlison. 

Trocas rápidas de bola e movimentação constante são trunfos na desconstrução das defesas adversárias. Como são também seus dribles (um recurso utilizado sem abuso, apesar de haver partidas, como por exemplo a contra o West Ham, em que o atleta em jogadas desse tipo provocou três faltas punidas com cartões amarelos). Outra questão digna de nota é o fato de que o winger raramente vai à linha de fundo cruzar. Nesse sentido, o mais comum é o brasileiro partir da ponta esquerda para a zona central, abrindo o corredor para a passagem de Digne, o jogador que mais cruza da parte dos Toffees (2,3 vezes em média).

Defensivamente, seu papel é ainda mais crucial. O Everton tem se defendido em esquema tático 4-4-2. Pela esquerda, Bernard se junta ao volante Idrissa Gueye e ao meia André Gomes (pela direita é Theo Walcott quem faz o mesmo) e forma uma linha firme e difícil de ser batida. 

Chelsea Everton Rudiger Bernard
Foto: AFP
O registro de desarmes do jogador em média por partida não é tão representativo (1,2), mas há jogos em que é mais exigido e tem dado conta do recado. No clássico contra o Liverpool, foram três. Contra o West Ham, quatro. Na partida perante o Chelsea, registraram-se dois desarmes e três interceptações. É também por isso, que Bernard tem deixado o campo sempre esgotado. Seus constantes avanços e retornos exigem muito de seu físico, mas são seu grande diferencial, o que tem sido exaltado por Marco Silva.

O que tem sido dito sobre ele


Em outubro, quando Bernard começava a, de fato, ser integrado ao time titular, Marco Silva deixou claro que se tratava de um jogador que lhe agradava, por ter perfil diferente do de outros ponteiros: 

“Ele [Bernard] é um ponta com um perfil diferente, que pode nos dar coisas diferentes com a bola no último terço do campo [...] Eles [os jogadores] sabem que têm que trabalhar muito duro para ajudar nosso time sem a bola. Não é fácil jogar comigo. Não é fácil e o Bernard sabe disso”.

Ídolo do clube e antigo selecionável inglês, Leon Osman também elogiou o brasileiro em entrevista ao Liverpool Echo, fazendo coro ao que tem sido dito por torcedores em redes sociais: “Não tínhamos certeza a respeito do que o Bernard poderia nos oferecer, mas ele mostrou que é o tipo de jogador que precisamos [...] Um cara para partir da esquerda com malícia, habilidade e com boa leitura para o passe [...] Ele é uma verdadeira conexão entre meio-campo e ataque”.

As primeiras impressões a respeito do brasileiro têm sido boas. A entrega pelo coletivo e as qualidades individuais no ataque vêm gerando admiração nas arquibancadas. Aos poucos, sua imagem vai mudando e a característica “alegria nas pernas”, outrora lembrada de forma jocosa, vai voltando a ser vista como algo positivo.

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