Liderada por Alaba, Áustria renasce

Como nunca, a corrente edição das Eliminatórias para a Euro 2016 tem mostrado um grande número de equipes surpreendentes. Está mentindo aquele que diz que não está admirado com os recentes feitos de equipes como Islândia, País de Gales ou Noruega. Além delas, um time que podia ter mais tradição no futebol está se reerguendo: a Áustria, do polivalente David Alaba, craque titular do Bayern de Munique.



No passado, a Áustria já teve o que contar quando o assunto foram Copas do Mundo. Quarta colocada em 1934 e terceira vinte anos depois, os austríacos já foram uma das grandes forças do futebol mundial. E poderiam ser ainda mais influentes se a nação não tivesse sido gravemente submetida ao regime nazista de Adolf Hitler. O ano de 1938 poderia ter consagrado aquele que é considerado por muitos um dos melhores times desafortunados em Mundiais, ao lado da Hungria, de 1954, e da Holanda, de 1974. Todavia, a equipe sequer disputou a competição que se realizou na França.

Anexada pela Alemanha, a Áustria viu o Wunderteam (Time Maravilha) se esfacelar e seu craque maior, Matthias Sindelar, negar-se a vestir a camisa germânica e falecer em 1939, sem que as nuances de sua morte tenham sido devidamente esclarecidas (a versão oficial revela um envenenamento por monóxido de carbono). Após tal fato, com o fim da Segunda Guerra Mundial, a Áustria se separou da Alemanha, e, como dito, disputou a Copa de 1954. Posteriormente, voltaria a entrar em campo nos Mundiais de 1958, 1978, 1982, 1990 e 1998, todavia sem o grande destaque dos primeiros torneios.

A despeito disso, um fato curioso é o histórico insucesso do país quando o assunto é a Eurocopa. Com a bola no chão, a Áustria jamais havia se classificado para a disputa da competição continental. Sua única participação aconteceu na edição de 2008, quando, junto com a Suíça, sediou o evento. Tal quadro acaba de se modificar, uma vez que na última terça-feira (08), os austríacos golearam a Suécia de Zlatan Ibrahimovic e se classificaram para a Euro 2016, que acontecerá na França. E a campanha tem sido brilhante.

Confira também: O que a Islândia tem?

Com sete vitórias e um empate (justamente contra a Suécia), em oito partidas, o time tem surpreendido e, embora não conte com grandes craques, tem seu sucesso facilmente explicado.

Com um meio-campo que alia boa técnica a uma ótima qualidade nos passes, a Seleção treinada por Marcel Koller, ex-jogador da Seleção Suíça, mostra uma impressionante consciência tática e tem pontos fortes muito bem definidos. A defesa é sólida, o meio-campo controla bem o jogo e no ataque as bolas aéreas direcionadas ao grandalhão Marc Janko (foto) são extremamente eficientes. Além de tudo isso, a equipe conta com o “fator Alaba”.

Lateral-esquerdo, zagueiro, volante, meia-armador ou ponta-esquerda, o multifuncional jogador, de apenas 23 anos e queridinho de Pep Guardiola no Bayern de Munique, é a grande estrela da companhia, um jogador em quem os companheiros aprenderam a confiar e que tem sido crucial nos sucessos austríacos. Por seus pés passa grande parte da construção das jogadas da equipe, com sua movimentação o jogo flui e de sua bola parada muitos gols saem.

Mas nem só de Alaba vive a Áustria. Há na defesa o ótimo Aleksandar Dragovic, defensor extremamente seguro e que, antes de deixar o Basel e partir para o Dynamo de Kiev, foi cortejado por grande parte dos clubes europeus; na lateral-esquerda o experimentado Christian Fuchs, capitão austríaco; no meio-campo os talentosos Martin Harnik, Zlatko Junuzovic (foto) e Marko Arnautovic; e na frente a citada referência de Janko, artilheiro da equipe (ao lado de Alaba) com quatro tentos em sete jogos.

Percebeu algo de curioso nos sobrenomes citados? Espero que sim. Um dos fatores apresentados por analistas para o ressurgimento austríaco passa pela origem dos jogadores e pelos acontecimentos geopolíticos da Europa do final do século XX. Com os desmembramentos de Iugoslávia e União Soviética, muitas famílias emigraram para outros países e a Áustria foi uma das nações que mais receberam refugiados. Alguns jogadores nasceram em outros países e chegaram cedo à Áustria e outros já nasceram no país, filhos de pais das nações conflituosas.

Essa é a história de personagens como Dragovic, Junuzovic, Arnautovic e até mesmo de Alaba, cuja origem não é europeia (o craque é filho de uma filipina e um nigeriano), mas é fruto de imigração.

Assim, comandada por Alaba (foto), a equipe vem passando o rolo compressor por cima das tradicionais equipes da Rússia e Suécia e das medíocres Montenegro, Liechtenstein e Moldávia. O jogo austríaco é agradável e vem sendo exitoso, mas a verdade é que o renascimento da seleção é uma novidade e uma surpresa – a qual nós brasileiros pudemos presenciar no ano passado, quando a Áustria teria conseguido um empate com a Canarinho, não fosse um petardo de Roberto Firmino.

Classificada para a Euro 2016 e com a liderança do grupo assegurada, a Áustria é uma equipe para ficar de olho, uma grande surpresa comandada por um garoto que é filho de uma filipina com um nigeriano, nasceu em Viena e atua em Munique.

Comentários

  1. To impressionado com a quantidade de matérias boas nesse blog, sempre textos bem escritos e agradáveis de se ler.

    Um abraço.

    ResponderExcluir

Postar um comentário

Agradecemos a sua contribuição! ⚽