Para sair da sombra do rival: a boa temporada do Vitória de Guimarães

A dinâmica da história do futebol português é extremamente fácil de entender, pois é marcada pela alternância de glórias nas mãos de três grandes potências – Benfica, Porto e Sporting. Tal realidade é confirmada pelo fato de que, em todos os tempos, apenas Belenenses e Boavista, em uma ocasião cada, conseguiram tirar o título do Campeonato Português das mãos do “Trio de Ferro”. Nos últimos anos, contudo, uma equipe ascendeu e ameaçou integrar tal rol. Vindo da região do Minho, o SC Braga acumulou boas campanhas e, com isso, acabou impulsionando a evolução de seu grande rival, o Vitória SC, da cidade de Guimarães.


Vitória SC Guimarães 2016-17


Desde 2003/04, o Braga só deixou de estar entre os cinco primeiros colocados do Campeonato Português em duas ocasiões. O clube alvirrubro se afirmou como a quarta força do país, chegando a ser vice-campeão em 2009/10 e terceiro colocado em 2011/12. No período, venceu uma Taça de Portugal e também uma Taça da Liga.  Não há dúvidas de que o clube por onde passaram os treinadores Leonardo Jardim, Jorge Jesus, Paulo Fonseca e Domingos Paciência se estabeleceu e afirmou.

Hernâni Vitória GuimarãesNa contramão, no mesmo período, o Vitória viu de longe seu rival fazer boas campanhas. Durante esses anos, chegou a ser rebaixado à Segunda Divisão e em apenas uma ocasião terminou o torneio nacional à frente dos Arsenalistas (em 2007/08); situação que pode se repetir em 2016/17. Por ser oportuno, vale mencionar, que em 2012/13 a equipe conquistou a Taça de Portugal.

Atualmente, o time comandado pelo jovem Pedro Martins, ex-jogador do próprio clube, ocupa a quarta colocação do Campeonato Português, possuindo cinco pontos de vantagem em relação a seu rival.

Do lado alvinegro da rivalidade minhota, a tabela de classificação do Campeonato Português até indica um clube que não é primaz na tarefa de evitar gols; mas não deixa dúvidas de que existe um ataque em grande fase.

Com uma linha de frente que só marcou menos vezes que Porto, Benfica e Sporting, o clube tem dado muitas alegrias a sua claque. É fácil apontar duas de suas peças como as mais produtivas do setor: o luso-cabo-verdiano Hernâni e o franco-malinês Moussa Marega.

Contratado para o time B Vimaranense em 2013, o primeiro é um jogador que sempre se destacou pela qualidade nos dribles e velocidade na condução de bola. É um tradicional ponta. Após sua subida à equipe principal do clube, ganhou tanto destaque que chegou a ser negociado com o Porto. No entanto, após performances ruins, foi emprestado ao Olympiacos e retornou, nesse ano, a Guimarães, onde voltou a viver ótima fase. Em 2016/17, tem 10 gols e cinco assistências, em 28 partidas.



Por sua vez, Marega é jogador mais agudo e, embora também atue pelo flanco, fica mais próximo do gol adversário. Contratado pelo Marítimo em 2015, após se destacar com a camisa do Espérance, da Tunísia, brilhou com a camisa verde-rubra e carimbou seu passaporte para o Porto. Contudo, semelhantemente ao que se passou com Hernâni, não foi bem e foi logo chegou a Guimarães. Na temporada, já anotou 13 tentos e criou quatro assistências, em 28 encontros.

Há outros jogadores com destaque na equipe, como são os casos do meio-campista peruano Paolo Hurtado, que também tem tido importante prestação à frente das balizas rivais, tanto com gols quanto com assistências, o goleiro brasileiro Douglas, ex-Santos, e o lateral direito Bruno Gaspar, de extensa passagem pelas equipes de base da Seleção Portuguesa. Entretanto, no fim do dia, os maiores destaques são seus dois atacantes já mencionados.

Tiquinho Soares Francisco Vitória

É importante salientar, que mesmo tendo perdido seu maior destaque na temporada, o goleador brasileiro Francisco Soares, outro que mostrou excelente desempenho no Estádio D. Afonso Henriques e partiu para o Porto, o clube se manteve em alta. Tiquinho deixou o clube tendo acumulado sete gols em 16 encontros e permitiu ao clube acordo com os Dragões, prolongando os empréstimos de Hernâni e Marega.

“Sabemos da importância dos dois meses que vamos ter pela frente. Estamos focados e sinto uma enorme vontade de toda a gente em querer estar nestas finais que vamos ter pela frente. A equipe está preparada. Temos toda a gente disponível [...], bem a todos os níveis e com enorme vontade de querer fazer uma grande ponta final“, disse o treinador Pedro Martins em entrevista coletiva concedida em 29 de março último.

Na temporada inteira, o Vitória tem apenas seis derrotas, valendo fazer menção ao fato de que metade delas foi contra Porto e Benfica.

Com um estilo de jogo ofensivo, de muita velocidade e aposta em contragolpes, protagonizou partidas interessantíssimas, até mesmo em empates, como nas rodadas 7 e 25 – contra Sporting e Estoril –, nas quais o 3x3 foi o placar sinalizado. É mesmo importante perceber que o time não mostra receio ao enfrentar equipe alguma e raramente muda sua forma de jogar. No momento, acumula nove rodadas de invencibilidade.



Se o inédito título do Campeonato Português é impossível nessa temporada e no curto prazo – a supremacia do “Trio de Ferro” é ainda muito grande – o prêmio para a equipe pode vir na Taça de Portugal.

Os Vimaranenses estão na final da competição e enfrentarão o Benfica; é como dizem: em 90 minutos, tudo pode acontecer. A conquista seria a glória máxima para o clube, que, para além de gozar do prazer do êxito, teria mais uma razão para zombar de seu maior rival. O que mais pode querer uma equipe de fora do eixo dos maiores de Portugal?               

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