O abrupto final da marcante passagem de Maxwell pelo Ajax

É cada vez mais comum a saída de brasileiros para o futebol europeu tão logo completam a maioridade. Em muitas dessas ocasiões, os garotos pouco ou nada atuam por seus clubes de origem, tornando-se estranhos aos olhos do torcedor nacional. A prática, no entanto, não é propriamente nova. Nesse sentido, o lateral esquerdo Maxwell acabou sendo um dos primeiros atletas de destaque a viver tal situação, deixando o Cruzeiro aos 19 anos e partindo para o Ajax.

Maxwell Ajax
Foto: ANP / Arte: O Futebólogo


Da base do Cruzeiro à titularidade do Ajax


Era vivido o ano de 2001, e Maxwell, um jovem lateral capixaba, procurava seu espaço no time profissional do Cruzeiro. A missão era ingrata, já que a ala esquerda celeste era dominada pelo argentino Juan Pablo Sorín. Esse período também ficou conhecido pela perícia dos mineiros no que diz respeito a vultuosas vendas para o mercado europeu: Fábio Júnior, Geovanni, Evanílson, Marcos Paulo… e Maxwell.

Sem ter feito um jogo sequer entre os profissionais da Raposa, o garoto fez as malas e partiu para uma aventura rumo ao inesperado. Sim, tratava-se do poderoso Ajax, que pagou US$ 3 milhões, conforme noticiou o Estadão. No entanto, já se tratava de uma equipe claudicante. Ainda que seguisse produzindo craques, os Godenzonen já ali haviam perdido a batalha contra o mercado, iniciada após a decisão do Caso Bosman, em 1995. Mas esta é outra história.

O tiro de Maxwell foi certeiro. Ao mesmo tempo em que ele chegou a Amsterdã, desembarcou no Aeroporto de Schiphol um certo talento sueco de nome Zlatan Ibrahimovic. Aliado a isso, o time trouxe sem custos Steven Pienaar de sua filial sul-africana e o egípcio Mido, do Gent. A base, por sua vez, forneceu Maarten Stekelenburg e John Heitinga. Eles se juntaram a Rafael van der Vaart e Christian Chivu. O projeto do treinador Co Adriaanse logo emplacou.

Maxwell Ajax Ljungberg Arsenal
Foto: Ajax / Arte: O Futebólogo
Já no primeiro jogo da temporada Maxwell foi titular, no que acabou sendo sua estreia como jogador profissional. O empate em casa com o Roda não foi propriamente uma boa notícia, mas uma vitória contra o grande rival e campeão vigente, o Feyenoord, já na terceira rodada — e em Roterdã  — tratou de colocar o time nos trilhos. Naquele ano, o amsterdameses acabaram vencendo 22 jogos e conquistando a Eredivisie. O brasileiro esteve presente em 24 dos 34 jogos do Campeonato Holandês.

Melhor jogador da Holanda


O título já na primeira temporada tirou o Ajax de uma fila de três anos, marcados pela dureza das perdas de jogadores como os irmãos De Boer e o goleiro Edwin van der Sar. Para Maxwell, a glória anunciou um futuro dos mais vitoriosos de um jogador brasileiro na Europa. O lateral assumiu em definitivo a titularidade e logo em sua segunda temporada chegou a marcar quatro gols, algo raro para alguém de sua posição.

A campanha de 2002-03 foi boa, mas terminou com gosto amargo. O Ajax somou 10 pontos a mais do que na temporada anterior, de título, e ainda assim ficou com o vice-campeonato. Implacável, o PSV do artilheiro sérvio Mateja Kezman, autor de assombrosos 35 gols no certame, fez um mísero ponto a mais que levou os louros para Eindhoven. Ainda assim, o ano esteve longe de ter sido um desperdício. Novamente, a base veio ao socorro dos Godenzonen: lhes ofereceu o talento de Wesley Sneijder e a força de Nigel de Jong.

Foi com esse poderoso time de jovens com qualidade e disposição de sobra que o Ajax imperou sobre a Holanda em 2003-04. Deixou o PSV comendo poeira em segundo lugar. E se a temporada foi especial para o clube, foi ainda mais para Maxwell. 

Ele se tornou o segundo brasileiro a ser eleito o melhor jogador da Holanda, em votação dos atletas profissionais das duas principais divisões nacionais, algo que só Romário havia conseguido, em 1989. Além disso, recebeu também a chuteira de ouro, prêmio semelhante, mas oferecido pelo jornal De Telegraaf e pela revista Voetbal International. A distância do lateral em relação ao futebol brasileiro pode não dar a dimensão do que foi sua carreira. Por outro lado, seus troféus e prêmios individuais não oferecem margem às dúvidas.


Em 2016, o testemunho de Ibrahimovic ao Daily Mail não deixou margem para dúvidas a respeito do que foi a figura Maxwell, com quem se encontraria mais vezes na carreira.

“Tive muitos problemas em Amsterdã no meu primeiro mês [após comprar um Mercedes]. Telefonei ao Maxwell e lhe disse que tinha problemas. Ele me ajudou. Contei-lhe que não tinha comida em casa e ele me disse para ir para a dele. Colocou um colchão no chão e vivi na casa dele até o Ajax me pagar meu primeiro salário [...] fiquei surpreendido por Maxwell ter se tornado um jogador tão bom, porque, em geral, as boas pessoas como ele não triunfam no futebol”.

Lesão e saída pelos fundos


O contrato então vigente entre Maxwell e Ajax expiraria ao final da temporada 2005-06. No entanto, o fim do especial liame entre atleta e clube acabou de forma prematura e triste. Primeiro porque os amsterdameses voltaram a perder o título de 2004-05, outra vez para o PSV e agora de forma mais chocante, terminando 10 pontos atrás, na segunda posição. 

Espere aí: o contrato não ia até 2005-06? Por que estamos falando de 2004-05? Simples, pois nas semifinais da Copa da Holanda desse ano, ele rompeu os ligamentos do joelho direito, acabando substituído por Urby Emanuelson. E então? O clube acabou eliminado, perdendo para o Willem II, e Maxwell não mais atuou com a célebre camisa do clube da capital holandesa.

Maxwell PSG Pastore
Foto: Franck Fife/AFP Photo / Arte: O Futebólogo
A gravidade da lesão de Maxwell o afastou dos gramados por mais de uma temporada inteira. Cientes disso e da proximidade do final do vínculo existente, clube e jogador chegaram a um acordo em janeiro de 2006 e anteciparam a rescisão, na medida em que o brasileiro despertara o interesse de outras equipes e, sabidamente, não permaneceria. O adeus nunca aconteceu. O que ficou foi a lembrança dos títulos obtidos, nos mais de 150 jogos disputados, e dos 10 gols anotados.

Na sequência, ele firmou com o Empoli por apenas seis meses. Isso porque a Internazionale não possuía espaço para mais um jogador extra-comunitário naquele momento, mas não deixaria passar a chance de contar com o brasileiro. Ele nunca atuou pelo clube da cidade homônima e, no início da temporada 2006-07, seguiu para Milão. Como dizem, o resto é história, como não deixam margem para dúvidas suas trajetórias, no futebol italiano, depois no Barcelona e, ao final, no Paris Saint-Germain.

Comentários

  1. Foi um ótimo jogador! Texto pontual e importante pra ressaltar um pouco da história desse cara.

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